Fotografia Desbotada

Capítulo XXIV. Criança

Youra

So Ah passou grande parte do primeiro período me analisando ao rabo dos olhos e eu poderia sentir sua expressão mudando suavemente ao contestar que eu me afastara de Taehyung nas últimas semanas. Um leve descontentamento pincelava o brilho de seus olhos azeviches quando ela me levou no terraço do prédio do colégio. Soltando de minha mão, ela avançou alguns passos e se virou para mim, investigando traços de arrependimento em meu semblante.

— Ele vai embora amanhã. — Dissera e uma corrente de vento serpenteou nossas pernas. — Você vai deixá-lo escapar assim mesmo, Youra?

Eu desviei meu olhar do dela e examinei com determinada atenção cada aspecto do andar superior do prédio. Pequenos adornos florais mantinham a cor em meio ao concreto cinza que preenchia o espaço e mordi meu lábio inferior, encostando-me na parede desregular.

A pergunta de So Ah era inescrutável, porém, grande parte de mim não queria admitir que eu enfatizei demasiadamente o erro de Taehyung. E a outra, queria que eu aparecesse em frente à sua porta proclamando meu amor inextricável. So Ah arqueou o sobrolho e avançou alguns passos em minha direção. Segurou meus ombros firmemente e procurou meu olhar.

— Por que tanto receio em aceitar a desculpa dele e aproveitarem o último dia juntos? — O tom aveludado de sua voz reverberou em meu interior e me encolhi. — Ele foi atrás de você todo esse tempo, totalmente arrependido.

Eu permaneci em silêncio ao absorver cada palavra de minha amiga.

A verdade era que eu não conseguia compreender o porquê de continuar construindo uma parede que separava meus sentimentos dos de Taehyung. A cada dia, ela elevava-se um andar e, temia eu, que não haveria mais como destruí-la. Novamente, vi-me em um conflito do qual eu não sabia como sair.

— Não é só porque ele achou que você agiria como uma criança, então. — Repentinamente, So Ah disse e eu levantei minha cabeça. Um brilho de sagacidade permeava entorno de seu rosto e ela sorriu para mim, compreendendo minhas próprias ações que nem mesmo eu conseguia interpretar. — Acha que ele não irá querer mais continuar com você se for para fora.

Aparentemente, o sangue que circulava em meu rosto se direcionou para o pômulo de minhas bochechas e eu fechei os olhos com força, recusando-me a concordar com minha amiga. Entretanto, ela não estava totalmente errada.

Taehyung ficaria no mínimo um ano fora do país, mantendo contato com um mundo desconhecido com certa frequência e era de meu conhecimento que nosso distanciamento seria inevitável: enquanto ele estaria trabalhando com sua paixão, eu deveria me encontrar em um universo adulto. Além disso, ele conheceria pessoas que poderiam ser muito mais interessantes do que eu.

So Ah encostou em meu queixo com seu dedo indicador e o levantou sutilmente para eu encará-la, um sorriso obsequioso preenchia seus lábios pintados em uma cor clara.

— Youra, eu posso dizer com todas as palavras de todos os idiomas existentes de que Taehyung a ama. — Falou. — Você já viu a forma como ele a olha?

Eu neguei com a cabeça e o seu sorriso se ampliou.

— Os olhos dele brilham como constelações ao olhá-la. — Ela inclinou a cabeça para trás e eu a acompanhei. Um céu de porcelana sem nuvens estendia em nossa visão. — Um ou dois anos não vai diminuir esse brilho. — Seu dedo tocou minha testa. — Além disso, saiba perdoar alguém que merece seu perdão.

***

Durante o segundo período eu fui tomada por uma corrente turbulenta de pensamentos, que me mantiveram em um entorpecimento quase inexpugnável. A conversa de So Ah reverberava em minha caixa craniana a todo instante, alertando-me de que eu estava cometendo uma terrível escolha ao preferir ignorar a existência de Taehyung.