Lá estava eu, totalmente perdida nos detalhes das minhas sandálias com missangas coloridas. Faltavam alguns dias para as férias iniciarem e eu não estava entusiasmada como costumava estar, por motivos óbvios.
A única coisa que me deixava satisfeita, era que tinha me saído bem na escola. Meus resultados eram mais satisfatórios do que eu esperava e como resultado disso, fui até elogiada por alguns professores e colegas, por ter feito parte dos alunos mais esforçados da turma. Um mérito que me manteve feliz durante um bom tempo, até que meu pensamento me levou de volta a relva verdinha e molhada da casa que ficava afrente da escola.
Minha boca se inundou de saliva e fechei levemente os olhos.Desejava, temperada que nem salada com atum, com uma persistência estranha que levou meu estômago a atar-se e a quase sair pela boca, para unir-se ao paladar em busca do que tanto desejavam.
— Mh, meu Deus. — espalmei a testa, ainda de olhos fechados, e passei a língua pelos lábios.
— Oque foi? — minha colega atrás de mim perguntou e sem me mover, respondi:
— Estou com uma fome e vontade absurdas.
— Você comeu uma sandes da cantina não tem nem 10 minutos.
Me virei para ver sua face possuída por traços de espanto, que me fizeram sorrir e arrepender por ter pensado alto demais.
— Foi bom trabalhar convosco! — meu professor falou alto e tomou minha atenção — Espero que o director pedagógico aceite o pedido que fiz, para me manter nesta turma no ano que vem. De qualquer forma, desejo boa sorte à todos vocês e talvez nos vejamos todos lá. — meu professor se despediu e nós aplaudimos enquanto ele saía da nossa sala com um meio sorriso embelezando seu rosto.
Arrumei meu material, me levantei e corri para a sala de Tânia, que ficava no Pavilhão seguinte ao meu, e assim que entrei, sua voz soava alta durante uma conversa com três rapazes.
— Boa tarde, com licença. — cumprimentei aos seus colegas e a puxei pelo braço até um canto. Tive sua expressão como incentivo para começar a falar — Acho que estou a ter o meu primeiro desejo, Taninha! — sorri forçado, sem saber como reagir.
— Já...esse nome? — me olhou de cima para baixo e revirou os olhos, prosseguindo — Qual f...espera, você está feliz? — um sorriso de suspresa espalhou seus lábios.
— Não sei. Parece que sim, oque não devia ser...acho eu. Mas também parece que não...mas parece menos...oque eu não sabia se achava que devia ser ou não. — raspei meu lábio inferior com os dentes — Estou?
— Parece que sim, mas oky. — tornou seu sorriso cauteloso — Qual é o desejo?
— Eu não devia estar, mas acho que estou. Um pouquinho. E estou ferrada e com medo, não feliz. — aí iniciou aquela eletricidade que me percorreu dos pés à cabeça, causada pela realidade que jorava novamente pela minha mente.
— Talvez seja só impressão minha. Fala, qual foi?
— Quando vinha de casa, ví a relva da casa lá afrente e do nada desejei comer temperada com limão, sal, azeite e atum. Como se fosse alface. Que luxo, nem? — fiz biquinho e peguei firme nos seus dois pulsos.
— Passaram a definição de lixo para luxo e eu nem sabia. — libertou seu pulso da minha mão e se sentou na mesa que ali havia — Quital, contou para tua mãe?
— Aah...então... — cruzei as pernas e aplaudi, tentando retardar a notícia que acabou por sair da boca da pessoa que queria saber.
— Não contou.
— Não...espera, eu contei sim. Tipo, ela estava a cozinhar e tal, aí eu falei só que foram as costas dela que ouviram e quando era para repetir os meus dedos tremeram e ela queimou. — falei rápido demais e a tensão foi possuindo meu corpo com a lembrança de sua "quase percepção".
— Oque? — perguntou confusa e eu me obriguei a admitir.
— Não, não contei. — suspirei cabisbaixa.
— Ela não contou. — falou olhando por cima do meu ombro, para um determinado ponto por trás de mim.
Eu me virei e Cleyton vinha até nós com uma garrafa plástica de água.
— É sério isso, Tânia? Você é uma péssima amiga. — sussurrei antes que Cleyton nos alcançasse.
— Na verdade eu já sabia que ela não contaria. Não é algo que se possa dizer assim...na primeira oportunidade. — estava neutro e com o semblante exausto — Só não deixe de dizer, porque tua mãe será a melhor mentora que você poderá ter, acredita.
— Verdade. — minha amiga concordou enquanto passava suas unhas enormes pelaa suas coxas.
— E você também sabe que o prazo está a encurtar-se e que tem o pré-natal, que devia ter iniciado assim que descobriu que estava grávida, nem? — deu de ombros, se sentou ao lado de Tânia — Estou certo?— olhou para ela enquanto colocava suas pernas no colo dela.
— Isso!
— Ainda tem isso? — meu peito se apertou com o pânico e pensamento de que, com tudo aquilo, teria ignorado coisas importantes.
— Tem.
— Vocês, eu estou cansada. — arranquei a garrafa de água da mão de Cleyton e dei um gole.
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— Isso aqui deve valer. — minha amiga me entregou um prato com pão e queijo feta.
— Tânia, eu não vou comer! — Cleyton gargalhou enquanto ela só me encarava quase irritada, assim como eu.
Depois da escola fomos para a casa dela. Cleyton teve que me abraçar forte para que eu não corresse até a relva e caísse de boca nela.
Embora tivesse sido meio divertido, também me sentia assustada e preocupada com o mais novo sintóma da gravidez. Era estranho desejar algo também estranho com tanta vontade e não poder comer, tendo como consequência uma leve escuridão no humor.— Tem dinheiro para alface e atum? Eu faço, mas esquece a relva!
— Talvez resulte. — meu amigo falou e eu olhei para ele com o rosto prensado contra parede da cozinha de sua casa.
— Não vai. Então bolo?
— Bolo? Qual é a relação entre essas duas coisas? — a impaciência brincava em seu rosto.
— Vamos fazer um? — ignorei suas palavras.
— Tua mãe não vai falar depois. — perguntou, sentado relaxado na cadeira que ali havia.
Minha amiga me ofereceu seu olhar de irritação e logo depois foi até a despensa, respondendo a pergunta de Cleyton com uma frase típica.
— Vai falar enquanto já fizemos.
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EVIE: Das Más Escolhas Nasceu A Maturidade
Teen FictionNum dia somos crianças que questionam a vastidão do céu e noutro somos adolescentes que se precipitam com as coisas, mesmo sabendo que por vezes, são poucas as chances de se terminar no bendito final feliz. Evie aprendeu isso da forma mais vergonhos...