Capítulo 29: 3 horas depois

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Gustavo

Eu nunca quis matar alguém tanto quanto queria matar William Black.

Eu queria aquele desgraçado morto e esquartejado.

Eu queria arrancar a sua espinha com os meus próprios dentes.

Não.

Pior do que isso; eu queria que ele pagasse na mesma moeda – eu queria que ele soubesse o que é se sentir impotente enquanto Julia Savinnon escapava por entre seus dedos.

Foi ruim o suficiente descobrir que William tinha desfrutado do prazer dos lábios macios de Julia, do seu corpo quente, suas risadas contagiantes e sorrisos e gemidos. Mas foi infinitamente pior quanto o idiota apareceu pra jantar e resolveu esfregar tudo aquilo na minha cara.

Eu mal resistia à vontade de afastar meus próprios irmãos dela, imagine só o seu ex-namorado, que ainda era obviamente apaixonado por ela. Apenas o conhecimento de que Julia provavelmente ficaria desapontada comigo se eu quebrasse o maxilar dele evitou que eu fizesse qualquer coisa.

E então, para coroar, a proposta que ele estava oferecendo a ela era boa demais para ser verdade – exceto pelo minúsculo detalhe de que era verdade –, o que automaticamente a tornava boa demais para deixar passar.

Que tipo de idiota egocêntrico eu seria se dissesse a Julia que eu não queria que ela fosse?

Eu não poderia fazer aquilo.

Era uma oportunidade incrível; uma que, tendo trabalhado com ela pelos últimos cinco meses, eu sabia que Julia sem dúvida alguma merecia. Meus desejos por ela não deveriam ficar no caminho do seu futuro. Eu tinha sido egoísta por sequer considerar seduzi-la para ficar comigo. O meu amor por ela vinha em primeiro lugar e acima de tudo, e isto significava colocar o seu futuro, a sua felicidade, antes da minha.

Foi por isso que, quando chegamos ao carro no estacionamento da sua antiga universidade, tateei às cegas pela sua mão, necessitando o contato físico, e lhe disse simplesmente, "Eu entendi, Anjo."

Porque era verdade. Nós dois entendemos. Eu sabia antes mesmo de termos deixado William, que Julia teria de ir para Londres. Eu a amava; o que significava que teria de me esforçar ao máximo para não deixar que a minha dor provocasse nela confusão ou remorso.

Então Julia soltou a sua bomba, com o seu "eu não quero te alarmar com isso, mas você está totalmente apaixonado por mim." Não deveria ter me chocado ela estar ciente deste fato – considerando como Julia tinha estado incrivelmente perceptiva ao meu redor nas últimas semanas –, mas mesmo assim me chocou.

Levei-nos de volta para o meu apartamento, dirigindo no piloto automático e ainda apertando a sua mão, minha cabeça rodando enquanto considerava as implicações de todas as decisões e resoluções que ela havia feito hoje.

Julia estava partindo para Londres em 24 dias com o cara que tinha piscado pra mim sobre o seu ombro enquanto dava nela um abraço de despedida.

Nós estávamos saindo há menos de um mês e já estávamos encarando um ano de separação pela frente... Algo que botava medo até em casais a longo-prazo, imagine na gente.

E finalmente, Julia estava mais do que ciente da minha paixão por ela.

Nós dois estávamos completamente silenciosos enquanto subíamos de elevador e saímos no meu foyer, nenhum de nós fazendo qualquer movimento para acender a luz. Ao invés disso, ficamos escorados nas paredes em ambos os lados da porta da frente, encarando um ao outro sob a luz fosca que entrava pelas janelas.

A SecretáriaWhere stories live. Discover now