Capítulo 58: POV Abigail Neumann

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Era a segunda vez que eu estava sentada naquela bancada

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Era a segunda vez que eu estava sentada naquela bancada. Meus pés balançavam no ar junto com os de Melody, enquanto ouvíamos Marlee picando tomate.

"Então, pelo que nós descobrimos, o Príncipe Sebastian ficou com a princesa da França," Melody disse, rindo nervosa.

"Você diz a Princesa Amélie?" Marlee perguntou, se virando para nós.

"É," Melody concordou com a cabeça, animada. "E tem mais, se é que dá para acreditar."

"Você diz a parte sobre o rei?" Eu perguntei.

Marlee soltou sua faca e limpou as mãos no seu avental.

"Rei Maxon?" Perguntou, sobrancelhas arqueadas.

"Ele mesmo," falei, me virando para olhar Melody e deixá-la contar.

"Segundo a princesa, a Rainha Daphne é apaixonada por ele. Disse que elas vêm visitar sempre, porque a mãe dela não consegue ficar longe."

Os ombros de Marlee relaxaram e ela suspirou. "Só isso?" Perguntou, para a nossa surpresa.

"Isso não é o suficiente?" Eu abri meus braços, me questionando porque ela não achava aquilo surpreendente.

Ela deu de ombros. "Eu já sabia disso. Na verdade, todo mundo aqui sabe."

"Como assim?" Melody perguntou, séria.

"Digamos que a rainha francesa não é a melhor pessoa para disfarçar seus sentimentos," Marlee disse, se virando de volta para continuar picando os tomates.

"E o rei?" Perguntei, quando me ocorreu que ninguém ainda tinha falado dele.

Marlee deu de ombros de novo. "Só o vimos uma vez, logo depois que eles se casaram. É muito bonito, educado, mas parece um pouco rígido demais com ela. Só posso imaginar o que ele faria se soubesse que a sua mulher ainda é apaixonada pelo mesmo cara desde que era jovem."

"Como assim, desde que era jovem?" Melody perguntou, e se não tivesse, eu mesma perguntaria.

"Eles cresceram juntos de certo modo. Eram como aliados em festas das suas famílias," Marlee explicou. "Bom, pelo menos é o que a America me contou."

Eu ri. "Você chama a rainha de America?" Perguntei, inconformada.

Melody tinha um olhar de pânico divertido também na cara. Não era só eu que tinha percebido.

"Claro," Marlee disse, se virando para ver nossa reação. "Você não chama a sua melhor amiga pelo nome também?"

Melody e eu trocamos um olhar confuso. "Como assim, sua melhor amiga?" Perguntei, pensando que tinha entendido alguma coisa errada naquela frase.

Ela não podia estar falando o que eu pensava que estava. Não, isso seria um pouco louco demais.

Mas ela estava.

"Eu era uma das selecionadas quando America ganhou," Marlee falou, como se não fosse nada. "Era uma da Elite, na verdade."

Melody quase engasgou com a própria saliva.

"Tá brincando?" Perguntei, ainda sem acreditar naquilo.

Mas Marlee só balançou a cabeça, sem falar mais nada. Depois se virou de volta e começou a cortar um pedaço de carne nojento.

"Mas," eu comecei, ainda sem conseguir entender como aquilo era possível, "por que uma selecionada trabalharia na cozinha do castelo?"

Marlee bufou alto, já incomodada com o assunto. Ela lavou a faca que estava segurando, secou suas mãos no avental e se virou para nós, se apoiando na bancada atrás dela.

"Olha, eu vou falar isso uma vez e uma vez só. Não me peçam para repetir," ela disse, séria. "E, de preferência, não espalhem por aí," nós duas concordamos com a cabeça. "Eu fazia parte da Elite. Mas por destino, acabei me apaixonando por um guarda do castelo e fui pega com ela depois de uma festa. Não importa muito o que aconteceu depois, mas, sendo rebaixados a Seis, não tínhamos nenhuma escolha a não ser sairmos do castelo. Rei Maxon, que na época nem era rei, claro, nos ofereceu um lugar trabalhando aqui na cozinha."

"Mas a casta Seis nem existe mais," Melody falou, tímida.

"É, eu sei," Marlee disse, com um sorriso calmo no rosto. "Mas eu gosto daqui," continuou. "Gosto muito, na verdade. E gosto de ficar perto da minha melhor amiga. Sem contar que nós começamos trabalhando no estábulo, então eu já fico bem feliz de ter vindo para a cozinha."

"Nós?" Foi meu jeito de pedir para ela falar do marido dela.

"Eu e o Carter," ela disse, e dava para ver em seus olhos que tudo aquilo tinha valido muito a pena para ela. "Ele continua no estábulo," explicou. "Enquanto meu filho preferiu ser guarda."

Melody engasgou de novo do meu lado. "Você tem filho?" Perguntou, inconformada.

Marlee riu com a sua reação. "Tenho," disse. "Um só, Thomas."

"Thomas o quê?" Meu jeito de perguntar seu sobrenome.

Eu não sabia se ela estava tão disposta a contar tudo, então eu não achava que devia ser muito direta.

"Woodwork," Ela respondeu. "Thomas Woodwork."

"E a gente conhece ele?" Melody perguntou.

"Provavelmente de vista," Marlee disse, se virando de volta para a carne. "Então é isso, essa é a minha história. Minhas escolhas me trouxeram aqui e a minha amizade me manteve no castelo. Eu tive sorte e vocês também teriam. Rei Maxon era tudo que Illeá precisava e eu tenho certeza de sua compaixão. Mas se eu fosse vocês, ainda assim teria cuidado com o que decide fazer no calor do momento."

Melody franziu a sobrancelha do meu lado, mas eu entendi o que ela queria dizer.

"Tá falando isso para mim ou para a princesa francesa?" Perguntei, fazendo Melody rir do meu lado.

"Não estou falando para ninguém exatamente, só estou falando," Marlee disse, sem se virar para nós.

Ficamos quietas até que alguns passos fortes quebraram o silêncio. Eu me desencostei da parede a tempo de ver dois homens chegando, cada um parecendo mais sujo que o outro.

"Marlee," um deles falou, chegando até ela e beijando sua testa.

Ela parou para olhar para ele, dizendo provavelmente mil palavras só com seus olhos. O outro homem, bem mais novo, também foi até ela, lhe deu um beijo no rosto.

"Mãe," ele disse e nós ficamos sabendo que ele era o tal Thomas.

Ótimos genes, pensei. Marlee já era bem bonita, não tinha como negar. Mas seu marido ainda estava com tudo, mesmo já mostrando sinais da sua idade nos cantos dos olhos e em alguns poucos cabelos brancos.

De qualquer jeito, a combinação dos genes deles foi perfeita. Thomas parecia ter pegado cada uma das qualidades dos dois e juntado-as nele. Parabéns, pensei.

Os dois se viraram para nós e fizeram um aceno de cabeça. Thomas chegou até a levantar uma sobrancelha só quando nos percebeu, mas eles logo se viraram e continuaram seu caminho. Quando eles passaram pela porta e desapareceu, pensei em parabenizar Marlee, mas ia ficar esquisito demais.

Quem sabe Thomas não algum dia virar um ator. Ou modelo, ele conseguiria ficar famoso fácil. Será que ele não já tinha pensado nisso antes? Talvez até Andre poderia ser seu agente. E ele poderia virar um Dois. Como eu.  

Quando a Chuva Encontra o Mar [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora