Capítulo 21: Manhã seguinte

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Gustavo

Repeti as palavras dela na minha cabeça sem parar, o epítome de um disco arranhado. Eu dificilmente me arrependeria de ter ficado de joelhos para fazê-la sentir prazer – e me satisfazendo também por tabela – mas, sempre me arrependeria de não ver o rosto dela enquanto murmurava aquela frase maravilhosa para mim.

Senti cada músculo do meu corpo ficar tenso quando aquelas palavras escaparam dos lábios de Julia. A alegria foi tão demasiada que por um segundo eu não consegui respirar, não consegui pensar, não pude fazer nada a não ser sentir o coração tremulando sob o meu peito.

Uma vez que me tornei capaz de colocar aquela alegria exultante sob controle, eu tinha toda a intenção do mundo de ficar de pé e confessar que não apenas a desejava – ao extremo – desde o primeiro momento em que a vi, mas também queria contar como havia me apaixonado por ela com a mesma rapidez, e que soube, irrevogavelmente, que jamais seria feliz amando outra pessoa que não fosse ela, ou casando com outra mulher, ou tendo qualquer outra carregando os meus filhos na barriga.

Julia soltou um riso nervoso, trêmulo, e deslizou o corpo pela parede na frente da minha figura imóvel. Ela correu uma mão vacilante pelos próprios cabelos enquanto eu me ajoelhava numa posição de pura súplica à sua frente. Eu nunca havia sido tão dela quanto naquele momento, e ela nem sabia disso.

A expressão de Julia era provavelmente tão inebriada quanto a minha, devido à quantidade copiosa de álcool que ambos consumimos nas últimas horas. Sem mencionar o orgasmo que eu havia acabado de proporcionar a ela, pensei orgulhosamente.

Estendi as mãos para pressionar meus dedos em torno da clavícula delicada dela, pronto para confessar meu amor eterno, imortal, fodamente épico por aquela mulher, quando o mundo real caiu abruptamente sobre os meus ombros.

"Ah, eu estou tãão bêbada." Julia riu, num tom que beirava o nervosismo, sem me encarar nos olhos enquanto mexia nos cabelos. "A culpa é inteirinha de Nate, ele foi o causador disso tudo."

Minha cabeça despencou sobre o ombro dela, me aproximando daquele aroma vicioso, enquanto senti um espasmo apertado e doloroso no peito. Era uma martelada forte sobre a minha esperança.

Claro que ela estava bêbada. Eu sentei lá ao lado dela, vendo Nathan servir um drinque após o outro no copo de Julia, assim como todos nós estivemos bebendo durante a noite toda. E, além disso, como é que eu poderia levar a sério uma declaração de amor feita durante um orgasmo? Quantas vezes eu mesmo tinha gargalhado de histórias de amigos no colegial ou na faculdade que disseram algo sem intenção no calor do momento? Eu não mais me sentia orgulhoso, isso era certo.

"Estou nas mesmas condições." Admiti ainda incapaz de tirar meus olhos da linha do pescoço dela. Envolvi meus braços em torno dos ombros de Julia, puxando-a para o meu peito, como uma forma de me assegurar de, no mínimo, ter a presença física dela. Ela derreteu sob meu toque, sem demonstrar qualquer resistência, se encaixando perfeitamente como eu sempre soube que ela ficaria ao meu lado.

A perfeição e certeza disso tudo me aniquilava por dentro. Será que eu deveria simplesmente admitir que a amava, e que se danassem as consequências que viriam com a manhã? Será que ela levaria minha declaração a sério quando ela própria tinha acabado de dizer que me amava, porém completamente bêbada?

Julia involuntariamente respondeu minhas perguntas silenciosas para mim.

"Não vou me lembrar de absolutamente nada pela manhã," ela riu, com a voz abafada contra a minha camisa, "então, você vai ter que me lembrar que te devo por essa coisa fodástica que acabou de fazer comigo."

A SecretáriaWhere stories live. Discover now