Capítulo 24→" Mãe, estou grávida."

109 47 4
                                    

E como foi que ela soube que você está grávida?

Ela e o irmão dela vieram para cá num final de semana. Não me lembro muito bem, mas acho que havia guardado o teste por baixo das minhas roupas e minha mãe acabava de engomar, então queria guardar minha roupa lá. Então eu tirei o teste de lá e coloquei por baixo da almofada logo que eles chegaram, comprimentos e blá blá blá, aí eu decidi ficar com eles no quarto e quando eles entraram ela foi se sentar na cama e o teste estava por baixo na almofada que ela levou para colocar no colo dela e ela viu. Fim. — contei com o desinteresse evidente e com a atenção no laptop do meu pai, pois ele tinha me mandado digitar algo.

Então ela tem um irmão, sim?

Sim, gêmeo del...Espera aí, você ouviu oque eu disse? — parei por um momento para prestar atenção na sua resposta.

Sim, idiota.

— Oque foi que eu disse?

Que ela tem um irmão gêmeo. IRMÃO. — disse a frase dando ênfase na palavra irmão, oque me fez espalmar a testa e  suspirar.

— Da bíblia toda que eu lí, você só ouviu isso? Você parece uma maníaca, porque não esquece essa porcaria toda e perdoa ela. Você nem tem que perdoar a ela porque ela foi vítima assim como você foi.

Você não entende, Evie. — sua voz ficou mais fraca, só então percebi que tudo isso envolvia o coração dela, oque não era bom para ela nem para o tal de Dilan — Eu acho que você sabe o poder que as palavras de um desgraçado têm, por mais que estejam carregadas de mentiras e ilusões. Não tem muito haver com ela, mas eu implico porque enfim. Você sabe que são poucos os que se aproximam de mim para dizer que gostaram de mim ou do meu sorriso ou sei lá...só para me elogiar. E ele fez isso, sabe? Para depois de duas semanas de namoro...namoro ao caraças...mas é isso...eu descobrir que ele namorava com outra pessoa já havia mais tempo. Eu sinceramente já esperava que isso fosse acontecer, mas eu não estava preparada porque ninguém nunca está. E no final quem foi traída foi só ela. — respirou fundo e ficamos algum tempo em silêncio.

Eu ouvia sua respiração do outro lado da linha sem saber oque dizer. Suas palavras pareciam pequenas gotas de um pedaço de gelo derretido. Quando respirou fundo no final, eu soube que ele tinha conseguido desfazê-la, mas tinha feito merda. Como os outros fizeram.

Até você? — torci os lábios ao perceber que aquilo tudo a magoou de verdade — Teu coração sofreu uma carnificação. — sorri já prevendo a sua reação.

Oque é isso?

— Passou de gelo à carne. — sorri e mordi o lábio quando percebi que arranquei de si um riso fraco.

Tânia não era muito de falar sobre seus sentimentos ou de demonstrar, mas quando o fazia era para ser valorizada e muito. Só que parecia não ter sorte em namoros e de facto nunca teve crushes que correspondessem aos seus sentimentos.

Me desculpa por não ter contado nada, você sabe como eu sou.

Não faz mal. Então isso quer dizer que vai deixar de implicar com Agnes?

Não! Você sabe disso, não ela. E se você contar, senão vai ser promovida à limpadora de ouvidos de Whitney Houston. — Já dava até para imaginar a sua sobrancelha arqueada.

— Me ameaçand...

Chamada off

E a operadora percebeu que não terminariamos a chamada por bem, então fez que terminasse por mal. Atirei o telefone na cama e fiquei algum tempo olhando para a tela do laptop, o usando como fundo para meus pensamentos, que eram muitos e emaranhados. Eu tinha talvez  um bilhão de palavras que vinha colecionando e aprendendo desde o nascimento até então, mas nenhuma parecia leve o suficiente para fazer parte da frase que eu diria para minha mãe.

Combinações sem nexo algum foram feitas.

"Mãe, quer se casar com eu estou grávida?"

"Mãe, a comida está grávida como eu."

Por mais engraçado que parecesse, era o efeito do desespero em mim. Então eu me perdia em pensamentos até me levantar para ir para qualquer lugar. Meus pés e olfato me levaram até a cozinha de onde saía o cheiro de camarão guisado e maracujá que entravam em meu nariz de forma aleatória e manipulavam a produção de saliva na minha boca.
Lá estava ela, em suas calças caqui e sua regata cor creme que condizia perfeitamente com sua pele negra. Algo que me fez pensar no bom gosto que meu pai tinha. Ela mexia de forma profissional uma panela que parecia ser de arroz e suas mechas finas que estavam num coque, dançavam de forma fruitiva pela força que seus movimentos tinha. Perdida no encanto da sua imagem, na fome criada pelo cheiro da comida e no medo de falar oque não devia, fiquei quieta observando como se meu silêncio dependesse daquilo.
O barulho da batedeira eléctrica junto com o da fervura dos alimentos que coziam nas panelas, harmonizaram com minha voz assim que eu disse, sem que pudesse perceber, oque não devia.

— Mãe, estou grávida.

EVIE: Das Más Escolhas Nasceu A Maturidade Where stories live. Discover now