Capítulo 45: POV Arya Noleira

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"Ah, Enny, você tem que se animar, sabe?" Falei, me colocando na frente dela. "Dançar um pouco, se deixar levar." 
Ela riu do meu jeito de dançar e eu senti que tinha conseguido o que queria.
"Vai, junte-se a mim," falei, pegando suas mãos e tentando fazê-la começar.
"Eu não, não quero o príncipe me olhando assim!"
"Mas ele não está te olhando," falei, procurando por ele. "Olha lá, ele está ocupado demais indo embora com a Beatriz."
Nós duas olhamos para ele, desanimadas.
"Não é justo," ela falou sem nenhuma de nós tirar os olhos das costas dele.
"Né," concordei. "Mas fazer o quê," dei de ombros e me virei para ela. "Amanhã é um novo dia e a gente tem outra chance. A única coisa que podemos fazer hoje é dançar, vem cá," a puxei pelo braço até que nós chegamos no meio do picadeiro. "Vai, aqui ninguém vai te ver dançando mal!"
Ela riu e começou a dançar igual a mim, do jeito que viesse à cabeça. A música era animada e bem dançante, então foi fácil. Logo Melanie se juntou a nós, se colocando atrás de mim, nossas costas encostadas enquanto a gente dançava até o chão. Rimos muito quando não conseguimos nos levantar do mesmo jeito que tínhamos nos abaixado. Eu mesma precisei que Enny me ajudasse e Melanie teve que se segurar na Sophie.
Nosso jeito desengonçado era a melhor parte da festa. Pensei que Abbie adoraria estar lá no meio da gente, dançando sem se importar com o que as pessoas pensariam. Foi quando eu vi as câmeras chegando perto da gente, nos filmando. Não sei porque, mas ao invés de ficar envergonhada, eu tive mais vontade ainda de dançar o mais louco o possível, fazendo até um pouco de graça para a câmera.
As meninas pareciam não se importar também, talvez porque a que estava pagando o maior mico ainda seria eu. Elas me acompanharam, acenando para a câmera enquanto dançávamos.
Quando finalmente estávamos sozinhas de novo, caímos na gargalhada. Era ótimo poder esquecer que aquelas meninas estavam competindo comigo e simplesmente aproveitar a amizade delas. Estava pensando que aquela era a melhor parte da seleção, quando senti alguém colocar uma mão no meu ombro.
Me virei ainda dançando, achando que ia encontrar outra selecionada ali, louca para se juntar à gente.
"Jack," falei assim que meus olhos encontraram os dele.
"Lady Arya," ele sorriu para mim. "Que bom te encontrar aqui."
"É," soltei sem pensar. 
Ainda não estava acreditando que ele estava ali, na minha frente. De todas as pessoas do mundo, ele era a última que eu esperava encontrar no castelo.
"Falei que você ia ser selecionada," ele disse, seu sorriso convencido no rosto.
Eu não conseguia ouví-lo bem, então comecei a andar para fora da pista. Ele me seguiu.
"O que você está fazendo aqui?" Perguntei, ele andando do meu lado.
"Eu não perderia a oportunidade de vir te ver aqui."
Eu ri comigo mesma.
"E você está gostando?" Ele perguntou quando nós nos sentamos na mesa das selecionadas. Ele estava no lugar da Melissa.
"Estou adorando!" Falei. "É tudo que eu imaginava e mais! Eu tenho criadas que fazem vestidos para mim, que me arrumam, que me incentivam! Elas são um amor, se eu pudesse, levava elas comigo. Mas eu não acho que daria, né? De qualquer jeito, acho que fiz amigas pro resto da vida! Tem tanta gente legal aqui, tanta gente interessante. Eu nem sei como vou conseguir competir com elas."
"E o príncipe?" Ele perguntou, no meio das minhas mil palavras.
"Ah, ele é legal! Super educado e tals. Mas eu não acho que goste muito de mim," confessei.
"Duvido," Jack disse, me animando um pouco.
"É sério. Ele não fala nada. Toda vez que a gente conversa, ele só fica ouvindo, não me fala uma palavra. Acho que ele não gosta muito de conversar comigo."
"Não é fácil mesmo soltar uma palavra quando você tá falando," ele disse, rindo.
"Eu sei, eu falo demais. Eu devia falar menos. Mas é que as coisas vêm na minha cabeça, aí eu quero falar delas. Mas quando falo, já penso em outra coisa para comentar. Então comento, e aí as coisas se perdem e as pessoas não me respondem. E se ela não me respondem, eu me respondo. Aí complica."
Ele riu mais ainda e eu percebi que tinha falado demais de novo.
"Desculpa," disse, tentando me focar no cupcake à minha frente.
"Não, eu gosto," ele falou, me fazendo olhar de volta para ele. "Sua irmã veio?"
Olhei por cima do meu ombro até encontrar a Lua conversando com uma menina da sua idade de cabelos castanhos. 
"Veio," falei, e ele seguiu meu olhar. "Aquela é a irmã de Gabrielle," expliquei. 
"Não sei quem é Gabrielle," ele falou.
"Ah, é uma menina francesa que tem aqui. Não, na verdade, ela não é francesa, mas tem decendência. O sotaque dela é super bonito, imagino que seja por isso que o príncipe gosta dela. Eu também gostaria se fosse ele. Sempre quis aprender Francês, mas nunca pude. Não tinha dinheiro e meus pais insistiram para que eu passasse meu tempo empenhada na minha música. Mas quem sabe, agora que eu sou uma três."
"Achei que vocês não podiam falar de castas aqui," ele me interrompeu.
"Como você sabe?"
Ele deu de ombros. "Fomos instruídos a não perguntar suas castas nem mencionar nada que tivesse a ver com elas durante a festa," ele explicou.
"E como mesmo você conseguiu entrar aqui?" 
Eu estava prestes a começar a contar como eu não conseguia acreditar que ele estava lá, mas me segurei para ouvir sua resposta primeiro. Mas ele só sorriu, provavelmente esperando que eu falasse mais mil palavras antes que ele pudesse falar alguma coisa.
"Eu juro que nunca imaginei que fosse te ver de novo," confessei. "Mas quando me despedi de você naquela festa, eu bem que queria. Não que eu não queira o príncipe," falei correndo, caso alguém estivesse nos ouvindo. "Só que naquela noite, foi legal te encontrar. Mas foi curto demais, né? Eu, quando conheço alguém assim, prefiro passar um tempo, conhecer a pessoa. Só que com você foi diferente. Foi pior," ele ficou surpreso com a minha escolha de palavras, então corri para me corrigir. "Não foi ruim te conhecer, não é isso! É que eu mal te conheci, então tive que passar meus dias imaginando como você seria, sabe?"
"Você passou seus dias pensando em mim?" Ele perguntou, se divertindo com o meu jeito de novo.
"Não assim!" Falei correndo de novo. "Quer dizer, um pouco assim. Mas agora isso não importa, eu estou aqui pelo Charles e só por ele."
"Entendi," ele falou, ainda sorrindo. 
"Mas então, como você conseguiu entrar aqui mesmo?" Perguntei.
Ele me mirou, sério. Talvez uns mil segundos se passaram até ele abrir a boca para me responder. Mas naquela hora, alguém colocou a mão no seu ombro.
"Alteza, sua Majestade gostaria de lhe falar a sós."

Quando a Chuva Encontra o Mar [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora