XVIII - DEFLORAMENTO

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— Ande mais rápido! — Kelmo gritou, impaciente.

As nuvens grossas escondiam a Lua, dificultando a trajetória dos dois jovens seguidores pela floresta. A escuridão dominava, enquanto o terreno coberto pela densa folhagem apresentava raízes imersas a terra, tornando-se belas armadilhas para os cipós das árvores vivas. Meicy guiava o caminho segurando uma tocha nas mãos e Kelmo o seguia com a espada empunhada. Ela estava atenta a qualquer movimento suspeito, como experiente naquela área, sabia que não poderia confiar nem mesmo no chão onde pisava.

— Permanecerei no meu próprio ritmo. Seja paciente. — Meicy a respondeu em voz baixa.

Kelmo trincou os dentes, apertando mais forte seus dedos no cabo da espada.

— Seu idiota! Não temos tempo! Nem chegamos a metade do caminho ainda.

Meicy parou de caminhar subitamente e virou-se para ela.

— E de quem é a culpa? Se fosse responsável estaríamos mais adiantados.

Kelmo o encarou e parou junto a ele.

— Eu te odeio. — Ela sussurrou.

Meicy sorriu cinicamente.

— E você é insuportável. — Ele respondeu no mesmo tom de voz que ela. — Nem parece uma garota.

Eles continuaram a se encarar raivosamente por longos segundos. Meicy firmava sua mão no cabo da tocha e Kelmo fazia o mesmo com a sua espada. Tentavam controlar o impulso de lutar entre eles, até mesmo o jovem feiticeiro desejava usar o seu poder para executá-la sem piedade.

— Eu prometo que quando tudo isso acabar, irei decepar a sua cabeça — Kelmo ameaçou entredentes.

Meicy não se intimidou, por ao contrário, ele sorriu sadicamente e deu mais um passo em frente, quase colando sua face a dela, Kelmo sentia o calor da chama da tocha bem próxima do seu braço esquerdo, mas pouco a importava se a queimasse. A sua fúria estava concentrada nos olhos negros que a fitava.

— Então tente... — Meicy provocou. — Não perca o seu tempo. Corte a minha cabeça!

Subitamente o gume da espada da caçadora já se encontrava tocando o pescoço de Meicy. Ela era bastante rápida, que mal o feiticeiro pôde ver o seu movimento, entretanto, ele continuava com uma feição tranquila, como se não se importasse ou duvidasse daquela ameaça.

— Eu sei que não irá fazer isso. — Meicy continuou. — Você precisa de mim, Kelmo.

Kelmo estreitou os olhos e por um momento realmente pensou em decapitar o seu companheiro, entretanto, por mais humilhante que fosse, Meicy estava certo. Enquanto estivesse no Instituto, ela precisaria dele para se formar e o pior, mesmo depois da formatura, seria punida caso o assassinasse sem algum motivo que desrespeitasse a seita. Ela baixou a espada liberando o pescoço dele.

— Infelizmente sim! — Ela respondeu, chamuscando de raiva.

Antes que Meicy pudesse falar algo zombador, sentiu o seu corpo sendo arremessado contra as árvores. Kelmo havia lhe chutado na barriga com uma força impressionante. Ele cuspiu saliva e sentiu uma dor crescente, perdendo o fôlego. No ato, deixou cair a tocha e sua bolsa no chão e sem a chama para se proteger, os cipós haviam aparado o seu corpo antes dele tombar nas raízes. Os seus braços estavam imobilizados, enquanto mais cipós envolvia a sua cintura e raízes brotavam do chão prendendo as suas pernas.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora