Capítulo 17: POV Beatriz Biersack

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"Já teve sua resposta?" Ele perguntou, tirando seus olhos de mim por um segundo. "Beatriz, você poderia nos dar um minuto?"

"Claro, Alteza," eu disse e fiz uma reverência.

Eu ainda não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, nem porque ele tinha me feito ficar lá se eu não tinha sido eliminada. Mas não queria o questionar ali e naquela hora. Saí o mais rápido que pude para não os incomodar. Quando fechei a porta atrás de mim, senti um impulso de deixar um pouquinho aberta ou encostar meu ouvido para tentar escutar a conversa.

Mas, felizmente, me segurei. Andei até a janela do outro lado do corredor e me ocupei de olhar o jardim. Não demorou muito para eu ouvir a porta abrindo atrás de mim e esperar Charles andar até onde eu estava.

"Você gosta?" Ele perguntou, se posicionando ao meu lado.

"Gosto de ver o vento nas árvores," falei.

A gente ficou em silêncio por um tempo, até que eu comecei a sentir sua mão levemente encostando na minha. Me odiei por isso, mas meu instinto foi me afastar dele e foi isso mesmo que eu fiz.

"Desculpa," pedi, quando dei um passo atrás.

"Não, eu que devia pedir desculpas," ele se virou para mim, seus olhos me olhando com toda a culpa do mundo. "Depois de tudo que você passou, eu te fiz pensar que você estava indo embora," ele passou os dedos pelo cabelo, tentando pensar em algo mais para dizer. "E depois," ele continuou, "quando a Juliette ficou daquele jeito, eu achei melhor não falar na frente dela. Achei que só iria piorar a situação."

"Eu entendo," falei, olhando para baixo. "Não se preocupe, Alteza."

"Mas eu preocupo," ele falou, dando um passo em minha direção. "E eu quero te mostrar que me importo com você."

Ele não precisava fazer nem metade do que fez. Quando abriu as portas da Sala de Música, fiquei maravilhada. Nem sabia se ele ainda estava ali, pois saí andando entre os instrumentos, completamente hipnotizada por cada um deles. Queria pegar todos eles, tocar cada um deles ao mesmo tempo, mas assim que parava para olhar um, tinha outro que chamava minha atenção pelo canto do olho.

"O que acha?" Charles me perguntou, me fazendo virar para olhar para ele.

Mas não consegui deixar meus olhos nele por mais de um segundo, tive que olhar para o piano de calda no canto da sala e ir até ele.

Charles andou devagar até mim enquanto eu estava fascinada por cada uma das teclas.

"Pode testar, se você quiser," ele disse.

Sem me virar para olhar para ele, me sentei cuidadosamente na frente do piano. Posicionei meus dedos no ar e esperei para soltá-los. Era um momento tão importante que achei que deveria me preparar psicologicamente antes dele acontecer.

"Algum problema?" Charles perguntou atrás de mim.

"Não sei se estou pronta," admiti, o que fez ele rir e colocar as mãos nos meus ombros.

Me encolhi minimamente com seu gesto e acabei soltando minhas mãos em cima do piano sem querer. Uma vez lá, decidi testar algumas poucas notas, enquanto rezava para ele parar de me distrair com seu toque.

"Beethoven?" Ele me perguntou, suas mãos escorrendo dos meus ombros.

"Para Elise," eu disse, enquanto ele se sentava do meu lado.

Sem falar mais nada, ele entrelaçou os braços nos meus, tomando conta de uma parte da música, me completando. No começo, fiquei um pouco surpresa, mas rapidamente me recuperei e acompanhei as notas dele sem deixar faltar nenhuma.

Mas minha determinação em tocar direito desapareceu quando ele chegou seu rosto bem perto do meu, tentando alcançar teclas que estavam muito longe dele. Tirei meus dedos do piano e os escondi no meu vestido. Ele percebeu minha apreensão, porque parou de tocar também, e se juntou a mim observando o piano à nossa frente.

O silêncio que ficou entre nós parecia infinito, mas eu o preferia a ter que falar no que tinha pensado ao vê-lo tão perto assim de mim.

Ele, em compensação, queria saber.

"Não quero te fazer ficar mal," ele falou. "Mas eu gostaria muito de saber o que aconteceu com o cara que te machucou tanto."

Mordi o lábio, tentando ganhar tempo, mas sabia que uma hora ou outra eu teria que contar. Eu estava ali para ficar com ele, era natural ele querer saber de quem veio antes.

"Se você precisa saber," eu disse, meus olhos fixos nas teclas à minha frente, "eu estava noiva de um cara chamado Noah," senti um nó na minha garganta quando falei seu nome. "Ele era um três," comentei antes de lembrar que ele tinha falado para esquecer as castas.

Mas ele não falou mais nada, então continuei depois de respirar fundo. "Um belo dia, acordei com um bilhete na minha porta que dizia para eu ir até um restaurante no almoço, que o que eu veria mudaria a minha vida," parei de falar um pouco quando a imagem daquele dia voltou à minha cabeça. "Eu não sei quem mandou esse bilhete, mas quem quer que seja, estava bem certo. Nada mais poderia mudar a minha vida como aquilo," finalmente virei-me para olhar para ele. "É engraçado pensar que enquanto eu ficava fazendo planos para uma vida ao lado dele, ele passava seu tempo mentindo para mim do lado dela."

Charles assentiu com a cabeça, me mostrando que me entendia. Ele não falou mais nada sobre o assunto, e eu fiquei agradecida. Depois de mais alguns minutos desconfortáveis, sua mão encontrou a minha e ele a segurou firme. Era tudo que eu precisava ouvir.

Quando a Chuva Encontra o Mar [Completo]Where stories live. Discover now