Conheci um anjo. Não sei que terei feito eu para merecer esta pessoa na minha vida. Eu não sou de me afeiçoar. Porque é que este miúdo mudou isso? Porque é que o meu coração, assim como a mente, só pensa nele? Como é que ele tem tanto efeito em mim? São demasiadas perguntas por responder... não sei o que fazer. Acho que vou apenas viver com elas e aceitar que nem tudo na vida é uma ciência. Planos fora de planos acontecem. Certo?
O mais intrigante, dentro de mim, é o facto de eu não conseguir responder aos outros. "Como é a vossa relação?" Inexplicável, penso eu. Sinto uma grande dificuldade em descrever tudo o que me passa na cabeça sobre este pequeno rapaz.
Eu adoro-o. Demasiado, dado o tempo em que nos conhecemos. Não me arrependo por isso. Penso que me afeiçoar àquele rapaz foi uma das melhores decisões que, inconscientemente, tomei. O meu lado paternal pode estar precocemente ativo, mas é inevitável. Eu não tive um irmão que me ajudasse a perceber o mundo. Alguém com quem eu pudesse desabafar sobre a inconstância da vida. Talvez essa parte carente de mim tenha necessidade de evitar que o mesmo aconteça com este jovem. Se assim for, então farei isso da melhor forma possível.
Tantas razões eu tento encontrar para explicar este amor incondicional que sinto. É inútil. Por mais que tente racionalmente falar sobre o miúdo, só conseguirei arranjar uma resposta dentro de mim, na emoção, no sentimento. Não na razão, no certo. O amor não é certo, não se racionaliza, sente-se, e isso assusta-me. Não sou de sentir amor em grandes doses. Não combina comigo. Parece que está na hora de lidar com a vulnerabilidade que este miúdo me traz. Sinto-me fraco por ter saudades dele. Eu deveria ser quem apoia, quem é forte e quem mostra que, apesar de tudo, a nossa ligação é inquebrável. Mas hoje acordei assim. A sentir falta dele, mais que o costume. De forma mais intensa. Como posso eu ser um exemplo quando preciso de alguém para me ajudar a mim? Ajudar a perceber esta relação, a conseguir lidar com a sensação que habita em mim. Mas não tenho ninguém. Porque não me sei expressar. Não sei como usar as palavras, ou pelo menos falá-las. Não faz parte de mim.
Às vezes é complicado lidar com a saudade. As dúvidas suscitam intensamente e os nervos estão à flor da pele. É uma tortura. E eu sinto-as todos os dias desde que conheci o pequeno rapaz que ainda me inquieta. Não sai da minha mente. O pior é que sinto que não estou a ser suficientemente bom para ele. Eu não o mereço. As suas qualidades não se comparam aos meus defeitos. Sinto-me mal por me sentir um fardo. O que é que ele pensa de mim? Esta pergunta ecoa na minha cabeça, para além das demais. Não me desapega a hipótese de poder estar a sentir todos estes sentimentos por ele, a necessidade de o proteger, o carinho e o afeto, e, no final, não ser correspondido. Tenho receio, medo, pavor disso. Ele é-me tudo.
Neste momento, isto é o que sinto. Ou parte, tendo em conta que nem eu sei, por completo, o que se passa na minha mente. Aquilo que consegui escrever foi o que consegui interpretar até agora. Espero que, com o tempo, consiga finalmente decifrar o turbilhão de sensações e sentimentos que estão dentro de mim. Este rapaz está a transformar-me. Eu nunca fui de lidar bem com a mudança. E agora?
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What I Learned With Me
Non-FictionNão me sinto capaz de caracterizar este livro. Posso apenas dizer que são pensamentos de um indivíduo quase adulto com demasiadas opiniões que, por algum motivo, são partilhadas para serem lidas por quem queira identificar-se ou apenas ler e critica...
