Capítulo XVII. Dúvida

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Youra

Alguns dias se passaram desde o meu almoço na casa de Taehyung e, naquele dia, descobri que nossos pensamentos sempre estavam em constante conflito, formando nós intermináveis em nossa cabeça. Em sua mente, como me explicou delicadamente, era uma mescla entre extremos enquanto a minha, a confusão preenchia cada espaço de minha caixa craniana. Como se fossemos especialistas no campo da psicologia, desenrolávamos cada teia formada e organizávamos os nossos pensamentos.

Eu havia contado a ele o acontecimento que ocorrera entre meus pais e mim. No entanto, eu não esperava por sua reação: riu até que o ar faltasse em seus pulmões e, por fim, olhou intensamente, decifrando minhas expressões em um brilho significativo.

O que só resta a você é aceitar. — Comentou ao segurar minha mão. Estávamos deitados em sua cama, conversando sobre assuntos banais enquanto eu captava cada detalhe de Taehyung em seu quarto. — E, quando tiver a oportunidade, fuja e seja feliz, Youra. Você merece a felicidade.

Suas palavras me deixaram atônita, absorta por longos instantes em seu tom barítono e gutural, o qual ainda me causava arrepios inexplicáveis. Queria rebatê-lo, porém, cada sentença fugira de minha boca e me deixou muda. Ele estava certo. Não havia muito o que ser feito senão concordar com meus pais e seguir caminho à capital.

Seu primo precisa de você. — Levantou novamente a questão. — Pelo jeito que me disse, Jimin realmente necessita de um apoio moral e você precisa se submeter a isso. Afinal, ele é seu parente mais próximo, não? Você disse que ele a ajudava em momentos de fragilidade. — Seu dedo indicador trilhou uma linha única do centro de minha testa até a ponta de meu nariz. — Eu consigo esperá-la por quase um mês, farei esse doloroso sacrifício.

Taehyung realizava o máximo de esforço para me compreender e eu, somente repetia seus movimentos quando o via com o olhar longínquo, entretanto, em vez de confortá-lo com palavras de alento, somente me aproximava e o abraçava, depositando todo o meu calor sobre sua pele fria.

E, sem perceber, havíamos criado uma relação inextricável e inexpugnável, que trazia o cálido das emoções à tona em todo o meu corpo.

— Seria bom se você escolhesse o macarrão instantâneo logo. — A voz de Hoseok suscitou em meio ao mercado.

Ele havia se oferecido para me ajudar a levar a mercadoria até em casa depois de nossas aulas, uma vez que já era perceptível a falta de comida enlatada nos armários da cozinha.

— São vários sabores, mas, no final, acabam tendo o mesmo gosto. — Encarei-o de soslaio ao escutá-lo resmungar. — Inclusive, a cesta já está ficando pesada.

— Você reclama demais para alguém que ofereceu ajuda. — Comentei ao colocar o pote de macarrão instantâneo.

O semblante de Hoseok aderiu um ponto de aborrecimento e ele cruzou os braços, desviando o olhar para o corredor diante de nós dois.

— Não se preocupe, Hobi. — Confortei-o levando mais dois potes. — Estamos quase acabando.

Ele estendeu a cesta vermelha em sua frente e arqueou ambas as sobrancelhas.

— O nível calórico dessa compra me faz mal. — Murmurou e, mesmo que tentasse negar, concordei com a cabeça.

— Minhas habilidades culinárias são desastrosas. — Comentei em um sorriso. Em seguida, partimos para a fila de pagamento.

— Então você terá uma aula maravilhosa de culinária com Jung Ho Seok. — Hoseok se apresentou em um sorriso diáfano.

Prosseguimos o desenrolar de uma conversa que alternava de dicas culinárias essenciais para resmungos de minha inabilidade de manuseio de uma simples faca. Hoseok, no auge de sua animação, gesticulava exageradamente em cada direção enquanto abria cada vez mais o seu sorriso amplo. Entretanto, não demorou mais do que alguns minutos para sermos interrompidos com uma figura familiar, contudo, incomum em minha rotina.

Fotografia DesbotadaWhere stories live. Discover now