Capítulo XX. Romeu e Julieta

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Youra

As palavras de Taehyung me surpreenderam naquela noite, sua voz estava em um limiar entre a confiança e a angústia. Porém, ao escutá-lo, um sorriso resplandeceu meu rosto e dormi com borboletas no estômago, retomando mentalmente sua declaração inusitada. Ele deu mais um passo e, aos poucos, soltava-se das correntes turbulentas do passado.

Após quatro dias obtendo conhecimentos sobre as estruturas suntuosas e inexpugnáveis da empresa de meus pais, pude conversar com o homem por quem Jimin estava nutrindo um sentimento inextricável. Jeon Jung Kook era seu nome e trabalhava como secretário para meu primo. Sendo prestativo a todo instante ao se manter ao lado de meu primo, não demorou para eu perceber seu olhar tímido sobre Jimin. Eu acompanhava o secretário em todos os percursos da empresa, ficando ao seu encalço em tempo integral e, por consequência, pudemos desenvolver ao longo do dia uma conversa afável.

No horário do almoço, ele me convidou para fazer companhia junto a um amigo seu, Min Yoon Gi, o qual era conselheiro de meu pai. O jovem de vinte e cinco anos tinha uma linha de raciocínio invejável e um repertório abrangente no ramo para alguém de sua idade. Limitava-se a ceder seu lado mais benevolente para Jimin, dando a ele dicas sob segredo.

— Eu nunca vi um secretário homem. — Enfatizei ao umedecer minha faringe com água.

Jungkook sorriu ao voltar seu olhar para suas mãos.

Em minha frente, era visível seu encalistramento e Yoongi arqueou o sobrolho para mim, indicando que era um assunto delicado para o homem de vinte anos.

— Jimin me ajudou muito ao me contratar. — Explicou-me. — Vim do interior nascido em uma família extremamente humilde e tentei a sorte encontrar algo para poder melhorar as condições de lá. — Jungkook escrutinou meticulosamente sua comida. — Jimin, ao saber de minha situação, ofereceu mais do que imediatamente o cargo. Sou feliz aqui e consigo ajudar consideravelmente minha família.

Encabulada com meu próprio preconceito, disse entre mordidas de meu arroz um pedido de desculpas. Jungkook não pareceu ofendido e, portanto, entregou-me o mais sincero de seus sorrisos. Em seguida, seus olhos caíram sobre meu peitoral, cujo emblema da família Park adornava minha vestimenta superior.

— Mas, eu acho que deverei ceder meu emprego a você. — Era perceptível o tom consternado em suas palavras e, como resposta, neguei com a cabeça.

— Jimin cortará minha jugular se eu ousar roubar seu posto. — Comentei em um riso curto. — Não pretendo seguir o ramo da minha família. Estava pensando em ir para alguma faculdade.

Repentinamente, Yoongi pareceu interessado e, ao engolir sua comida, umedeceu seus lábios, aparentemente surpreso.

— E o que pretende cursar?

Sem saber o que respondê-lo, meneei a cabeça para os lados em uma tentativa falha de estalar meu pescoço e sorri, envergonhada pela minha própria situação.

— Ainda não sei ao certo.

No espaço de tempo que um silêncio constrangedor perdurou, o celular de Jungkook soou e ele, no mesmo instante, afastou-se ao nos esclarecer de que Jimin o chamava por estar necessitado de seu serviço. Um disposto secretário atravessou a rua do restaurante em que comíamos e adentrou o prédio suntuoso.

Ao encarar Yoongi de soslaio, pensamentos acerca de sua personalidade vieram à tona. Era um homem conservado, somente falava quando via necessidade e permanecia alheio ao ambiente que o cercava, porém, era visível o brilho de seus olhos ao calcular os passos da pessoa que mantinha o percurso da conversa.

Fotografia DesbotadaWhere stories live. Discover now