XXXIV - DESESPERANÇA

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Meicy se aconchegava em sua cama. Apesar de já se sentir bem e haver recuperado as suas forças, nenhum de seus amigos o deixava se levantar. Ao lado em um criado mudo de madeira escura, tinha uma sopa que Millo havia preparado, já fria. Em suas mãos um livro de histórias infantis que a sua irmã, Sora, havia lhe entregado. Apesar da sua tentativa de ler e se distrair, mantinha o volume fechado. Ele estava preocupado com a Lirah. Desde que haviam chagado no dia anterior, o diretor havia a levado para deus sabe onde! Kelmo também estava desinformada e mantinha a mesma preocupação que ele. O jovem feiticeiro suspirou.

A luz do sol poente penetrava na janela, deixando o quarto com uma cor alaranjada. A brisa suave fazia alguns papeis na mesa de madeira caírem no chão, enquanto alguns outros abaixo de pesados livros balançavam freneticamente. A cama de Millo estava organizada como ele sempre a deixava, apesar que dessa vez, havia deixado alguns cadernos de anotações. Um jarro de flores azuis enfeitava o criado mudo do índio. Era um presente de boas-vidas de Ganna, sua noiva.

Meicy se via sozinho e atordoado. Kelmo apesar da preocupação com Lirah, planejava a sua viagem à Sagnows para reencontrar a sua mãe. Sora estava em aula, Millo passando um tempo com a noiva e quanto a Jeon, o jovem bruxo havia recusado a sua visita.

— Antunes... — Ele sussurrou a si mesmo, enquanto olhava para o alto, vislumbrando duas borboletas vermelhas que voavam alegremente e estranhamente naquele ambiente. — Eu fiz a coisa certa?

Luciano Antunes não respondeu e nunca lhe responderia. Ele havia perdido o contato com o gato preto novamente e não voltariam a se falar tão rápido. Ele estava em um momento de dúvidas e sem ninguém que pudesse compreendê-lo e aconselha-lo.

O silêncio e o vazio consumiam lentamente, a escuridão do anoitecer entregava aquele quarto às trevas, levando aquele jovem a sua amargura e a pensamentos constantes. O sono lhe livrou de suas paranoias, mas não o livrou dos sonhos ruins, ou um pesadelo, algo realista, uma voz, um medo que ele nunca havia demostrado possuir, mas lhe dominava e ele deixava se abater. O livro em suas mãos caiu aberto no piso liso, mostrando uma página ilustrada de um sujeito com uma espada e na outra mão projetava um tipo de aura luminosa.

☽✳☾ 

Millo caminhava tranquilamente pela ponte que unia os dois edifícios. Ele ia para o castelo menor onde ficava os dormitórios, especificamente para o seu quarto e o de Meicy, ele precisaria fazer companhia ao amigo. A noite estava silenciosa, embora percebesse a movimentação dos alunos para a cantina.

O índio escutou alguns passos apressados por trás de si. Ele jurava que não havia visto ninguém mais naquela ponte. Ele parou, ponderando por alguns segundos e virou o corpo. Era Kelmo, ela tentava alcançá-lo. Ela carregava no ombro uma bolsa que lembrava à que os bruxos carregavam os mantimentos. Apesar do uso obrigatório do manto dentro do Instituto, notava-se que ela estava arrumada para algum tipo de viagem. O cinto em sua cintura estava recheado pelos seus punhais e também com a espada embainhada.

— Millo! — Ela falou ao conseguir se aproximar. — Alguma notícia da Lirah?

— Sim, mas nada muito agradável. — O índio respondeu.

Kelmo inquietou-se. Encarou o bruxo como se desejasse arrancar a informação a força. Millo notou e estremeceu um pouco. O olhar da caçadora era assustador.

— Ganna me contou. Ela está em uma sala privada, presa e sendo vigiada por cerca de dez caçadores e um ancião. A todo momento, um bruxo vá visitá-la, testar algum feitiço para conter o poder dela. Por enquanto nada ainda deu certo.

Kelmo franziu o cenho.

— Mas por que isso?

— Ordens de Salomon. O diretor concordou com tudo, mas ainda falta a aprovação do Ancião mestre para tornar Lirah algum tipo de arma. Eles estão em reunião com o conselho, mas, Lirah não é a única preocupação deles.

Legend - O Feiticeiro Oculto (Livro 2) EM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora