Capítulo VI. Renegar

30 2 2
                                    



Taehyung


Minha visão se encheu de pequenos pontilhados quando despertei e logo senti os primeiros sinais de uma ressaca iminente. Apertei fortemente meus olhos para se acostumarem na claridade quase cega do meu quarto branco, a cortina moldava-se conforme o vento adentrava o cômodo e, sob o calor de uma coberta, meu braço apertava um corpo que repousava pacificamente ao meu lado.

Em um sobressalto, reprimi um xingamento por entre os lábios ao mordê-los e passei a mão sobre a boca ao sentir uma dor aguda se alastrar no canto. Um líquido viscoso e vermelho serpenteou por entre meu dedo. Era sangue.

Em flashes, imagens da noite passada rebateram em minha cabeça e soltei um praguejo baixo, quase inaudível. Principalmente o momento em que Youra me levou, junto a ela, por debaixo do chuveiro e quando pedi gentilmente para que passasse a noite em casa. No meu quarto. Na minha cama. Comigo.

Porém, o que me rebateu pesadamente fora o fato de quem ontem fizera dois anos.

Coloquei uma das minhas mãos na minha testa e suspirei longamente, entregue por completo aos dissabores que invadiram minha vida há dois anos e o pesar da morte recaiu sobre meus ombros como uma velha amiga.

Eu precisava seguir em frente. Prometi minhas últimas palavras para Haneul naquela noite. E não desistiria até estar no mesmo patamar de felicidade quando me encontrava com ela.

Contudo, era necessária uma força na qual eu sabia que não tinha.

O corpo ao meu lado se mexeu na cama para se acomodar. Os fios curtos e negros dançaram em seu rosto e, por um momento, exclamaria o nome de Haneul se a realidade não me subisse pela garganta. Fazendo meu antebraço como uma alavanca, apoiei-me sobre ele e escrutinei a imagem de Youra ressonando suavemente por entre as cobertas. Seus pés se enroscavam nos meus e logo percebi que eu apenas vestia minha cueca.

O que fiz de tão perigoso noite passada?, o questionamento fixou-se em minha mente após um frêmito de medo percorrer por meus pelos. Não posso ter transado com ela. Novamente, Youra me surpreendeu por vestir uma de minhas camisetas favoritas. Encalistrado de uma maneira que nunca estive, balancei suavemente seu ombro na tentativa de acordá-la

Abriu seus olhos azeviches e me encarou diretamente, despertando como se estivesse anos adormecida em minha cama. No mesmo instante, o pômulo de suas bochechas se adornou em uma coloração mais rósea e Youra se afastou poucos centímetros. Ameaçaria cair da cama se eu não a tivesse segurado pelo braço, puxando-a mais perto de meu tronco nu.

— Você poderia me explicar o que aconteceu? — Pedi sem esboçar um fio de raiva ou de ira, somente na intenção de confirmar minhas suspeitas.

De um modo que eu nunca a vira, Youra desviou seu olhar do meu e encarou com determinada destreza o molde do colchão que ficava sob nosso peso, porém, ainda estava sonolenta.

— Você estava bêbado. — Contou e eu rolei meus olhos.

— Disso eu sei, mas por que você está aqui?

Meus dedos ainda seguravam o antebraço dela.

Ela piscou por incontáveis vezes, parecendo recobrar totalmente a memória e, pouco a pouco, narrava os acontecimentos da noite anterior em uma voz baixa, encalistrada. Em todos os momentos do monólogo, uma interrogação muda pairava em ao seu redor e, por isso, encobria parte do episódio.

— O que quer tanto perguntar? — Interrompi-a em uma impaciência obstinada.

Youra encolheu os ombros.

Fotografia DesbotadaWhere stories live. Discover now