Capítulo 23→"Estou com fome."

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De frente para minha prima e através de seu olhar, incentivou-me a iniciar com as apresentações.

— Dispenso o olá, porque já disse. Esse aqui é o Cleyton meu único amigo...— do meu lado esquerdo estava meu amigo, forçando lisonjas que pouco possuía — e essa é Tânia...

— Já nos conhecemos. — falou minha amiga olhando para o chão com o cenho franzido.

— Como assim? — cruzei os braços no peito e a encarei aguardando por uma resposta.

Agnes ainda mantinha seu sorriso como se debochasse de algo.

— Sim, é verdade, Vivi. — confirmou ela e riu logo depois pela frustração de Tânia.

— Vocês vão explicar ou...? — me virei para Tânia ainda com os braços cruzados no peito, deixando Cleyton para trás enquanto ouvia seus chiados de impaciência.

— É que o mundo é pequeno o suficiente para permitir que eu reencontrasse a pessoa com a qual Dilan me traiu. — o sorriso de Tânia era tão verdadeiro quanto o galanteio de Cleyton.

Então encaixando Tânia na história que Agnes me tinha contado, eu me vi perplexa, tanto pelo facto de ter sido uma imensa coincidência quanto pelo facto de Tânia não me ter contado absolutamente nada sobre aquilo.

— Naaahhh. Usa um pouco a cabeça e deixa de querer ser a única vítima da história, quando esse privilégio é de nós duas. Você já devia saber que os boys fazem isso com a maior facilidade e quando termina em merda, quem sai mal somos nós. — Agnes era dona de uma calma surpreendente enquanto se divertia com a pastilha elástica em sua boca. Exactamente o oposto de Tânia.

— Não acham que já chega? Tânia, eu sei que você é confusa e tal, mas tem como simplificar? — meu amigo era a impaciência em pessoa, disparando as palavras acompanhadas pelo seu olhar cerrado e apoiando seu braço em meu ombro.

— Se ao menos você soubesse de algo, nem... — e meu amigo foi fuzilado por zelar pela paz e harmonia naquele grupo de 4 pessoas.

— Na verdade eu quero saber da boca dela como foi que toda essa confusão começou. — continuei a olhar para ela aguardando por detalhes, mas Agnes interrompeu ao assombiar para ter minha atenção.

— Ela vai ti contar com calma numa outra oportunidade, mas agora me falem como foi no hospital.

E foi assim como ela me lembrou da decisão que eu tomei. Cleyton que estava com o braço apoiado no meu ombro, se endireitou, talvez por notar a seriedade que o assunto ganhava, e cruzou seus braços no peito. A expressão de Tânia tinha suavizado enquanto que Agnes me oferecia um olhar que transbordava curiosidade e ternura ao mesmo tempo.

— Bem,.. — comecei por respirar fundo —...eu decidi gestar. Não sei porque, talvez por medo dos danos que o aborto poderia ter causado ou por medo de sentir culpa ou sei lá...

— Porque ela achou isso errado, resumindo. — disse Cleyton demonstrando que sabia onde eu queria chegar com tudo aquilo. — Pelo menos foi oque ela disse quando estávamos no hospital. — deu de ombros e continuou calado.

Agnes trabalhava seu maxilar e ainda tinha o olhar preso em Cleyton como se buscasse assimilar tudo aquilo. Tânia estava em silêncio e mordiscava os nós de seu polegar. Eu dei ênfase no que Cleyton tinha acabado de dizer, porque era exactamente oque tinha acontecido.

— Sim, porque eu achei e ainda acho isso errado, resumindo. — cocei meu braço esperando pela reação de Agnes.

— Na verdade eu também acho. Não que a minha opinião importe, mas...

— Sim, não importa mesmo. — sussurrou Tânia me fazendo soltar alguns risos, só que se recompôs quando percebeu que todos tínhamos ouvido.

— Prosseguindo, achei uma decisão certa e talvez não seja o lugar, mas é tempo para eu perguntar. Por onde vai começar?

— Não sei. — confessei — Só sei que vou precisar de acompanhamento, só que para tal eu precisaria contar para minha mãe e eu acho que não estou pronta para isso. — permiti que meus ombros caíssem e uma rápida imagem do momento me passou pela mente, me fazendo levar o olhar para o céu.

— A verdade é que você nunca estará pronta para contar isso para ela, mas eu acho que não tem como retardar isso por muito tempo, visto que as coisas vitais para tua gravidez estão praticamente nas mãos dela. Não vamos esquecer que você ainda é menor de idade. — falou pela primeira vez minha amiga, já deixando transparecer sua preocupação.

— Ela está certa, Evie. — concordou meu amigo.

— Eu estou a perceber, mas eu vou chegar lá e dizer oque? Não é tão simples assim e eu estou com medo, de verdade.

— Nós também percebemos que você está com medo e tal, mas você vai ter que começar por algum lugar. E tua mãe é tua amiga. Não será necessariamente fácil, mas acredito que te trará o pouco de paz que você precisa agora e vai te ajudar imenso. Ela é madura e ti conhece como ninguém, tenho a pura certeza que vai saber oque ti dizer e como ti ajudar a lidar com tudo isso da forma que deve ser. — Agnes tinha o cenho franzido como se compartilhasse do mesmo medo comigo.

E suas palavras me fizeram alcançar uma Evie sensata que se escondia sempre por trás de tanto medo e vergonha. O que ela dizia fazia todo sentido, porém, eu não sabia como chegar até ela e dizer que estava grávida. Minha mãe era sim minha amiga e super compreensível, mas eu não sabia como ela ia lidar com uma notícia com gravidade daquela dimensão. A única certeza que eu tinha era que sua definição sobre mim mudaria e sua menininha, em sua mente, seria borrada pela decepção.

— Então? — ao soar da voz de Tânia, todos me encararam esperançosos que algo positivo sairia da minha boca.

Só que eu não sabia oque dizer para além de expressar oque mais me incomodava naquele momento:

— Estou com fome.

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