O telefone tocou, de novo. O jovem rapaz que chorava intensamente não se sentia capaz de atender. Não outra vez. Provavelmente seria mais um familiar preocupado com ele, querendo-lhe dar as condolências. A pessoa que lhe era mais importante faleceu. Apenas lhe restava um alcoólico viciado no jogo. O homem que lhe deu a vida, mas que não o ensinou a vivê-la.
Agora que sua mãe partiu para um lugar melhor, Richard já não via um sentido na vida. Aquela casa, que durante anos foi lugar de muitos altos e baixos, de momento, era o sítio onde o rapaz não se via mais. Não conseguia aguentar todo o sofrimento que aquele espaço transmitia.
- Richard, chega aqui! - ele gritou, possivelmente embriagado.
Este nem respondeu. Enxugou as lágrimas, ergueu a cabeça e destrancou a porta do quarto. Claramente, seu pai não estava minimamente preocupado com a morte da sua mulher, ele só tinha dois amores: o álcool e o jogo.
Já em frente do seu progenitor, apenas fixa o seu olhar no dele. Ambos permaneciam calados. Talvez ele se tenha esquecido do que pretendia. Ou esteja apenas a tentar arranjar o orgulho que outrora vira no seu filho, mesmo que nunca o tenha demonstrado.
Ao contrário do que Richard acreditava, seu pai, Johnson, não era má pessoa. Ele era doente! Ele sabia disso. Ele queria ajuda, mas não a sabia pedir. Afinal, é quando estamos mal que damos a parte mais forte a conhecer aos outros. Esta força era demonstrada através da agressividade, não física. Johnson nunca seria capaz de tal, mas a sua rispidez, o seu desinteresse, criava no jovem uma imagem desprezível do seu criador. Não há como não o culpar, esta foi a única face que ele conheceu do pai.
Momentos passaram. Ninguém dizia nada. Richard estava prestes a sair da cozinha, lugar onde estavam, quando ouve um suspiro.
- Eu quero mudar! Por ela, por ti e por mim. - finalmente seu pai falou. Esta frase ecoou na sua mente, como se não tivesse fim. O rapaz, pela primeira vez, sentiu algo que não raiva. No entanto, por mais que ele quisesse acreditar, algo não o permitia. Foram 17 anos a sofrer. 17 anos de sacrifício. 17 anos em que não pôde ser uma criança como as outras. Em que teve de crescer depressa, sem poder aproveitar a beleza da infância. Não era possível que, repentinamente, as coisas pudessem mudar. Uma lágrima escorreu no rosto do quase adulto. Desta vez não era de tristeza. Talvez de esperança. De querer crer no seu pai mais do que o que devia. Mas e o orgulho? O que é que falará mais alto?
- Achas que, depois de tudo, mereces perdão? Ou uma oportunidade? - Richard questionou.
- Não! - o rapaz não esperava esta resposta. Intrigante! - Mas estou pronto para te provar que merecerei, um dia! - estas palavras já mexeram com o jovem. Por mais que ele não quisesse, ele era o seu progenitor.
(...)
A verdade é que ele mudou mesmo. Richard não se sentia pronto para esquecer o passado. Mas, com 25 anos, estava finalmente a aceitar o seu pai. Não o alcoólico viciado no jogo que era há 8 anos, mas o homem saudável que, agora, se encontrava ao seu lado.
YOU ARE READING
What I Learned With Me
Non-FictionNão me sinto capaz de caracterizar este livro. Posso apenas dizer que são pensamentos de um indivíduo quase adulto com demasiadas opiniões que, por algum motivo, são partilhadas para serem lidas por quem queira identificar-se ou apenas ler e critica...
