Capitulo 14 - Depois da tempestade vem a bonança

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Não havia nenhuma forma, nenhum plano genial onde roubar-lhe as chaves fosse plausível mas também não havia nenhum plano de fuga possível que não envolvesse o carro dela.

- Sabes ligar um carro? - Perguntou a Sonya.

Despertei da minha discussão interior e lentamente processei a pergunta. Ligar um carro? No exacto momento em que a ia questionar, o meu cérebro desidratado deu o "clique", a Sonya referia-se a ligação directa.

- Tecnicamente sei como o fazer mas nunca o executei.

- Agora seria uma excelente oportunidade de o experimentares.

- Primeiro obstáculo antes desse: como partir um vidro temperado? - Enfatizei.

- Enrola o casaco no cotovelo e dá um murro no vidro. Não vai partir mas vai estilhaçar, depois mandamos umas pedradas e chegamos ao botão de destrancar, no braço da porta.

Relutante despi o casaco e num torniquete enrolei-o. Calculei mentalmente a distância e força necessária, ou melhor tentei; ao fim de alguns segundos desisti limitando-me a executar. Ao fim do terceiro golpe o vidro transformou-se num puzzle de mil peças quando coladas, o ruído não demonstrava o que fazíamos, pelo menos não até ali, mas quando a Sonya atirou a primeira pedra, que passou a milímetros da minha orelha esquerda, parecia uma explosão. Se aquele sítio fosse realmente povoado certamente que veríamos todas as janelas abrir e cabeças curiosas. Mas em vez disso só recebemos um olhar, exactamente aquele que queríamos evitar. A Annie fitava-nos com um ar intrigado e talvez até curioso. Na sua cabeça pairava algo do género - O que raio? - E a tensão era palpável.

Como não esperávamos que o vidro caísse com a primeira pedra a Sonya tinha outra preparada, a única coisa que vi foi a Annie tombar e uma pedra ensanguentada à sua beira. Olhei imediatamente para a Sonya que arqueava do efeito desvanecido da adrenalina.

- Para que foi isso? - Guinchei.

- Era ela ou nós. Portanto apenas fiz aquilo que já devíamos ter feito.

O tom da sua voz assustou-me, era igual ao que a Annie utilizara horas antes.

Cathy

Piquei os olhos algumas vezes habituando-me à luz intensa que furava as densas copas das árvores. Lentamente sentei-me apoiando-me numa mão, a relva estava húmida e viscosa. Curiosa desviei o olhar para lá. Sangue. Levei as mãos à cabeça e arqueei de dor.

- Cathy!

Vi o Bryan correr na minha direcção.

- Estou bem... Apenas um pouco dorida. - Forcei-me a responder ao ver a sua expressão preocupada.

- Graças a Ra. - A expressão de alívio no seu rosto distraiu-me por momentos de todo aquele cenário.

Mas rapidamente fui arrancada para o mundo real quando me deparei com a Annie estendida no chão com um poça vermelha viva como almofada.

- O que se passou aqui?

- Digamos que alguém aperfeiçoou as suas capacidades no lançamento de pesos. - Disse rindo-se e apontando para a Sonya.

- Não está morta, está inconsciente. - Cuspiu a Sonya. - Mas posso acabar o serviço.

- Wow. Na minha ausência alguém ficou agressiva.

O silêncio que se abateu sobre nós tornou o ambiente constrangedor; como se houvesse ali uma verdade demasiado sombria para ser verbalizada. Não interessavam os acontecimentos que se seguissem, havia algo em nós que havia mudado para sempre.

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