Capítulo IX. Porcelana

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Taehyung

O céu amanheceu como porcelana sob a luz, pinceladas de azul cobriam pingos de tinta rosa e laranja, as marcas de uma manhã diáfana inundavam as ruas que serpenteavam pela cidade litorânea. Por mais lindo que estivesse o céu, desejei subitamente que nuvens carregadas de chuva se arrastassem demoradamente.

A noite anterior fora uma surpresa que eu nunca pensei que pudesse ocorrer, com Youra escorada em meu braço, meu único desejo, que cobriu cada parte de meu cérebro, foi de beijá-la em uma cena cliché de um filme de romance. Entretanto, algo gritava em meu anterior, suplicando para que eu me afastasse dela e me dirigisse à minha casa, escondendo-me das possíveis ondas de passado que me afogariam um dia.

Como se mãos me segurassem em minha cama, esforcei-me mais do que o costume para me desenrolar das cobertas, rolando presunçosamente para o lado a procura de uma roupa que pudesse disfarçar o quanto consternado estaria daqui alguns minutos.

Passei a mão pelo cabelo uma última vez, descrente que voltaria à tona a história que eu jurei enterrar e seguir como se não houvesse acontecido cada episódio fúnebre. Contudo, era uma promessa que fiz à Youra e, por mais que eu quisesse me esquivar, cumpriria independente da situação criada.

O café da manhã que fiz pareceu mais repugnante do que das últimas vezes e, mantendo meu orgulho em seu patamar mais alto, empurrei cada pedacinho queimado do pão pela garganta, jamais negando que era um péssimo cozinheiro e que precisava urgentemente de aulas de culinária o quanto antes.

A angústia subiu de meu estômago até a minha cavidade oral quando fechei a minha porta atrás de minhas costas e girei a chave duas vezes antes de ir à casa de Youra. Contei até cinco e apertei sua campainha, não demorou que a imagem da jovem resplandecesse o local com suas vestimentas simples que, entretanto, caiam como graça ao envolver seu corpo com um short e uma camiseta lisa.

Seus olhos possuíam um desenho de uma elipse escura abaixo da pálpebra inferior, evidenciando silenciosamente que dormira pouco nessa noite e, no meu subconsciente, sorri para ela da maneira mais cortês que sabia. Lendo a minha expressão embutida no rosto, Youra fechou sua porta e se colocou ao meu lado, comprovando que a diferença de nossas alturas era quase cômica.

Ela parou diante de mim, com um leve bico de contrariedade desenhados suavemente em seus lábios rosados. Sem que percebesse, medimo-nos com o olhar e travamos uma batalha silenciosa para quem começaria a falar primeiro. Em meu consciente mais apagado, sabia que Youra estava brava comigo com o ocorrido na noite passada, no entanto, mantivemos nosso orgulho no ápice e, certamente, não discutiríamos sobre isso.

— Iremos à praia. — Anunciei sem demora e, ao me olhar de soslaio, ela franziu levemente as sobrancelhas. — Quero dizer, bom dia e parabéns pelos seus dezoito anos.

— Obrigada. — Em um tom de pergunta, ela me disse e caminhamos aos passos demorados até a praia. — Posso saber por que lá?

— Gosto da praia e faz um bom tempo que não vou para lá.

Emburrada com o que aconteceu, Youra se recusou a desenvolver quaisquer assuntos banais durante o percurso curto até a faixa litorânea. Mesmo que tentasse disfarçar seu traço contrariado ao chutar uma pedra durante o trajeto, não deixei de reparar o quanto sua beleza se tornava única ao se encontrar em uma teimosia obstinada de uma criança.

Como se pudesse ler o turbilhão de pensamentos que passava em minha cabeça, ela me encarou ao rabo dos olhos e permaneceu em uma conexão inextricável comigo. Sua boca, levemente aberta, parecia querer contar coisas fora de sua área de conhecimento e, em um muxoxo perceptível, voltou sua atenção à pedra que chutava, perdendo-a de visão assim que ela caiu em um bueiro.

Fotografia DesbotadaWhere stories live. Discover now