XXX - A CASA NA ÁRVORE

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 A noite persistia em silêncio, somente com alguns sons que os grilos emitiam e o canto das corujas. A lua estava cheia, o denso brilho azul penetrava através da folhagem das árvores em uma clareira, tornando todo o ambiente mágico e ao mesmo tempo assustador. As nuvens negras tentavam ganhar forças para encobrir todo o céu, embora não haver clima de chuva para aquela noite. O vento estava parado e algumas estrelas ainda piscavam, como se de alguma maneira tentavam se comunicar com os mengianos. Meicy olhava para o céu, enquanto tateava com a mão alguns frascos em sua bolsa.

Meicy e Kelmo haviam chegado naquela clareira no início da floresta ainda no começo da noite. Conseguiram recuperar suas coisas após a deixa da caverna. A chama da fogueira tentava aquecê-los do frio devastador. A jovem caçadora já havia adormecido, um sono leve e delirante em pesadelos. Meicy sabia que ela não estava bem. Ela estava faminta e se recusou a comer algumas maçãs que ele havia recolhido pelo caminho. O jovem feiticeiro sabia que precisava dar o sinal de localização para Millo e Lirah, entretanto, Kelmo precisava de cuidados e naquele horário não poderia arriscar os outros em uma viagem noturna. Preferiu aguardar e enquanto isso deveria prestar cuidados à caçadora.

Meicy olhou para Kelmo, enquanto retirava de sua bolsa um frasco transparente de vidro vedado com uma rolha. Havia algum tipo de pó vermelho em seu conteúdo, na qual, seria usado para gerar uma fumaça espessa e avermelhada ao entrar em contato com o fogo e com isso, poderia chamar a atenção das outras duplas de seguidores, embora se eles estivessem em uma distância considerável. Ele guardou o frasco novamente dentro da bolsa e decidiu procurar pelo seu último ramo de arniteia.

Kelmo suava e estava inquieta. Parecia estar sendo consumida por pesadelos intensos. Meicy percebeu que ela ardia em febre ao tocar em sua pele. Ele nunca tratou de enfermos, não tinha esse talento como Millo, mas sabia que era o seu trabalho como jovem bruxo. Até poder se especializar no que bem entende, ele seria obrigado a ter noção de tudo. Sorte dele que a arniteia era uma erva poderosa e poderia ser usado para qualquer fim em relação a ferimentos e doenças.

Meicy retirou algumas folhas — já murchas, entretanto, ainda de grande serventia — e colocou-as em um pequeno pilão de cerâmica. Começou a pisar e em seguida a retirar o sumo, transferindo o líquido para o seu caneco de alumínio batido e adicionou um pouco de água — que havia buscado mais cedo em um córrego. Já estava pronto. Ele se aproximou da caçadora enferma, apoiou a cabeça dela em seu braço e levou o líquido até os seus lábios.

— Vamos, Kelmo, beba. Vai se sentir melhor. — Meicy sussurrou.

A caçadora ainda grogue, demorou compreender a fala do jovem feiticeiro. Apenas sentiu o líquido de gosto amargo escorrendo em seus lábios, ela fez questão de beber. A sua cabeça jazia pesada, era como se não houvesse forças para erguê-la. Desnorteada, acabou adormecendo novamente.

Meicy suspirou. Olhou para uma de suas mãos e em seguida para a caçadora que dormia em seu colo. Ele confiava bastante na arniteia, mas, era doloroso ver a jovem sofrendo daquela forma. Poderia usar o seu poder de cura, por mais que estivesse quase decidido a isso, uma parte em si relutava, pois, Kelmo poderia descobri-lo dessa vez. Ele respirou fundo e ponderou por alguns instantes.

Ele também estava exausto, apesar de feiticeiros quase nunca ficavam doentes. Ele resolveu se acomodar um pouco mais confortável, mas sem tirar Kelmo de seu colo. Ele deitou-se no chão enquanto alisava o cabelo oleoso da caçadora. Olhava para a lua, pensativo. Resolveu relaxar e fazer o que deveria ser feito. Abraçou a caçadora contra o seu peito e deixou as suas mãos disfarçadamente fazer o serviço.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora