▸Capítulo 6

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Taehyung chegou atrasado, e mesmo tendo notificado a escola que não conseguiria chegar à tempo, ele ainda se sentia um fracasso como ser humano e professor por não conseguir obedecer a agenda no primeiro dia. Era uma falta grave que ele não cometia!

Depois do quanto passou mal em casa, o rapaz se deu dez minutos para deitar e se acalmar antes de sair. Ele não estava se sentindo bem, mas não queria ligar para a escola e avisar que não ia. Também não queria sair de casa se sentindo tão péssimo que parecia prestes a desmaiar.

Foi uma manhã estressante. Chegar na aula e ver todas aquelas crianças pequenas o fazia lembrar de Sori, e seu estômago revirava ainda mais, afundando em si mesmo. Mas com um sorriso no rosto e muita abstração, ele começou selecionando o conteúdo da primeira aula e se apresentando para os novos coleguinhas, e não pode deixar de notar que havia um entre eles muito familiar. No final da aula eles fariam dinâmicas junto com a chamada, e então seria a vez das crianças se apresentarem.

Taehyung não sabia se eram os dentes, o nariz ou os olhos - ou todos, mas ele já tinha visto aquela mesma carinha em algum lugar.

— Muito bem, crianças. Algum de vocês tem dúvidas?

As crianças fizeram cara de paisagem, claro. Como todas as vezes em que Tae fazia esse tipo de pergunta. Mas uma delas, o menino novo, levantou a mão timidamente e fez um bico ao perceber que foi o único que não entendeu.

— Fale, Seo Joon.

— Posso depois? - O rapazinho abaixou a mão devagar, e sua expressão hesitante deixou Tae curioso.

— Claro que pode, Seo Joon. - Disse ao rapaz, depois virou-se para os outros. - Sentem em círculo. Como se faz um círculo, amores?

E a turma o obedeceu prontamente. Uns esbarrando em outros, mas rapidinho fecharam um círculo.

— Isso. - O professor sentou de pernas de índio no meio deles, depois tirou do jaleco um saco de pequenos chocolates. - Vamos fazer uma brincadeira.

Os alunos pareciam contidos, mas suas expressões infantis denunciavam que estavam alvoroçados. Uns estavam de olhos gigantes, outros roendo um dedo inteiro e ainda outros sem conseguir parar de arrumar o bumbum sentados no chão.

— Eu quero cores. - Após ter dito isso, como ele já esperava, a turminha inteira levantou a mão e começou a gritar "eu" desesperadamente. - Não. Vamos de um por um, abaixem.

E assim como o griteiro começou, ele terminou. Taehyung amava lecionar e achava que tinha um dom para as crianças, mas era a sua maldição. Cuidar de crianças que não eram suas.

Só esse pensamento o deixou profundamente mexido, e isso refletiu na expressão das crianças, que esperavam vê-lo as desafiando, com uma expressão de esperteza.

— Professor, você tá tristinho?

A menininha chamava Park Min Nari, mas ele a chamava carinhosamente de Naná. Ela tem cabelos levemente ondulados e castanho escuro, olhos tão escuros quanto os cabelos. No momento, duas trancinhas que de cada lado do rosto impedem seu cabelo longo de atrapalhá-la, mas as tranças estão tortas e ele tem certeza que é obra de Min Yoongi.

— Não, Naná. Tô muito feliz. - Tae sorri para ela, mas é claro que o sorriso não alcança os olhos. Como é que ele vai dizer para uma criança que não está triste, mas sim agoniado? - Vamos começar? - Ele não espera resposta dos pequenos, porque sabe que eles querem que comece logo. - Eu quero o número sete, onze e treze de pé.

Victor, Yon e Suk estão de pé imediatamente. Taehyung olha para os três devagar.

— Eu quero que vocês peguem um objeto laranja e um roxo.

Os três arregalam os olhos. Victor olha ao redor da sala antes de correr, observando o estojo de um coleguinha em cima da mesa. Yon é esperta e corre para a lousa, tateando onde não alcança na parte plástica da lousa pelos canetões, pois um é roxo. Suk tira o próprio tênis roxo escuro, oferecendo ao professor.

Taehyung sorri. Ele gosta quando os alunos acham algo inusitado.

— Dois, cinco, nove e doze. Quero um item amarelo e um vermelho.

Uns pegam canetões, outros tiram o próprio tênis, mas pelo menos ele obtém objetos diferentes.

— Um, seis e dez, quero um objeto verde.

Gi e Iseul estavam preparados, mas Seo Joon parecia perdido com alguma coisa. Taehyung ergueu a sobrancelha, estranhando a atitude. Pegou da pastinha que estava em seu colo a chamada, pensando que talvez por ser novo, Seo Joon estava sem entender.

Número seis.

Jeon Seo Joo.

Jeon...

Ah, Deus.

Jeon.

Quantos Jeon existem, não é? Vários.

Mas a semelhança. O narizinho, os olhos grandes, o nariz...

— Eu não sei como é verde. - O menino disse baixo, expressão triste.

Taehyung pareceu acordar, porque ele foi levado de volta à dois meses atrás, no seu chalé, na sua cama.

O Kim suspirou, erguendo os braços para que Seo Joon viesse para perto.

— Verde é isso aqui. - Com delicadeza, Taehyung recebeu o menino em seus braços e apontou para o jaleco de professor que vestia. - Aqui é meu nome. Taehyung. - Leu, apontando para as letrinhas bordadas em verde. - E é verde.

O menino fez um bico, subindo os olhos do jaleco para os do professor.

Tão iguais...

— Não. - Negou com a cabeça, os olhos tristes. - Marrom!

Taehyung franziu o cenho.

— Não, meu bem. Esse é marrom. - Apontou para a presilha de laço de camurça na cabeça de Ann, e a menina assentiu. Seo Joon pareceu concordar. - E esse, - pegou no tênis de Victor. - é verde.

O bico de Seo Joon voltou, e ele negou com a cabeça. O cabelo tigelinha batendo na lateral do rosto de Tae, porque ele sentado ficava quase na altura da criança. Seo Joon era um pouco mais alto.

— Não, professor.

Taehyung engoliu saliva com dificuldade. Os alunos já tinham até parado com as buscas, olhando a interação com curiosidade.

Naná, no entanto, levantou da roda devagarzinho, e só voltou para ela quando achou quatro itens verdes diferentes, em tons diferentes.

Mas o menino começou a chorar.

Taehyung o abraçou. O menino imediatamente procurou conforto no pescoço de Taehyung.

— Por que vocês estão mentindo pra mim?

A classe parecia um pouco assustada, e por isso, Tae pediu com o dedo na boca que todos fizessem silêncio, depois apontou para as mochilas para que fossem guardar os materiais. Elas foram desapontadas, provavelmente por conta do chocolate, mas foram quietas.

Naná ficou, segurando as coisinhas que pegou com uma cara culpada.

— Não, meu amor. Não estamos. - Tae acariciou suas costas de cima a baixo, mas ouviu Naná suspirando pesado. Abriu também os braços para ela, mas foi abraçado por todas as crianças, que pareciam tão tristes quanto Seo Joon sem ter ideia do motivo.

Se o perguntassem porque ele também chorou, Tae não saberia responder tão cedo. Seu humor estava completamente em frangalhos e ele logo tentou parar, porque não havia motivo para aquilo.

— Vamos arrumar a sua bolsa, Seo Joon?

Jeon Seo Joon... 

Taehyung não queria pensar em Jungkook. Ele não podia estar emocionalmente ligado a um cara por causa de uma noite.

O menino fungou, assentindo em seu pescoço mas sem soltá-lo. 

Ele queria tanto que fosse Sori...

— Professor. - Ele sussurrou. - Eu não sei como é verde.

Begin -- jjk+kthWhere stories live. Discover now