XLII - O CEMITÉRIO

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— Você me deixa confuso. — Miro estreitava os olhos quando o farol do veículo mirou um portão reluzente em meio a árvores de galhos grandes e retorcidos. — Uma hora me diz que seu interesse em mim é por eu ser filho de um feiticeiro, outra hora me diz por estar envolvido contigo e precisa me proteger e agora diz que precisa me usar como isca. O que você quer afinal?

Meicy alisava o seu bigode com a ponta dos dedos, um tanto pensativo.

— Confesso a minha bipolaridade em relação as minhas palavras, mas estou sendo sincero quanto a tudo o que disse. Principalmente ao fato de ser filho de um feiticeiro. Você me é mais útil que possa imaginar.

— Ainda não confio em você. Será mesmo que seja uma vítima como me faz pensar que seja? Você é muito poderoso para se deixar derrotar por pessoas tão simples.

Meicy ficou calado por alguns segundos, lembrando-se de não ter mencionado nada para Miro em sua história sobre destruir o Instituto e assassinar centenas de seguidores.

— Eu fui traído pelo meu melhor amigo. — Ele respondeu após certo tempo. — Isso é o que mais me magoa.

— O que você quer afinal? O que vai fazer depois que se encontrar com sua irmã? E outra coisa... Não poderia simplesmente ir sozinho fazer isso? Você sabe de tudo sobre ela e até onde ela se esconde!

— Você faz muitas perguntas.

— Se quer mesmo que eu o ajude precisa me falar tudo sobre você.

— Talvez outra hora. Pare o carro aqui!

Eles estavam próximos o suficiente do portão dourado, embora bastante enferrujado e com grande parte da pintura descascada. Ainda no carro Miro olhou para Meicy, aguardando o que o feiticeiro tinha a dizer sobre o próximo passo de ambos.

— Já sabe o que fazer. Eu aguardarei escondido. — Meicy falou.

— Não confio em suas palavras. E se você não chegar a tempo? E se ela me matar?

— Estarei perto. Não se preocupe.

Miro engoliu um seco e novamente voltou a falar sobre esse plano sem sentido de Meicy.

— Seria mais fácil você ir pessoalmente e sozinho. Dá no mesmo!

Meicy sorriu.

— Você já sabe o que falar. E isso pode te safar. Agora vá!

Miro engoliu um seco. Ele sentia um mau pressentimento e sabia que aquilo não iria terminar muito bem. Saiu do carro fechando a porta com força e olhou bem para a sua frente. Ao longe conseguia ver uma luz fraca que iluminava alguns túmulos. Também escutava um som de música, um tanto perturbante para os seus ouvidos. Fechou os olhos por alguns instantes e ao tomar coragem se foi caminhando, evitando o mínimo de barulho possível.

☽✳☾ 

A música soava alta provinda de uma antiga capela. A estrutura estava quase em ruínas, faltando grande parte do teto, pintura desgastada e enormes rachaduras pelas paredes que ameaçava um desmoronamento a qualquer instante. Algum tipo de música ressoava estridentemente, música na qual, Miro não era muito fã. O jovem professor se escondia por trás de um túmulo de concreto — Mesmo juntando espinhos em suas mãos graças a relva espinhenta que recobria praticamente tudo naquele lugar, principalmente os túmulos.

Algumas motocicletas estavam estacionadas na frente da capela e pelo estilo, principalmente das caveiras metálicas que enfeitavam poderia se dizer que o cemitério abandonado também era frequentado por alguma tribo de motoqueiros. Outro fato interessante era um cavalo negro preto a uma árvore florida. — Uma Acácia, a única que se destacava com suas flores amarelas que se derramavam como chuvas de ouro em elegantes cachos. — O animal além de uma postura esbelta, possuía um pelo negro e sedoso. Os arreios vermelhos se destacavam no clima obscuro tomado por uma fraca iluminação.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora