— Nós recebemos depois de situações de extremo perigo e heroísmo no trabalho na marinha. Alguém que recebe a benção sempre reconhece o outro. — Eu ainda estava confuso e ele percebeu. — "O mar nunca tragará sua vida fora, nem lhe causará dor, porque no mar é nascido e do mar renasceu" — recitou como se eu fosse me recordar de algo que nunca me aconteceu, mas acabei por sorrir e assentir. — Naufrágio? — quis saber.

— Acidente numa tempestade.

— Torpedo intercontinental — arregalei os olhos. — Foram tempos difíceis antes dos deuses intervirem no Norte.

Então era isso que a benção de Taehyung significava. O mar nunca me mataria e estando ali, naquele barco, eu não tinha medo algum. Pelo menos não medo o suficiente para me encolher e chorar, o que era minha vontade momentos atrás.

— Eu vou ficar aqui fora. — Acenei para um dos bancos postados para os passageiros. — Obrigado pela ajuda.

— Não por isso.

"Porque do mar é nascido e do mar renasceu. " Era uma benção bonita. Mas não queria me dizer muita coisa, eu esperava algo como um dejavu ou uma mínima sensação de familiaridade. E se todos que tem a benção podem se reconhecer, porque não enxerguei nada de diferente no ajusshi? Não deveria haver um reconhecimento mútuo?

"Talvez minha benção seja diferente. " Eu ainda continuava um nadador péssimo e quase me afoguei uma porção de vezes no treinamento da corporação e alguns foram em água salgada. Talvez fosse uma benção para navegar em segurança. Fazia mais sentido já que fora isso que levou Hyun.

Afastei os pensamentos de dúvida, sentando no banco com um casal ao meu lado e pela primeira vez em anos eu estava tranquilo com o mar. Claro que se eu estivesse na água a situação seria diferente. Acho que bênção nenhuma me faria ver o oceano de outra forma além de possível ameaça. Mas estava satisfeito de ao menos não estar agindo como uma criança assustada.

Tirei o celular do bolso e abri o PDF de um livro de mitologia. Eu estava fazendo exatamente o que Taehyung falou para que eu fizesse. Eu não estava lendo tudo, entretanto. Pulei diretamente para a parte que falava sobre Poseidon. Tudo que disseram sobre ele ser um deus associado a raiva não tinha exagero algum. A tal odisseia que ele tinha comentado foi o primeiro termo que me chamou atenção e que basicamente foi Odisseu mandando Poseidon se foder, desafiando a ira do deus e recebendo em troca uma viagem, perdido pelo mar por 40 anos. Imaginei ele fazendo o mesmo comigo, me jogando num barco e me fazendo ficar navegando por anos sem encontrar o caminho de volta para casa.

"Não. Ele não me odeia tanto assim eu acho. Espero. Eu não desafiei seu poder, só... chamei ele de aberração. "

Uma onda se chocou contra o barco e nem toda benção me impediu de gritar assustado e me imaginar um náufrago por 40 anos. Mas o barco não afundou, eu não naufraguei, então tudo ficaria bem.

Pelo menos até chegar à ilha.

+++

Eu não lembro de já ter ido a Jeju antes, nem quando criança, já que fugia de qualquer passeio escolar que me colocasse perto do mar, então me vi rapidamente perdido em pouco tempo. Perguntei sobre o hospital psiquiátrico, mas os moradores me alertaram que o local estava fechado para visitas graças a agitação de turistas devido aos jogos. Alguns me sugeriram, se fosse mesmo necessário a visita, passar a noite na ilha e ir ao hospital logo pela manhã, porém eu nem sabia o que iria buscar lá e poderia não encontrar Taehyung, então dispensei a ideia.

Tive então de ir para o plano B.

Busquei pelo papel com o endereço da casa. Não conseguia parar de pensar ser uma péssima ideia. Taehyung ficaria puto quando me visse, eu tinha certeza. E eu nem podia mais ir embora, já que os barcos só voltariam a funcionar depois dos jogos. Não tinha momento melhor para que ele viesse?

God Killer - PRIMEIRA VERSÃOWhere stories live. Discover now