Capítulo 51→"Você não está com medo?"

69 22 0
                                    

Segunda-feira

Aquela gravidez me fazia pensar que eu era um cágado na vida anterior, pela forma tão lenta que eu funcionava. Estava de frente para o espelho, com os cotovelos doloridos porque tentava fazer um rabo de cavalo bonito havia aproximadamente 10 minutos. Ou saía de lado, ou de frente; ora saía de trás, ora da ponta, mas nunca do meio da cabeça.
Se isso responde a uma possível pergunta: não, eu não consegui fazer um rabo de cavalo e estava quase atrasada.

— Ah! — choraminguei e atirei o elástico para o chão com a pouca força que me restava.

Ao olhar para o espelho, me deparei com uma Evie diferente. Ignorei o facto das mechas estarem a cobrir quase toda minha cara e me encantei com a minha organização. Não me via daquela forma desde a semana de avaliações finais.
O cheiro de novo que meu uniforme exalava, se misturava com meu novo perfume com aroma de caramelo. Eu estava bem bonita, embora minha barriga marcasse mais do que devia. Tombei a cabeça para o lado enquanto considerava a ideia de colocar algo por cima da camisa.
Minhas calças eram perfeitamente preenchidas, a gravata estava exactamente onde devia, me virei de lado para ver se estava tudo certo e felizmente estava. Estava bonita e era oque bastava. Não me importava mais em esconder a barriga que todo mundo acabaria por ver em pouco tempo, apenas organizei minhas mechas e levei algumas delas para trás da orelha. Sorri com o resultado, peguei nos óculos por cima da cama, coloquei e comecei a andar para fora do quarto.

— Boa tarde, pré-universitária.  Mas se as coisas forem assim pelo resto do ano,você será finalista duas vezes. — minha mãe me intersetou no corredor e me analisou dos pés à cabeça — Estás bonitas e é melhor correr porque estás atrasada.

— Obrigada, mas porque tanta pressa? É primeiro dia de aulas. Nem precisava ir. — coloquei a outra alça da minha pasta de costas por cima do ombro e olhei para minha mãe, que não me oferecia o melhor olhar — Até já!

Caminhei apressada até a porta para que, pelo menos, minha mãe pensasse que eu de facto queria correr contra o tempo. Ouvi um "Até logo" e abri a porta para desgraçar meu corpo ao ver que tinha mais um factor que estimulava minha falta de vontade de sair: o sol e seu brilho extremamente egoísta.

Seriam 12 longos minutos de caminhada até a escola. Fechei a porta por trás de mim e comecei a arrastar meu corpo até fora do quintal.
Assim que coloquei meus pés na rua, me deparei com pessoas apressadas. Outras cansadas como eu, algumas iam, outras vinham, mas eu tinha certeza que o sol se tinha zangado com todos nós. Comecei a andar e meu coração disparou automaticamente quando só me perguntava se tinha tomado a decisão certa de não ter vestido uma camisola.

__________|♥|__________

— Desgraçada! — a voz da minha amiga soou e me fez travar bem na entrada da escola.

Olhei para trás para vê-la vir acompanhada por Cleyton e seus dois colegas. Estreitei o olhar em sua direção e levei a mão a testa para criar uma proteção contra os raios solares. Esperei por eles que não tardaram em me alcançar.

— Olá, pessoas. — sorri e voltamos a andar.

Tânia me analisava e eu acreditei que ela também tinha notado a saliência em meu abdômen, porque olhou tempo demais para ele. Uma das coisas que o manual dizia, era que era necessário prepararmos as pessoas próximas para as nossas mudanças. Foi então que eu percebi que, tanto meus amigos, quanto minha mãe, não estavam preparados para lidar comigo daquela forma, porque eu vestia sempre algo que escondesse.

— Sim, eu decidi começar a assumir isso logo. — sussurei e olhei de relance para Cleyton, que tinha uma expressão de aborrecimento no rosto quando seu colega tagarelava sem parar.

— Então é isso. Aquele livro tem te ajudado mais do que eu imaginava. Você não está com medo?

— Claro que estou. Mas eu acho que, pelo menos por enquanto, dá para manter a mentira de que comi muito nas férias, não? — torci os lábios.

— Pelo menos para mim não funcionaria.

— Claro, porque você já sabe. Não é como se você fosse tão inteligente assim. — ri da sua cara e voltei a olhar para Cleyton que veio para meu lado.

— Tudo bem contigo? — olhou para mim e eu fiz o mesmo.

Seus olhos denunciavam seu cansaço e eu já podia imaginar oque estava a se passar.

— Acho que bem, tirando o cansaço. Porquê é que as vitrines tinham que ficar tão longe? — suspirei e espalmei seu ombro — Não tem dormido, meu amigo?

— Falamos depois sobre isso, estou cansado de falar. — olhou para frente e sorriu fraco.

O corredor estava lotado, então aquilo nos obrigava a retardar nossos passos.

— Parece que está cansado de ouvir, também. — riu por ter percebido onde quis chegar e algum tempo depois estávamos de frente para as vitrines.

Cada um seguiu para a vitrine que correspondia a sua secção e eu fui ver que meu nome saiu na sala que eu não queria estudar. Na minha óptica, estava muito mal localizada. Estava perto da cantina. Aquilo até que seria bom se eu tivesse tanto dinheiro quanto fome.

Sala 17? Really? — falei em voz alta para que meus amigos ouvissem.

— Pelo menos você não está ao lado da casa de banho. — Tânia disse irritada.

— E nem no laboratório de Biologia. — ouvi meu amigo dizer — Essa escola devia melhorar as nossas condições de vida.

Comecei a rir de tudo aquilo e cheguei a duvidar do que disseram, foi exactamente isso que fez com que eu fosse confirmar. Era mesmo verdade. Estávamos ferrados.

— Tomara que, pelo menos, tenha entrado alguma pessoa bonita na turma. — minha amiga nos puxou pelas mãos até sairmos daquele entulho de pessoas.

— Boa sorte para vocês, eu preciso achar minha turma e saber quem será nosso DT. — Cleyton disse enquanto caminhava de costas.

— Tchau! — dissemos em uníssono.

EVIE: Das Más Escolhas Nasceu A Maturidade Where stories live. Discover now