Capítulo 37→" Agnes, querida Agnes! Me dê uma faca."

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Mais alguns quilos de comida foram parar na pia, depois que meu estômago e olfato se tornaram inimigos de Chouriço que eu tanto amava antes da gravidez.

— Da até pena. Não é uma boa coisa te ver a sofrer assim.  — minha mãe falava enquanto me olhava neutra e esperava que o balde enchesse de água.

— Mas tinha que ser chouriço? Justamente chouriço? — resmunguei fraca e irritada ao mesmo tempo.

— Gravidez nos faz detestar oque tanto gostamos de comer ou fazer, normalmente. Eu também odiava muito pai do teu pai, enquanto ele me mimava muito. Comprava frutas para mim e ia deixar em casa da minha mãe quando eu fiquei um tempo lá, mas eu estava nem aí para ele. Quando chegava eu dizia para minha mãe "adja yine lweyu? Aa muki kaya kwake, hikussa wani nhenhentsa". Minha mãe só ria porque sabia que era efeito da gravidez, ria mais ainda quando eu comia com todo gosto tudo oque ele trazia para mim enquanto murmurava que ele me irritava muito. — seus olhos brilhavam, denunciando que aquilo fazia parte das suas melhores memórias — Mas quando dei parto tudo voltou ao normal. Teu avô sempre gostou muito de mim, dizia que era porque eu era a futura esposa do filho mais velho dele e tinha a aprovação dele.

Fiquei normal de novo e me levantei com o apoio da pia. Mais uma das histórias da sua gravidez foi contada naquele cenário e para mim era irônico, pois ela sempre contava coisas que fossem de acordo com oque eu passava no momento.

— Eu posso odiar tudo, menos chocolate. — falei e enchi minha boca com água para limpar os restos nela.

— Sim, sim. Agora vai ajudar tua prima a preparar coisa para vocês levarem. — disse enquanto despejava água do balde na pia.

— Assim eu vou matabichar com oque?

— Minha cabeça. — olhou para mim com o cenho franzido — Vai ver! Eu vou saber oque você quer comer?

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— Não acho que seja necessário você pôr essa camisola com todo esse calor.

— É necessário sim! Não quero correr riscos. — plantei as mãos na cintura e olhei para minha prima que colocava um brinco.

— Eu disse que não se nota! É sério. Eu ia mentir para ganhar oque? — sua pergunta me deixou sem resposta.

De facto ela não tinha motivos para mentir, nem mesmo para me despreocupar, mas mesmo assim eu não me sentiria confortável. O relógio marcava 13 horas e alguns minutos quando eu e minha prima nos arrumávamos para o social. Eu ainda estava indecisa e não suportava a ideia de ter sido eu a escolhida para ser o tal enigma.

— Mas porque você chamou justo a mim para ir contigo? Com tantas pessoas que você conhece.

— Tantas pessoas quem são?

— Sei lá...você tem amigos. Podia levar teu irmão, um outro primo ou outra prima...

— Meus amigos todos são membros do grupo, meu irmão não aceitaria sair comigo e eu escolhi a te porque quero que você se divirta um pouco, se distraia e descontraia. Voce precisa disso mais do que as "tantas pessoas". Mentira? — fez aspas e amarrou seus atadores.

— Não. — suspirei e me sentei na cama — Mas se alguém descobrir?

— Só vão descobrir se você contar, porque eu não tenho planos de fazer isso. E relaxa! Por mais que saibam, eles não vão fazer diferente de mim ou dos teus amigos.

— Ok, mas quem estará lá?

— Edneyva, Samuel, Tiago, Daniel, que é o dono da casa na qual faremos o social, e mais umas três pessoas sem contar com enigmas de cada um.

— Que são?

— Não tem como saber, Vivi. São enigmas! E-n-i-g-m-a-s. — disse e correu para onde tinha sua pasta para procurar algo que eu não soube oque era — Já estás pronta?

— Eu sim, só faltam sapatos e pentear cabelo.

— Então não vai levar camisola?

— Vou! Se perguntarem, estou com febres.

Me olhou por longos segundos, depois levantou suas mãos em redenção.

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Chegamos na casa de Daniel, um dos amigos de Agnes, na qual seria feito o social. A casa ficava num condomínio, na zona da Mozal, que não era tão luxuoso assim, porém, a casa em particular era bem bonita e organizada.

— Boa tarde! — respondi enquanto olhava para o filho dos donos daquela casa.

Era sem dúvidas um moço bonito. Parecia ser mais velho que Agnes, não mais que quatro anos, oque fez com que eu prestasse mais atenção nos seus detalhes.
Daniel, era seu nome. Homem magro, alto e de pele clara; tinha olhos puxados e lábios num tom rosa bem chamativo; tinha o cabelo castanho bem organizado em um corte bem simples e bonito; cheirava a Black Diamond recentemente posto e sorria de forma simpática e acolhedora para nós. Alguns segundos foram suficientes para fazer uma análise rápida do que era sua beleza física e obtive ótimos resultados.

Evie! meu subconsciente me repreendeu.

Voltei a pensar que devia ser a última pessoa a fazer aquilo, naquela situação. O pingo de responsabilidade que tinha em mim me fez recuar e me comportar como alguém que tinha acabado de receber uma rasteira do destino.

— Onde coloco essa travessa? — ergui a travessa para que ele me indicasse um lugar para deixar.

— Na mesa lá no quintal. É só seguir minha irmã. — apontou para a menina que seguia seu caminho para fora da casa pela porta traseira.

— Ok.

 Segui a menina até me deparar com uma mesa perto da garagem que lá havia. Estava tudo muito bem organizado e bonito. Algumas cadeiras espalhadas junto a mesa e algumas crianças que brincavam pelo quintal, davam um ar de "domingo a tarde com a família".
Fui deixar a travessa na mesa e quando me virei, Agnes vinha com duas travessas na mão e um pacote de guardanapos sustentado pelo seu pulso esquerdo.

— Ainda não chegou quase ninguém e eu pensava que estavamos atrasadas.

— Ainda bem que você está a dizer isso pessoalmente.

Observei minha prima colocar de forma cuidadosa oque tinha nas mãos e arrumar como devia ser. Ouvimos vozes vindas de dentro da casa, mas ignoramos e fiz comentários sobre a casa e a decoração:

— Gostei da casa. É diferente das outras e souberam economizar bem o quintal. — varri o olhar pelo lugar.

— De facto. Deve ser uma referência desse condomínio. — Se virou para mim e colocou suas mãos nos bolsos de trás da suas calças jeans.

Antes que eu pudesse responder, as vozes das pessoas que falavam se tornavam mais próximas, me fazendo questionar quem eram. Dentre elas surgiu um riso familiar, porém, não pude identificar de quem era, até o momento em que me virei para matar minha curiosidade. Me arrependi no segundo seguinte, assim que meu olhar se cruzou com um dos que ali estavam.

Ele me olhou, primeiramente, como se buscasse me reconhecer, diferente da minha pessoa, que já lhe teria assassinado se pudessem sair facas dos olhos.

— Agnes, querida Agnes! Me dê uma faca!

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Adja yine lweyu? — "Oque quer, este?"

Aa muki kaya kwake hikussa wani nhenhentsa. — " Que vá para casa dele, porque me irrita."

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