Capítulo 57→"Cala a boca!"

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Fui ganhando a consciência na mesma lentidão com a qual respirava. Me custava abrir os olhos e um distante conflito vocal soava, antes mesmo que pudesse abrir os olhos, uma pontada no estômago se fez sentir de leve e foi acompanhada por uma dor intensa no mesmíssimo lugar de antes.
Eu alternava a atenção da dor ao misto de vozes no lugar que não exigiu muito para além de minha visão para perceber que estavamos no carro da minha mãe.

— Com quanto tempo ela está? — não soube identificar de quem era a voz.

— Isso não importa, agora. O sangue não para de sair e a única coisa que me preocupa é a saúde da minha filha e do seu bebé. — minha mãe me acariciava a cabeça enquanto pressionava uma toalha contra minha testa.

Parecia exausta e preocupada ao mesmo tempo, seus gestos eram desesperados como se me quisesse livrar da dor com oque fazia. A dor era imensa que me impossibilitava de abrir os olhos como devia, as pontas dos meus dedos estavam geladas, meus lábios estavam secos e eu sentia como se me tivessem espetado uma faca no canto superior esquerdo da barriga. Levei minhas mãos ao abdômen e me remexi enquanto gemia alto de dor.

— Evie!Evie, fala comigo. Oque é que estás a sentir? — minha mãe me olhou preocupada como nunca a tinha visto.

Abri a boca para falar, mas só me saiam gemidos de dor pela boca e minhas mãos vasculhavam minha barriga em busca de algum motivo para todo aquele sofrimento. Algo insistia em dizer que o motivo levaria a graves consequências, não me preocupava com nada mais que a dor, naquele momento.

— Onde é que devo estacionar? — uma voz bem conhecida soou e mesmo no meio de todo aquele caos, eu soube que era ele.

— Na emergência, depressa! — a última palavra que disse, lhe saiu da boca como súplica quando tirava minha cabeça do seu colo com todo o cuidado e com a outra mão abria a porta do carro ainda em movimento.

Senti o carro parar de ser dirigido e ouvi portas serem abertas e fechadas. No silêncio do lugar, cheguei a pensar que estava finalmente sozinha com o meu fim. É oque se pensa quando se está perante situações do gênero. Por incrível que parecesse, mesmo depois de tanto sofrimento, eu até morreria feliz, se não fosse pela presença desnecessária que interrompeu os meus supostos últimos minutos de vida.

— Evie, eu nem sei se você está a ouvir oque estou a dizer, mas eu estou arrependido. Agora é sério. Não sei oque se passa mas espero que não seja nada de grave e que fiques bem.

— Cala a boca! — me esforcei para falar.

— Não! Eu não vou calar porque agora estou a me sentir mal, muito mal. Se acontecer algo contigo, a responsabilidade estará inteiramente sobre mim. Eu só faço merda! — suspirou.

— Weben, pelo amor de Deus, cala a boca e me deixa morrer em paz! — falei em um fino fio de voz, pela exaustão mental que sua voz e a dor me causavam.

Fechei os olhos com a pouca força que me restava e me escorreram lágrimas sem que eu notasse. Ouvi a porta ser aberta ao mesmo tempo que mais um grito me rasgou a garganta.

— Segura nessa toalha, vamos te tirar do carro com cuidado e vamos te colocar na maca. — minha mãe disse, passeava suas mãos gélidas pelos meus braços. Tentei me sentar e foi uma péssima ideia, pois a dor parecia piorar quando eu me dobrava. — Com calma e cuidado, filha.

Suas mãos, de Weben e de mais um homem, me ajudaram a sair do carro para a maca. Meus olhos fitavam o céu quando era urgentemente levada para dentro daquele hospital que eu bem conhecia.
Se era drama, não me importava, mas no azul daquele céu me surgiu um rosto que adoraria ver sempre que voltasse da escola. Foi pouco tempo e estava tão frio... Não era só o ar frio que me cortava a pele, mas também era um frio na alma. Algo me fazia sentir sozinha. Eu era rapidamente segregada por aquele sentimento, meu ser me pesava como se outro alguém que me auxiliava com o meu peso se tivesse retirado da sua posição.

     

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