Capítulo 140: POV Sebastian Regen

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"Eu preciso dessa prova," eu disse, como se fosse óbvio.

"Não, não, não," ele disse, me puxando pelo ombro até eu estar de pé. "Você vai precisar convencê-la do ultrassom sem isso."

"Tá louco? O que eu vou usar de desculpa?" Eu perguntei, abrindo meus braços de uma vez, fazendo os compridos que eu já tinha colocado no pote voarem para longe.

Charles os acompanhou com os olhos e eu segui seu olhar. Depois ele voltou a me mirar.

"Isso não é problema meu," ele disse, pegando o pote vazio da minha mão. "Inventa alguma coisa, faz alguma ameaça, nem que seja de morte. Mas eu não vou poder te deixar sair daqui com isso."

"Qual o problema-"

"O problema," ele me cortou sem hesitar, "é que eu não quero ter que explicar COMO você conseguiu isso. Você vai ter que arrumar outro jeito."

Alguém bateu na porta naquela hora e nós três demos saltos de sustos. A batida se repetiu quando nós já estávamos imóveis, mirando a porta como se nosso silêncio fosse fazer a pessoa desistir.

"Príncipe Sebastian?" Era voz de Thomas, o que relaxou Charles e eu, mas não ajudou a acalmar Gabrielle.

Eu corri até a porta, segurando na maçaneta sem abri-la por dois segundos. "Você tá sozinho?" Perguntei.

"Estou, por quê?" Ele respondeu logo que eu abri só o suficiente para ele conseguir entrar. "O que está acontecendo?"

"Charles vai te explicar," eu disse. "Tem uma coisa que eu preciso fazer."

Eu abri a porta de novo, dessa vez saindo.

"Eu vou com você," Gabrielle falou, me seguindo.

Não contestei. Seria bom ter alguém comigo, para pelo menos eu não parecer a pessoa mais louca do universo. E se ela parecesse imparcial o suficiente, poderia até me ajudar a convencer Amélie de que era uma ideia razoável. Razoável, pelo menos.

Eu não queria me animar, praticamente me dava socos na barriga para conseguir parar de sentir o frio que vinha de imaginar a possibilidade-

Não. Eu não ia nem me deixar pensar no que eu não podia pensar. Eu focaria na missão na minha frente. Os passos que eu tivesse que tomar depois viriam depois. O que eu fosse fazer depois-

Não. Sem pensar. Missão na minha frente. Encontrar Amélie. Arrastá-la para a ala hospitalar.

Assim que eu avistei as portas do Salão de Mulheres, eu já sabia o que eu ia fazer. Eu tinha um pouco de consciência de que talvez aquilo acabasse com toda a credibilidade que eu precisava que ficasse do meu lado. Sabia que aquilo poderia me fazer parecer louco. Mas não tinha nada o que eu pudesse fazer. Meus passos duros, meu olhar fixo, essa decisão. Tudo vinha de como eu tinha decidido formar missões e completá-las uma por uma. Era como se eu estivesse em um vídeo game. Era meu modo search and destroy.

Os guardas que estavam na porta me olharam surpresos, mas não me impediram de abri-las de uma vez, fazendo algumas meninas darem gritinhos e saírem correndo. Se me perguntasse, podia jurar que elas estavam se vestindo. Mas assim que eu avistei o cômodo, meus olhos encontraram Amélie e depois disso, eu não conseguia olhar para mais nada.

"Eu preciso falar com você!" Eu disse, apontando para ela e entrando sem nem hesitar.

"Sebastian, não seja louco," ela levantou da penteadeira onde tinha estado sentada e correu para um biombo perto dela. "Você não pode me ver antes do casamento, dá azar!"

"Não se preocupe, se nós nos casarmos, eu já garanti sete anos de começo," eu não parei de andar até dar a volta no biombo e estar olhando-a nos olhos. "Eu preciso falar com você. Aqui, lá fora. Em público ou em particular. Sua escolha."

"O que está acontecendo aqui?" A voz da minha mãe chegou até meus ouvidos, quase me fazendo arregalar os olhos. "Sebastian?!"

Ela parecia ainda mais surpresa quando colocou seus olhos em mim, que eu senti nas minhas costas.

Eu me virei para ela, sem nem respirar, só repetindo na minha cabeça que eu tinha uma missão. Eu tinha que completar a missão.

"Eu preciso pedir uma coisa para Amélie," eu disse, tentando manter a firmeza na minha voz, mas sem deixá-la soar muito bravo.

A última coisa da qual eu precisava era de minha mãe me fazendo diminuir de volta ao meu tamanho.

Ela me mirou pensativa, franzindo as sobrancelhas. "Que tipo de coisa?"

Eu olhei em volta para ver quem estava ouvindo, mas eu sabia que falaria não importando quem estivesse ali. Foi quando eu encontrei Gabrielle, que assentiu com a cabeça uma vez, firme, me encorajando a falar. Quando me virei de volta para a minha mãe, já pronto para falar, vi a rainha da França aparecendo atrás dela. Só por isso, tive que engolir a seco. Mas não foi o suficiente para me tirar minha coragem.

"Eu preciso que Amélie faça um ultrassom," eu disse, e sua mãe bufou atrás da minha, como se a ideia fosse ridícula. Eu senti aquela imagem me prender a mandíbula de raiva.

"Sebastian, nós já passamos por isso," minha mãe começou, andando até mim e mirando nas minhas mãos para pegá-las e me consolar, mas eu dei um passo atrás e me virei para Amélie.

"Eu assino o que você quiser, eu juro fazer o que for," eu disse, tentando não deixar meu desespero interferir no quanto eu queria soar decidido. "Mas eu preciso ver com meus olhos."

Ela estava de roupão, apesar de que ele não era grande o suficiente para cobrir toda a saia do vestido. E tinha tanta maquiagem em seu rosto, que eu quase não conseguia ver onde seus olhos começavam e onde sua boca terminava. Mas, com os braços cruzados à sua frente, ela deu de ombros.

"Isso é besteira!" A mãe dela falou.

"Eu sei que é," Amélie concordou. "Mas eu acho que será perfeito. Porque assim," ela chegou mais perto de mim, olhando para mim como se já estivesse cansada de tentar me fazer ouvir, "quem sabe você comece a acreditar que eu não estou mentindo. Você vai ver," ela deu de ombros de novo. "Você vai ver que pode confiar em mim."

"E o que nós fazemos com o casamento?" A mãe dela perguntou, quando ela já começava a andar em direção à porta, eu a seguindo.

"Isso vai demorar, o quê? Cinco minutos?" Gabrielle perguntou também se dirigindo até o corredor. "Noivas atrasam, faz parte."

Sem serem convidadas, ambas a minha mãe e a mãe de Amélie nos seguiram. Ela não parecia que estava com tanta pressa, mas também não parecia querer enrolar. Uma missão tinha sido cumprida. Agora eu precisava pensar na próxima. Qual seria a próxima?

Porque Amélie parecia bastante certa daquilo. Ela não tinha se oposto nem por um segundo. Eu nem tinha precisado mostrar todas as minhas habilidades naquela primeira missão. E se a mais difícil ainda estivesse por vir? Quão arrasador seria ter que ver com meus próprios olhos o fruto do meu erro? Eu apostaria todas as minhas fichas naquele ultrassom, mas era só porque era minha última chance. E se eu já tivesse perdido? Eu conseguiria voltar a aceitar meu destino depois de criar tanta esperança de novo?

Não, eu não iria nem me deixar criar esperança. Pense na missão, Sebastian. Só na missão. E a missão é ela fazer o ultrassom. Não olhe para os lados, não se importe com o resto da guerra. Essa é a única batalha que importa agora. O que tiver que ser, será. E quando for, você ganhará outra missão e lidará com isso na hora certa. Agora, foque só em não se deixar ter esperanças. Foque só no fato, na ação. Foque em conseguir que Amélie ande mais rápido e acabe com essa tortura que é ter que não pensar na possibilidade de tudo não ser tão merda. Nem pense na vontade que você sentiria de jogá-la pela janela caso visse que, afinal, ela não estava grávida. Nem. Pense.

Quando a Chuva Encontra o Mar [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora