Capítulo 27: Ouça-me rugir

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Gustavo

Eu estava de ressaca. Parecia que havia um exército dentro da minha cabeça, marchando e brandindo espadas e me enlouquecendo.

Antes mesmo que eu tentasse abrir meus olhos inchados, passei uns bons dez minutos analisando por que o exército na minha cabeça tinha espadas ao invés de armas. Finalmente cheguei à conclusão de que eles eram um tipo antiquado de guerreiros Espartanos, então não tinham descoberto ainda o poder das armas de fogo e essas coisas.

Os dez minutos depois disso eu gastei defendendo minha sexualidade, quando uma parte do meu cérebro se perguntou por que a primeira coisa que eu pensei quando acordei foi em um bando de caras usando saias... Meu argumento inicial foi de que além dos últimos dez minutos, eu havia dormido e sonhado com os seios de Julia. Ou os lábios. Ou suas regiões inferiores. E meu argumento final foi de que eu havia passado toda a noite pensando nela, também.

Uma vez que eu tinha dado a causa ganha para mim mesmo, me levantei do chão (eu tinha plena certeza de que havia apagado no sofá, mas aparentemente rolei de lá em algum momento) e marchei até o chuveiro, todo o tempo contemplando como eu iria manter minha Julia como... bem, como minha.

A clareza nos pensamentos provocada pelo tempo, pela generosa dose de licor e pela raiva da Julia no telefone noite passada, me fez perceber que talvez eu tenha exagerado um pouquinho ontem. Ou tenha sido passivo demais; depende do ponto de vista.

O que eu deveria ter feito era ter dado a Julia um falso sorriso animado, felicitando-a pela viagem, e então abraçá-la daquela forma bem clichê, tipo levantá-la-do-chão-e-girar-sem-parar. E só então eu poderia passar os 28 dias seguintes convencendo-a de que ela não conseguiria viver sem mim.

Mas ao invés de ter feito isso, eu a deixei toda quente e fogosa (só a lembrança já me deixava quente e fogoso também) e simplesmente a abandonei no meu escritório como um verdadeiro menino mau. Tudo o que estava faltando era o bigode cômico de vilão e aquela maldita gargalhada nefasta.

Saí do meu banho quente e dei uma boa olhada em mim mesmo através do espelho embaçado. O homem que me encarava de volta parecia que tinha ido ao Inferno e retornado. Havia uma sombra em meu maxilar trincado, minha pele estava pálida e pegajosa, isso sem falar nas olheiras roxas sob meus olhos, que estavam injetados.

Aquilo era loucura. Eu tinha amado Julia por muito tempo, por meses, mas sempre me mantive distante para não me magoar. Agora eu finalmente compreendia o que Christian queria dizer quando falava sobre a minha "epicamente dramática reação exagerada" às coisas. Quando cheguei em casa ontem depois que a Julia deixou o escritório sem mim, rumei diretamente para a biblioteca (meu porto seguro) com uma garrafa de uísque de malte e um beicinho tremendo.

É sério. Um homem com seus vinte e quatro anos, valendo bilhões de dólares, sentado em seu apartamento chique com vista para o Central Park, entornando um uísque de 600 pratas e com a merda do lábio tremendo. Eu não chorava desde que tinha sete anos, quando minha mãe e Victor saíram de viagem um final de semana e Christian me convenceu de que eles não voltariam mais pra casa. Imbecil.

Apenas o pensamento de Julia partindo dentro de um mês me fez cair em um estupor miserável. Então, quando ela me ligou, foi como se alguém tivesse me dado uma sobrevida na última hora. Até aquele momento eu estava tão desesperado para ouvir a sua voz, para me desculpar e implorar, que parecia que ela estava respondendo à minha prece silenciosa

Enquanto me barbeava – me cortando pela primeira vez em anos, culpa dos pensamentos que me distraíam e da mente atrofiada pelo álcool –, tracei um plano de ação. Nas últimas semanas eu havia feito tantas resoluções em relação à Julia que elas estavam começando a ficar redundantes; mas desta vez eu iria englobar todas elas no meu futuro comportamento.

A SecretáriaWhere stories live. Discover now