Capítulo 26→"Vocês, eu estou cansada."

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Lá estava eu, totalmente perdida nos detalhes das minhas sandálias com missangas coloridas. Faltavam alguns dias para as férias iniciarem e eu não estava entusiasmada como costumava estar, por motivos óbvios.
A única coisa que me deixava satisfeita, era que tinha me saído bem na escola. Meus resultados eram mais satisfatórios do que eu esperava e como resultado disso, fui até elogiada por alguns professores e colegas, por ter feito parte dos alunos mais esforçados da turma. Um mérito que me manteve feliz durante um bom tempo, até que meu pensamento me levou de volta a relva verdinha e molhada da casa que ficava afrente da escola.
Minha boca se inundou de saliva e fechei levemente os olhos.

Desejava, temperada que nem salada com atum, com uma persistência estranha que levou meu estômago a atar-se e a quase sair pela boca, para unir-se ao paladar em busca do que tanto desejavam.

— Mh, meu Deus. — espalmei a testa, ainda de olhos fechados, e passei a língua pelos lábios.

— Oque foi? — minha colega atrás de mim perguntou e sem me mover, respondi:

— Estou com uma fome e vontade absurdas.

— Você comeu uma sandes da cantina não tem nem 10 minutos.

Me virei para ver sua face possuída por traços de espanto, que me fizeram sorrir e arrepender por ter pensado alto demais.

— Foi bom trabalhar convosco! — meu professor falou alto e tomou minha atenção —  Espero que o director pedagógico aceite o pedido que fiz, para me manter nesta turma no ano que vem. De qualquer forma, desejo boa sorte à todos vocês e talvez nos vejamos todos lá. — meu professor se despediu e nós aplaudimos enquanto ele saía da nossa sala com um meio sorriso embelezando seu rosto.

Arrumei meu material, me levantei e corri para a sala de Tânia, que ficava no Pavilhão seguinte ao meu, e assim que entrei, sua voz soava alta durante uma conversa com três rapazes.

— Boa tarde, com licença. — cumprimentei aos seus colegas e a puxei pelo braço até um canto. Tive sua expressão como incentivo para começar a falar — Acho que estou a ter o meu primeiro desejo, Taninha! — sorri forçado, sem saber como reagir.

— Já...esse nome? — me olhou de cima para baixo e revirou os olhos, prosseguindo — Qual f...espera, você está feliz? — um sorriso de suspresa espalhou seus lábios.

— Não sei. Parece que sim, oque não devia ser...acho eu. Mas também parece que não...mas parece menos...oque eu não sabia se achava que devia ser ou não. — raspei meu lábio inferior com os dentes — Estou?

— Parece que sim, mas oky. — tornou seu sorriso cauteloso — Qual é o desejo?

— Eu não devia estar, mas acho que estou. Um pouquinho. E estou ferrada e com medo, não feliz. — aí iniciou aquela eletricidade que me percorreu dos pés à cabeça, causada pela realidade que jorava novamente pela minha mente.

— Talvez seja só impressão minha. Fala, qual foi?

— Quando vinha de casa, ví a relva da casa lá afrente e do nada desejei comer temperada com limão, sal, azeite e atum. Como se fosse alface. Que luxo, nem? —  fiz biquinho e peguei firme nos seus dois pulsos.

— Passaram a definição de lixo para luxo e eu nem sabia. — libertou seu pulso da minha mão e se sentou na mesa que ali havia — Quital, contou para tua mãe?

— Aah...então... — cruzei as pernas e aplaudi, tentando retardar a notícia que acabou por sair da boca da pessoa que queria saber.

— Não contou.

— Não...espera, eu contei sim. Tipo, ela estava a cozinhar e tal, aí eu falei só que foram as costas dela que ouviram e quando era para repetir os meus dedos tremeram e ela queimou. — falei rápido demais e a tensão foi possuindo meu corpo com a lembrança de sua "quase percepção".

— Oque? — perguntou confusa e eu me obriguei a admitir.

— Não, não contei. — suspirei cabisbaixa.

— Ela não contou. — falou olhando por cima do meu ombro, para um determinado ponto por trás de mim.

Eu me virei e Cleyton vinha até nós com uma garrafa plástica de água.

— É sério isso, Tânia? Você é uma péssima amiga. — sussurrei antes que Cleyton nos alcançasse.

— Na verdade eu já sabia que ela não contaria. Não é algo que se possa dizer assim...na primeira oportunidade. — estava neutro e com o semblante exausto — Só não deixe de dizer, porque tua mãe será a melhor mentora que você poderá ter, acredita.

— Verdade. — minha amiga concordou enquanto passava suas unhas enormes pelaa suas coxas.

— E você também sabe que o prazo está a encurtar-se e que tem o pré-natal, que devia ter iniciado assim que descobriu que estava grávida, nem? — deu de ombros, se sentou ao lado de Tânia — Estou certo?— olhou para ela enquanto colocava suas pernas no colo dela.

— Isso!

— Ainda tem isso? — meu peito se apertou com o pânico e pensamento de que, com tudo aquilo, teria ignorado coisas importantes.

— Tem.

— Vocês, eu estou cansada. — arranquei a garrafa de água da mão de Cleyton e dei um gole.

__________|♥|__________

— Isso aqui deve valer. — minha amiga me entregou um prato com pão e queijo feta.

— Tânia, eu não vou comer! — Cleyton gargalhou enquanto ela só me encarava quase irritada, assim como eu.

Depois da escola fomos para a casa dela. Cleyton teve que me abraçar forte para que eu não corresse até a relva e caísse de boca nela.
Embora tivesse sido meio divertido, também me sentia assustada e preocupada com o mais novo sintóma da gravidez. Era estranho desejar algo também estranho com tanta vontade e não poder comer, tendo como consequência uma leve escuridão no humor.

— Tem dinheiro para alface e atum? Eu faço, mas esquece a relva!

— Talvez resulte. — meu amigo falou e eu olhei para ele com o rosto prensado contra parede da cozinha de sua casa.

— Não vai. Então bolo?

— Bolo? Qual é a relação entre essas duas coisas? — a impaciência brincava em seu rosto.

— Vamos fazer um? — ignorei suas palavras.

— Tua mãe não vai falar depois. — perguntou, sentado relaxado na cadeira que ali havia.

Minha amiga me ofereceu seu olhar de irritação e logo depois foi até a despensa, respondendo a pergunta de Cleyton com uma frase típica.

— Vai falar enquanto já fizemos.

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