Nervosa e começando a sentir vertigem por causa da altura, ela chorou. Agarrando seu pescoço com força, fazendo-a engasgar, abaixou o rosto para falar em seu ouvido.

— Acha que estou brincando com você, Bárbara? Alguma parte do seu inconsciente ainda se lembra dos detalhes que você diz ter esquecido... E esqueceu logo das partes que eu me interesso saber. Não é estranho?

Ela sacudiu a cabeça sentindo os olhos úmidos.

— Seu passaporte escapou intacto, mas todo o resto se queimou no carro.

Era evidente que esperava alguma reação dela diante daquelas informações, mas Bárbara estava assustada e com medo de dizer algo. Com raiva ele puxou seu cabelo com força para trás, fazendo as lágrimas caírem ainda mais.

— Muito conveniente que tudo tenha se queimado no acidente, não? — ele disse apertando mais forte seu pescoço. — Como acha que o celular, contendo fotos recentes do Pedro, escapou do incêndio? Por que caralhos o celular não estava dentro do carro para queimar igual ao resto? Por que seu passaporte não queimou? Sem dúvida o lugar certo para um  passaporte seria estando dentro da mala com todos os seus outros objetos pessoais, não?

— Por que está me dizendo tudo isso? — Bárbara finalmente conseguiu dizer entre dentes, olhando para ele em completa agonia.

— Eu avisei que vou descobrir o paradeiro do meu filho. — Ele tinha os olhos duros e enervados. — E alguma coisa me diz que o carro caiu no abismo como parte de um plano, e você foi burra de cair como uma  presa em sua própria armadilha. Você, provavelmente, não se importa nem um pouco com Júlia, mas não consigo vê-la arriscando a própria vida... é o que me confunde.

— Eu não sei de nada disso, Thiago! — repetiu cansada, tentando passar sinceridade na esperança que ele cedesse de alguma forma. O aperto em seu pescoço afrouxou, mas ainda podia sentir a garganta queimar. — Não sei responder. E é horrível você me dizer que eu seria capaz de arriscar a vida de minha própria filha, sem me importar com isso!

Sem se convencer com o discurso, ele a soltou fazendo com que ela se inclinasse para frente e quase, quase caísse no abismo.

— Vamos embora. Já perdi tempo demais com você hoje.

Deu-lhe as costas e saiu caminhando do modo altivo de sempre. Humilhada, o seguiu, tonta, com a garganta ardendo, esforçando-se ao máximo para engolir o choro e subir no carro alto, desta vez, sem nenhuma ajuda.

Sua mente se recusava a funcionar direito enquanto concluíam a viagem

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Sua mente se recusava a funcionar direito enquanto concluíam a viagem. Ela não tinha dito nada, apenas sofria de agonia silenciosa. A beleza da paisagem do vale que se estendia lá embaixo era excepcional, mas sequer dava importância, concentrada em sua dor. As acusações dele somadas a violência a feriram como garras! Achava tudo muito estranho e errado. Desconfiava que o marido não era o que pensava ser. Achava-o violento demais para seu gosto e desconfiava que talvez por isto, o relacionamento entre eles não havia dado certo. Olhou para o retrovisor e enxergou os olhos do homem que dirigia.

Porque ele simplesmente não fizera nada? Não tinha compaixão? — Questionou-o silenciosamente com os olhos, mas ele apenas desviou o olhar, se concentrando na estrada sinuosa à frente.

Encarou a paisagem,  percebendo que nada lhe restava se não recuperar a memória e provar que aquela história toda era um grande engano. Pelo menos era o que devia ser. Todas as acusações pareciam fugir do que ela realmente era e não se encaixavam. Sua cabeça nunca aceitava o que lhe diziam. Mas como ter certeza do que era real? Como distinguir as informações que lhe diziam?

Bárbara piscou os olhos tentando deter as lágrimas que escorriam pelo rosto. Endireitou o corpo, controlando as próprias emoções e, naquele momento, resolveu que não ia permitir jamais que o homem ali do seu lado, a abatesse.

Respirou fundo e se concentrou, tentando recobrar algo que a ajudasse, mas bateu de encontro à parede sólida de sua amnésia e enrijeceu. Lutando com a raiva e com a frustração, estava cega à beleza do local pelo qual o carro passava, e cega também para a atenção concentrada com que Thiago discretamente a observava. Nada escapou aos olhos negros: sua depressão, seu desânimo diante da situação insustentável e, depois, a força da decisão de reagir.

Algum tempo depois, sentiu-se exausta do esforço tal que fazia e desistiu temporariamente de recobrar a memória. Foi quando o carro fez uma curva e, bem diante deles, o vale lá embaixo se estendia num tapete glorioso de cores: ferrugem, dourado, vermelho, marrom, suavemente agitado pelo vento de outono. Extasiada, esqueceu por um segundo de seu flagelo e deixou escapar um suspiro maravilhada, sem notar que estava sendo estudada. Thiago analisava cada expressão sem desgrudar os olhos de seu rosto. Era evidente o prazer que ela demonstrava.

Bárbara apoiou as duas mãos no vidro fechado do carro, olhando com atenção para a paisagem, deslumbrada com a beleza de tudo aquilo. Decidida, abaixou alguns centímetros da janela do carro respirando fundo o ar puro.

Cheira tão bem! — comentou baixinho.

Para sua surpresa, Thiago pareceu escutar, afinal, sua reação foi fazer um som meio zangado. Levou um susto, afinal, para ela, o homem se mantivera o tempo todo compenetrado no celular. Não sabia que estava atento

Ignorou, sabendo que dali em diante aquela seria a melhor forma de lidar com as provocações dele. Ia continuar sua vida, lutando bravamente para sobreviver às investidas violentas da melhor maneira possível, afinal, tinha acabado de perceber que tomar uma atitude, podia piorar e muito sua situação. Tentaria controlar sua própria natureza, a ponto de fazer exatamente o que ele exigisse e não criar problemas de espécie alguma. Ia rezar todos os dias para sua memória voltar, para fazê-lo engolir todas aquelas acusações, que certamente, não podiam ser verdadeiras.

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Ps: Próximo capítulo é a chegada de Bárbara na casa. Volto no domingood. ♥️

A Dama Sem Nome: Um Romance da Máfia- NOVA VERSÃO 2023Onde as histórias ganham vida. Descobre agora