Exibindo a beleza única que tinha, a mulher de cabelos longos e pretos, olhos azuis, lábios cheios e extremamente sensual, encarava-o na foto, como se o desafiasse a dizer algo. O passaporte era expedido pelo governo brasileiro em nome de Bárbara Lima, com estado civil de casada. No outro passaporte a foto da menininha de três anos, olhos grandes e pretos, como os dele e cabelos lisos e pretos, como os da mãe. Júlia.

Havia sido notificado assim que elas puseram os pés na Calábria, e desde então, cada passo foi monitorado por ele. Entretanto, ninguém pôde prever o que aconteceria, e era o que mais o espezinhava, afinal, soubera exatamente a hora em que o carro caiu no barranco.

— Senhor Guerra, não encontramos mais nada. — Um de seus homens interveio.

Thiago Guerra, encarou o passaporte com tamanho ódio que sentiu o sangue pulsar. Nos primeiros dias sequer pisou na ala do hospital para ver a situação de Bárbara. Sua preocupação era sempre direcionada a Júlia, a garotinha. Sua presença no hospital era constante e dedicada, adentrando sempre com o rosto sombrio enquanto observava a evolução da filha, do qual se recuperava paulatinamente.

Todos os dias, ele ia do céu ao inferno ao se deparar com alguma situação crítica relacionado a saúde da menininha, sentindo de perto o ímpeto de ir até a outra ala e matar Bárbara sufocada ou desligando os aparelhos que a mantinham viva. Quer fossem os meios, ele queria vê-la morta.

Por fim, com o passar dos dias, a pequena garotinha apresentou melhoras significativas e sem lesões permanentes. Como um pai atencioso que era, Thiago levava presentes e aos poucos ia conquistando a confiança da garotinha cada vez mais. Isso era o necessário a se fazer, já que Júlia não parava de perguntar pela mãe.

Foi somente no final da quarta semana no hospital que a mulher deu os primeiros sinais de recuperação. O cérebro havia desinchado e as formas de seu rosto já estavam sendo formadas novamente seguindo o curso para o lugar que lhe era natural. Por alguns momentos, abria os olhos e tomava consciência do lugar onde estava e nunca ninguém estava lá para recebê-la. As pessoas iam e vinham como sombras.

Às vezes, mãos cuidadosas tocavam seu corpo dolorido, cuidando e virando-a na cama. Vozes alteradas murmuravam de vez em quando, algumas delas a chamando, mas o estupor a tragava novamente para a profundeza tão confortável da inconsciência.

Um dia ela despertou. A luz fluorescente que tremeluzia, feria seus olhos. Murmurou em protesto, mas sua voz estava metálica e a boca seca, e o simples ato de mexer os lábios doeu. Tentou virar o rosto, mas uma dor perpassou seu corpo, lançando pequenas ondas agudas, fazendo-a perder o fôlego. O homem sentado do outro lado se levantou com um triunfo maléfico brilhando nos olhos negros, veio até ela em passos largos e a segurou com força, empurrando-a de volta para se deitar, fazendo com que a dor física que sentia aumentasse muito mais com a forma que ele fizera.

— Fique quieta, sua idiota!

A mulher o olhou chocada como se não tivesse entendido bem. Todo aquele rancor e desprezo intrínseco na voz grave e sonora não faziam sequer sentido. Já ele, permanecia a olhar de maneira impassível e cheia de rancor quando se debruçou e apertou o botão da campainha das enfermeiras. A moça, por sua vez, continuava a encarar o homem completamente assustada com o que emanava do olhar cheio de ódio.

Uma enfermeira, entrou no seu campo de visão e ela girou o pescoço para vê-la melhor, mas novamente a dor muito aguda atravessou-lhe o corpo. De maneira a equilibrar a intensidade do que sentia, tentou respirar mais fundo, e como resposta, retorceu suas feições percebendo que de qualquer maneira, tudo nela doía. A enfermeira pareceu perceber, e piedade apareceu nos olhos cor de âmbar dela.

— Por favor, Bárbara, preciso que respire devagar e não se mexa. O doutor já está chegando.

Bárbara! Ela se concentrou naquele nome enquanto o médico entrava no quarto.

A Dama Sem Nome: Um Romance da Máfia- NOVA VERSÃO 2023Onde as histórias ganham vida. Descobre agora