I - A CARTA

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Uma esfera de luz flutuava a poucos centímetros das finas mãos brancas de um garoto. Os seus intensos olhos negros brilhavam com a magnitude daquela façanha. O cristal de vidro, do tamanho de seu punho tomava as cores verdes, em vários tons, pintando as paredes brancas de seu quarto escuro.

Ele não parecia nada feliz. Em seu semblante franzia o cenho. Não era a primeira vez que fazia aquele tipo de coisa. Já faziam três semanas que havia descoberto aquele poder e não estava alheio ao significado de aquilo tudo. Aquele garoto não queria acreditar, mas era real. Ele era...

— Meicy! — A voz de sua mãe o pegou de sobressalto.

Ele ergueu o seu corpo em um pulo, deixando cair desastradamente a esfera que portava, que por final, estilhaçou-se no chão em pequenos pedaços pontiagudos. A mulher girou a maçaneta enferrujada abrindo a porta de madeira. Ela adentrou no recinto vidrando os seus olhos escuros ao que via.

O garoto agachou-se, tentando de alguma maneira catar os cacos do chão. Algumas mechas lisas de seu cabelo caíam sobre os seus olhos, deixando-o fadigado.

— O que houve aqui? — A mulher perguntou, colocando suas mãos na cintura.

Meicy nada disse, ainda estava sob tensão pelo quase fragrante de sua mãe. A mulher de extenso cabelo escuro cruzou os braços, demostrando a sua decepção.

— Meicy meu filho, o que pensa que está fazendo?

Ela tentava manter uma certa tranquilidade em sua voz. O garoto nada disse, estaria ele envergonhado ou inquieto pelo seu suposto segredo. Ele logo se levantou com as mãos recheadas de pedaços de vidro. Susan — o nome de sua mãe — continuava a encará-lo com certo ar de preocupação.

— O que está acontecendo com você? Não é mais o mesmo.

Ela caminhou até a janela, puxando as duas abas de madeira para dentro fazendo com que a abrisse. A luz da manhã irradiou o ambiente por ali, iluminando — antes escuro — o quarto do garoto, mostrando o guarda-roupa empoeirado, a cama bagunçada e uma estante de livros grossos e antigos, na qual Meicy já havia lido a todos.

— Deixe que eu arrumo essa bagunça, você vai acabar se cortando.

Meicy suspirou impaciente, só queria que ela saísse logo dali, pois ele sabia como limpar o seu quarto em questão de segundos.

— Vá lá para fora! Millo está na cozinha te esperando.

Millo, o seu melhor amigo. O que queria com ele tão cedo? Meicy nunca gostou muito de ficar perto das pessoas, mesmo aos doze anos, ele preferia ficar sozinho com seus livros, que afinal, eram presentes de seu pai, já que o mesmo era professor do Instituto de Seguidores de Hidda e também um guardião de Karen. Com isso, foi obrigado a estudar intensamente sobre as antigas lendas, sobre a seita e aprendeu a ler sidelênico aos seis anos de idade.

Meicy caminhou lentamente até a porta, não se importando com sua mãe agachada que catava os cacos da esfera de cristal estilhaçado. Ele temia que aquele seu comportamento gélido estivesse a machucando, mas ele pouco se importava com os sentimentos alheios, para a falar a verdade, nem com os seus próprios.

Ele chegou até a cozinha, lá estava o seu amigo sentando diante da mesa coberta por uma toalha colorida. Estava bebericando um gole de leite da xícara de porcelana que portava em mãos. Ele o olhou de relance, atento as suas expressões faciais.

O garoto cujo o fitava, possuía uma pele mais escura que a sua, os seus cabelos eram compridos e presos para trás com um barbante, seus olhos eram puxados e misteriosos, apresentando uma cor de avelã. Os seus traços entregavam a sua origem indígena e caso ele não fosse criado pelo seu avô paterno, com certeza seria um "selvagem". O índio se pôs de pé. Era um pouco mais alto que Meicy, mas tinha a mesma idade.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora