Capítulo 27

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Evan

— E se eu te beijasse agora?

A pergunta de Angie me pega totalmente de surpresa. É noite de sábado e nós estamos no centro comercial, à meia hora de entrar num filme de terror. Pegamos uma mesa no canto, estamos tomando sorvete enquanto esperamos, e estavamos a falar sobre atores de Hollywood, até agora.

De onde vem essa pergunta?

Ao olhar em volta, descubro a resposta. Alguns casais ao nosso redor estão-se a beijar. Casais héteros.

— Isso provavelmente geraria um escândalo aqui. — respondo, voltando para ela — Em Seattle não é assim. Cidade grande, ninguém quer saber da vida de ninguém, cada um com as suas coisas... mas aqui em San Francisco tudo é muito pequenininho, muito pessoal. Eu particularmente prefiro evitar.

— Eu sei, afinal você está falando com a pessoa que tem negado beijar em público há... bom, dois meses.

O rancor em sua voz me faz franzir o cenho. Não quero que ela se sinta rejeitada, de jeito nenhum, mas realmente prezo por manter as coisas calmas. Não quero ser novamente presa por agressão, e eu sei o quão descontrolados os homofóbicos podem ser.

— Hey... — pego-a na mão, apreciando seus lindos olhos verdes que cintilam para mim — Angie, tu sabes que eu só não te beijo para evitar confusão, senão eu o faria.

— Eu sei, e eu entendo, eu só... nós nem andamos de mãos dadas, a não ser quando estamos com os seus amigos. — ela lamenta, olhando com tristeza para sua taça de sorvete. Sim, nós voltamos a sair com os caras, temos ido ao bar quase toda a sexta-feira, e aquele banheiro feminino tem mais segredos nossos guardados.

— Eu sei que deve ser chato para ti, mas eu prefiro mesmo evitar demonstrações públicas. — digo, vendo-a terminar seu sorvete, desviando os olhos — Você acha que só beijos irritam os homofóbicos? Angie, qualquer demonstração de carinho, qualquer sinal, inclusive mãos dadas… homofobia é uma doença. Não estou falando de pessoas que não gostam de lésbicas, estou falando de pessoas que agridem, que matam. Pessoas LGBT são mortas todos os dias por causa disso. Eu não quero colocar você em perigo, nem tampouco…

— Mas você e Arianna se beijavam em público! — me interrompe ela, num tom magoado, e eu me recosto na cadeira chocada.

— Arianna? Isso é sobre Arianna?

— Não, mas com ela você não era assim. Vocês se beijavam, andavam de mãos dadas e tudo.

Engulo em seco e abano a cabeça.

— Eu dizia à Arianna exatamente tudo o que estou dizendo a você. — minhas palavras parecem irritá-la mais, então eu penso cuidadosamente sobre como continuar — Eu não acredito que você está pegando minha relação com Arianna como referência para a nossa, Angie.

— Eu não estou, eu só…

— O que eu estou dizendo a você são os meus ideiais, Angie. — eu a corto — Arianna não ouvia o que eu dizia, ela sempre fez o que quis. Eu tive essa mesma
discução com ela um milhão de vezes. “Não” nunca resultava com ela, ela impunha as coisas e pronto. Mas nada disso realmente importa agora, por que Arianna se mudou para Paris, e ela é meu passado.

Angie olha para suas mãos e pisca uma data de vezes.

— Evan, olha só… eu acho que você tem medo demais.

Engulo em seco e balanço a cabeça.

— Sim, eu tenho medo. — seus olhos me buscam, surpresos, e então eu continuo — Além de ter levado muita porrada quando era mais nova e de quase ter  sido estuprada, eu já bati num cara o suficiente para ir presa, e sei que eu o teria matado se não me parassem. Então sim, eu tenho medo de perder o controle.

Hands Of love [Romance Lésbico]Where stories live. Discover now