Dr. Leonardo abaixou a cabeça, envergonhado, mas depois sacudiu em afirmação, concordando com alguma relutância.

— Thiago é bem... ameaçador — ele concordou parecendo escolher a palavra certa. — Mas posso lhe garantir que tem boas razões para estar furioso, apesar de você não se lembrar de nada.

— O que foi que eu fiz de tão terrível? — Com o choro, o maxilar doía, os dentes doíam e seus olhos perdiam o foco. Sentia uma enorme vontade de fechar os olhos e mergulhar no sono. No entanto, mais que tudo isso, precisava descobrir porque aquele homem a odiava tanto.

— Quem é essa criança que ele tanto quer saber o paradeiro? E porque eu tenho que dizer onde ele está? Quem é Pedro? Eu não conheço nenhum Thiago Guerra! Tenho certeza absoluta que nunca o vi antes em toda minha vida!  — Ela soluçou, começando a chorar de desespero. — Como poderia ter feito algo de mau para os filhos dele?

— Calma, Bárbara. Não adianta nada ficar nervosa...— o médico suspirou, acariciando sua mão. —Você sofreu um grave acidente de carro, onde o automóvel caiu de um penhasco e explodiu lá embaixo. Você e uma criança foram jogadas para longe com a força da explosão. A menina, Júlia, foi encontrada entre seus braços. Você a estava protegendo. Ela está aqui no hospital e logo receberá alta. É filha de Thiago, e tem um irmão gêmeo, Pedro. Eles foram raptados três anos atrás, quando ainda eram bebês. — Ele pausou a fala para inesperadamente perguntar. — Você sabe onde está Pedro, Bárbara?

A mulher chorosa encarou horrorizada o médico que a olhava atento. Sua mente dava voltas e mais voltas. Parecia que ela era uma terceira pessoa ali, assistindo tudo através de outra perspectiva. A pergunta dele não combinava com ela! Parecia tão irreal que a chocava!

— Que horror! Eu?? mas... — O murmúrio morreu em seus lábios quando ela começou a entender. — Você... vocês dois acham que eu levei as crianças?!

— Alguém levou, Bárbara. Thiago não soube deles por quase três anos inteiros...e agora acontece isso. — Ele olhou profundamente nos olhos dela. — Você desapareceu com eles, por isso é óbvio que você tem muita coisa a ver com o desaparecimento das crianças. E tem que admitir que essa suposição era correta... Se não, como explicar seu retorno agora, com Júlia nos braços? Que outra razão haveria de você não estar com Dominic Lang? Ele é a pessoa que Thiago tem mais motivos para desconfiar!

Soltando sua mão, o médico se levantou agitado e caminhou pelo quarto. Voltou então, olhando-a com firmeza.

— Dominic Lang, era o responsável pela importação e exportação dos negócios da família, e também ajudava a controlar boa parte dos trâmites com outros capos e chefes. Thiago descobriu que ele estava desviando alguns milhões e quando saiu para caçá-lo, você e os gêmeos desapareceram logo em seguida. O que é que está havendo, Bárbara? Onde está Pedro? — De repente, Nanderitti curvou-se sobre ela quase tão ameaçador quanto o outro homem. — Thiago foi muito desmoralizado, e nenhum de nós achamos que o chefe merece isso vindo de você.

Ela olhou bem para o médico e achou ter ouvido errado aquelas palavras. Não seria possível que ela caísse justamente em um lugar onde as pessoas tinham uma espécie de irmandade! Thiago também era médico para que Leonardo Nanderitti o chamasse de chefe? Mas e se fosse médico, que negócios eram esses que envolviam milhões? Sem mais saber o que pensar, sacudiu a cabeça, confusa, dolorida.

— Não sei de nada — disse. — Não me lembro de nenhuma dessas pessoas, de nenhum desses fatos e essa informação toda parece irreal demais!

Ela fechou os olhos e as lágrimas correram por sua face. Se Thiago achava que ela havia feito aquilo tudo, tinha de fato razão para odiá-la. Era compreensível que um pai agisse daquela forma com alguém que o tivesse feito sofrer tanto através dos filhos. Mas não conseguia lembrar de absolutamente nada...

Por que a filhinha dele estava ao lado dela na hora do acidente? — A pergunta que não queria calar.

Apesar de tudo o que o doutor tinha dito, ela rejeitava a possibilidade de estar envolvida no sequestro. Era uma ideia que a repugnava. Tinha que haver outra explicação para tudo aquilo. Podia compreender a preocupação do médico, no entanto, precisava descobrir mais, apesar da dor de cabeça que quase a impedia de pensar.

— Eu... eu trabalhava para ele... para Thiago? Era babá das crianças, é isso? Foi por isso que ele me responsabilizou pelo horrível... — Um soluço a sacudiu. — Isto é horrível!

Chorou convulsivamente. Não tinha dúvidas de que o homem a seu lado acreditava que havia sido capaz de fazer tudo aquilo. Nanderitti olhou-a atentamente, e não respondeu.

— Não se lembra de mim também, Bárbara?

— Não.

— Digamos que já nos conhecíamos antes. — Ele disse, as palavras misteriosas.

— Não! Impossível! — Ela abriu os olhos imediatamente, perplexa. — Eu me lembraria disso! — Riu de maneira amarga.

— Eu sou amigo do Thiago. —  A frase era seca, sem expressão. Os olhos dele brilharam de repente.— Você é esposa de Thiago, Bárbara. As crianças eram seus filhos. Seus e de Thiago.

A informação a fez parar por um momento e suspender a respiração, mal podendo acreditar no que o médico dissera. Com o impacto de todas aquelas informações, e o cansaço acumulado, desmaiou.

A Dama Sem Nome: Um Romance da Máfia- NOVA VERSÃO 2023Where stories live. Discover now