Depois do banho, passei loção pelo corpo e desodorante nas axilas. Para absorver a fonte da minha angústia, coloquei absorvente e escolhi um vestido amarelo, largo, comprido e de tecido fino para que me sentisse confortável. Por fim calcei as pantufas da minha mãe e fui para a cozinha em busca de algo para comer.
Um prazer que eu sentia em estar limpa, era cheirar a sabonete de flores com loção de laranja e óleo de abacate. Pelo menos aquele cheiro não me dava náuseas, muito pelo contrário, me fazia querer juntar tudo num prato e comer.
Arrastei as pantufas pelo chão da cozinha até estar de frente para o fogão, tinha só uma panela que abri e tinha batatas, ovos, cenouras, cebola, couve, feijão verde e repolho. Tudo cozido. Me preocupei em temperar tudo aquilo e comer, mas quando estava para colocar as mãos na massa, meu telefone tocou.Me apressei em voltar para o quarto e assim que coloquei as mãos no aparelho, vi que era uma chamada de Cleyton.
Chamada on
— Alô!
— Estou aqui há mais de 20 minutos. Você não pega no telefone e nem ouve. Venha abrir esse portão!
— Estou a vir. — respondi com um sorriso.
Chamada off
Corri até a sala e abri a porta principal. Assim que o vi, diminui a velocidade dos meus passos e passei a regular minha respiração acelerada.
— Você estava a gritar baixo, por isso não ouvi nada. — justifiquei enquanto caminhava para a entrada sob o olhar fuzilante do meu amigo.
— Eu não gritei porque vai contra meus princípios. Dei socos nesse portão e mesmo assim você não ouviu. — fechou o zíper da sua camisola.
— Ah...nesse caso, desculpa. — falei já destrancando o portão e logo depois o abri, dando passagem para ele. — Já conheces o caminho.
Assim que passou por mim, fechei o portão e o segui. Me permiti analisar a sua forma de andar e era meio peculiar, tinha sempre as mãos nos bolsos: ou da calça ou da camisola.
— Porquê é que você não anda como os outros que parecem ter levado tiros nas pernas e quebrado suas colunas? — ri e ele se virou para me encarar como se eu tivesse falado mais um dos meus absurdos.
Seu rosto estava em traços que denunciavam risos por vir.
— Você raramente pergunta coisas com sentido, agora. — riu junto comigo e algum tempo depois estávamos dentro da minha casa.
— Não tem sentido, minha pergunta?
— Porque é que você não é parecida com essas meninas todas que andam por aí?
— Porquê? — perguntei já prevendo sua irritação.
Detestava que eu respondesse as suas perguntas com outras perguntas, por isso me olhou sério quando passei para frente, segurei sua mão e o guiei até a cozinha.
— Eu estava para comer quando você ligou. Queres comer algo? Mas não é de coração. — brinquei.— Eu sei, mas não quero nada. Só um copo de água. — se livrou do meu aperto suave e se sentou na cadeira que ali havia.
— Levante e sirva-se, você já não é visita e tanto eu quanto minha mãe já dissemos isso. — falei quando me digiria ao fogão para continuar com os preparativos da minha refeição.
— Fez oque eu disse para fazer? — levantou, deixou sua pasta por cima da mesma cadeira e deu passos lentos até o armário no qual ficavam os copos.
— Não, ainda não. — meus olhos e mãos dedicavam-se ao controle e corte dos alimentos cozidos. — Estava a tomar banho e vestir, você foi rápido. — sorri sem graça e olhei de relance para meu amigo que encheu um copo com água e bebeu toda em apenas dois goles.
— Ou foi você que demorou. Mas estás melhor? Ainda estás a...sagrar? — encheu o copo pela segunda vez.
— As dores de barriga continuam, mas não tão fortes como quando caminhava para cá. E sim, ainda estou a sangrar.
— Ótimo! Seja rápida então, precisamos ver oque você tem.
__________|♥|__________
De estômago cheio e relaxada no sofá na companhia de Cleyton, eu me fazia atenta a leitura dele, que tentava saber, com base no livro, o que acontecia comigo. Meu amigo estava com o livro no colo e passava o dedo pela página enquanto lia em voz alta oque nela estava escrito.
— Você sabe que todo livro tem índice, nem? Ou vai querer ler o livro de ponta à ponta? Acredita, você não vai querer fazer isso. — falei já impaciente e com uma almofada pressionada conta minha barriga.
— Eu sei que tem índice, mas eu quero ler algo antes. — ergueu seu olhar para mim e franziu o cenho durante o contacto visual — Já agora, oque houve com você e Tânia?
— Falou muito. Tem boca grande. — passei minha língua pelo lábio superior de forma estranha, sem saber porque fazia aquilo.
— Disso todos nós sabemos, mas ela disse oque? — semi-fechou o livro e me deu toda sua atenção.
— Vamos falar sobre isso depois, eu não quero falar nem sobre isso e nem quero saber oque tenho.
— Porquê?
— Não sei, tenho medo e não vou ficar em paz. Sei lá...
— Tem certeza? Eu particularmente não acho uma boa ideia.
— Tenho.
— Está bem, nem? Mas se for algo simples, você tem que saber. Se for algo sério, também precisa saber para tratar enquanto ainda é cedo. Eu acho que você devia ter o máximo de cuidado possível, agora que é responsável por duas vidas.
— Eu sei, só que tenho medo de saber. Só isso.
Meu amigo me olhou por algum tempo e fechou completamente o livro quando suspirou pesado.
— Pensa no que eu te disse, Evie. Você sabe que eu sempre tento te entender, mas pode ser uma coisa simples e normal, como também pode ser algo sério que você pode estar a tempo de curar, salvar, sei lá...
Cleyton estava certo e eu teria a noite toda para decidir aquilo com o bebé. Foi o que pensei antes de sentir que tínhamos passado tempo demais a discutir e falar sobre mim que nem me dei tempo para saber como ele estava.
— E você, como está? — a pergunta pareceu ter lhe surpreendido ligeiramente.
— Normal. Ainda em conflitos com meu pai, problemas financeiros dos meus tios, rejeições, etc. Mas estou um pouco bem. — cruzou os braços e permitiu que seu corpo relaxasse.
— Você sente como se estivesse entupido, pesado e engasgado, nem?
— Porquê?
— Porque você está a mudar. Fala pouco, anda como se carregasse algo nos ombros e dificilmente expressa oque sente. — cruzei minhas pernas e pressionei mais ainda a almofada contra minha barriga.
— Nada haver. É que parece que falei muito a minha vida toda... — sorriu de leve e piscou como em câmera lenta, um pestanejar lento como o tamborilar de dedos que fez —...é vez de escutar, agora.
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EVIE: Das Más Escolhas Nasceu A Maturidade
Teen FictionNum dia somos crianças que questionam a vastidão do céu e noutro somos adolescentes que se precipitam com as coisas, mesmo sabendo que por vezes, são poucas as chances de se terminar no bendito final feliz. Evie aprendeu isso da forma mais vergonhos...