XXVI - O DESTINO DA MAGA

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  Era uma noite agourenta, apesar do silêncio perturbador, passos apressados se ecoavam em uma estreita trilha em meio a floresta. A lua cheia iluminava o caminho, facilitando a localização naquele ambiente aterrorizante, apesar que também, entregava a posição do sujeito fugitivo. Um homem de intensa cabeleira vermelha e olhos tão rubros quanto as suas madeixas. O corpo estava coberto por um grosso manto marrom escuro e aquela face aflita não conseguia ocultar o seu desespero.

Era um mago Kilmato, ele estava sendo perseguido por inúmeros caçadores de Karen. Somente ele e a criança em seus braços — sua filha — haviam sobrevivido à caçada que dizimou o que ainda havia restado do seu povo: Os magos infernais, descendentes de Assa.

Sagnows havia se tornado um lugar sombrio para os especialistas desde o conflito passado. Aquele homem, no entanto, não temia a sua morte, mas sim, a de sua pequena filha de poucos meses de vida. Realmente, os julgamentos da seita eram injustos e todas as punições eram resultadas em sangue derramado, mesmo se tratando de inocentes.

— Não chore, Lirah... — O homem falou, tentando aliviar o choro da criança que consequentemente berrava aos prantos.

Ele sabia que os seguidores não demorariam encontrá-lo e para despistá-los meia hora antes, foi necessário quebrar o seu juramento de proteção à natureza. Sentia-se um verdadeiro monstro em incendiar boa pare da floresta usando o seu poder. Mesmo a distância, conseguia ver por cima das árvores a linha alaranjada e a fuligem esvoaçando pelo céu. Muitas aves sobrevoavam em desespero, enquanto alguns animais terrestres também tentavam fugir. Uma hora ou outra, ele sempre se depara com um cervo ou um felídeo. — Nome dado a um pequeno felino veloz, comumente encontrado nas florestas de Sagnows. — Aquele homem se sentia a aberração que a seita achava que ele fosse. Apesar daquele sentimento de fracasso, ele não poderia desistir. Precisava continuar a sua fuga por Lirah.

O homem parou de correr subitamente e olhou para trás. Abraçou a bebê contra o seu peito e franziu o cenho. Eles estavam se aproximando. O mago olhou para a outra direção. Ele estava sem saída. Sentia a presença de dezenas de caçadores vindo por todos os lados. Ele estava encurralado.

Ele fechou os olhos com força e ergueu a face para o alto. Ele precisava pensar em uma maneira de escapar, mas... Era isso! Ele abriu os olhos abruptamente. Levou uma de suas mãos ao pingente que levava no cordão em seu pescoço. O rubi, o colar de Assa. Ele sabia que o poder daquele artefato poderia ser perigoso, mas esse era o único meio para lhe tirar daquele enrascada. Sabia com utilizá-lo e mesmo relutante, iria fazer aquilo.

Focalizou a trilha em sua frente, retirou o colar de seu pescoço e esticou o braço, mirando o rubi para o nada, de repente, ele começou a brilhar em uma luminescência ofuscante e da joia, um raio vermelho saiu, atirando-se na frente do mago e se expandindo em um círculo da mesma cor. Um portal foi aberto, entretanto, o sujeito não fazia ideia para onde aquela mágica o levaria com a sua filha. Isso não importava no momento, ele só precisaria escapar.

Respirou fundo e tomou coragem. Deu um passo em frente, somente um passo que salvaria a ele e sua pequena filha, porém, ele paralisou. Uma dor aguda emergiu em suas costas, sendo seguida por outras pontadas em diferentes locais por sua retaguarda. Eram os punhais dos caçadores que estavam sendo arremessados contra o mago e não cessava os ataques. Mesmo inerte e sentindo a sua seiva derramar, aquele sujeito continuou.

A criança chorava desolada em seus braços, enquanto mais lâminas o atingia friamente. A sua visão estava turva e ele sentia todo o seu corpo formigar e esmorecer. Em uma última tentativa de prosseguir, conseguiu apenas juntar as suas forças para jogar Lirah contra o portal. Foi tudo muito rápido e consequentemente a porta mágica desapareceu ao mesmo tempo em que o mago tombou de bruços no chão duro, deixando o colar de Assa rolar na terra e parar exatamente aos pés de um homem de corpo robusto e ombros largos. Era o ancião de treinamento e caça, Salomon.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora