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O ar trespassa-me, quase a empurrar-me para longe do chão

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O ar trespassa-me, quase a empurrar-me para longe do chão. Contudo a cada segundo que passa, este está mais próximo. De repente, a ideia perde toda a sua credibilidade. Três andares são uma distância muito grande e eu infelizmente não tenho asas na minha caixinha de superpoderes.

O pânico começa a instalar-se no meu corpo. Num movimento súbito de força extrema rebento com as algemas com que Amriel me prendeu os pulsos, numa ilusão de que melhorará a minha queda. No entanto, quando o chão chega, não estou de todo à espera da intensidade da dor que me atinge. Positivamente caio de pé e com o meu equilíbrio a manter-me firme como um gato, porém laivos de dor atravessam-me dos pés até às pernas e por conseguinte até à cintura. É-me impossível não gemer de dor.

Em boa verdade, o meu corpo muito em breve estará regenerado. Nada do que lhe aconteça agora irá importar daqui a algum tempo quando eu acordar, mas a queda foi maior e com um impacto mais forte do que o que eu esperava. Até o meu corpo regenerar por completo consciencializo-me de que vou sofrer com as dores.

Apesar de tudo isso, não tenho tempo a perder, nem para verificar o que está ou não partido. A custo obrigo-me a correr. Com um pedaço de tecido rasgado da minha camisola a ser usado como protecção para não morder a língua com a dor, corro o máximo a que as minhas pernas me permitem. Não me encontro muito longe da zona central, e sei que lá terei uma melhor oportunidade de me esconder. Não sei ao certo onde está Amriel, mas com toda a certeza ele já deu pela minha falta. Preciso de ser mais rápida.

O meu instinto está em alerta máximo, embora as ruas estejam desertas como é de esperar. Não passa muito das dez da noite, no entanto é habitual que quase ninguém se encontre na rua por volta desta hora ou mais tarde. Todos sabem que é de noite a hora predilecta dos "monstros" saírem à rua.

Arrasto-me por entre uma rua. Na minha mente já correm mil hipóteses de fuga, sítios onde me posso esconder. Crescer na Cidadela, mais de metade da minha vida em fuga, fez-me conhecer caminhos e sítios que ninguém conhece. Na minha mente, ressalta-me por entre todos um lugar em especial sabendo que posso dormir lá os dias necessários até que o meu corpo se regenere por completo. Contudo não chego muito longe.

Com um impacto grande, sou atirada contra a parede. Torno a gemer por causa da dor que é quase impossível de lidar. Presa por um aperto forte no pescoço, sinto os meus pés a perderem o chão. O ar começa a faltar-me nos meus pulmões. Tento debater-me contra as mãos que me impedem de respirar, mas sem qualquer efeito.
Amriel encosta o seu rosto no meu. Qualquer indício que anteriormente fez-me pensar nele como um ser humano perde-se. Ele está no seu modo completo de kakoi. Os seus olhos pretos respondem ao brilho da luz dissimilada que nos cerca; a sua boca aberta com sede. Nesse momento, sinto-me mais assustada do que em qualquer outro momento da minha vida.

Para piorar a situação, não está sozinho. Vejo mais cinco kakois em nosso redor, à espera. Lembro-me de uma matilha à espera que o seu alfa ataque primeiro a presa. Um arrepio sobe-me a espinha com a imaginação do que pode acontecer.
– Começas a irritar-me, boneca. – A sua voz está profunda, num tom alegórico.

Tento lutar novamente com o seu aperto com o pouco de forças que me resta. Em vão. O meu corpo esmorece e sinto-me como que a adormecer. A queda esgotou-me de uma forma extrema, por isso neste momento não consigo fazer mais do que subjugar-me ao que Amriel quiser fazer comigo. Se eu for levada à frente do Presidente, sei o que vai acontecer – em dias, serei julgada em praça pública à frente de todos, tanto por homicídio como traição. Os dois crimes puníveis com a morte. Irrelevante saber que não sou realmente culpada de nenhum.

– Afinal, não és assim tão corajosa – Amriel diz ao largar-me e deixar-me cair no chão.

Lágrimas formam-se nos meus olhos. O sabor salgado atropela-se até aos meus lábios. Deixo-me ficar caída no chão. Não tenho mais energia para lutar. Se decidirem matar-me, estou em paz.

Porém neste momento, escolhendo a altura ideal, uma sombra raspa por mim derrubando dois kakois no caminho. Os seus corpos caem no chão, sem vida. Perscruto no meio da escuridão pelo responsável, mas ele já se atirou para cima de outro. O rapaz move-se como uma flecha. Num segundo está perto de mim, no outro já matou mais um kakoi. Vejo, entre a visão desfocada, Amriel a correr para longe e o rapaz a correr atrás dele.

Com isto, nem dou por uma rapariga a aproximar-se. Ela agarra-me pela cintura tentando erguer-me. Instantes depois, desiste e limita-se a sentar-se de joelhos a meu lado. Pouco depois, sinto chapadas no meu rosto mas não sou capaz sequer de reagir a tal.

– Kai. Ela não está a reagir, está a desmaiar. Precisamos sair daqui. – A sua voz é melódica.

Deixo-me embalar nela, os meus olhos começam a fechar-se. Então, a minha mente perde-se em pensamentos. Antes que consiga lutar contra isso, sou engolida pela negritude que se forma em redor de mim.

 Antes que consiga lutar contra isso, sou engolida pela negritude que se forma em redor de mim

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Terminou mais um capítulo. Obrigada pela leitura.

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Não se esqueçam da estrelinha.

Até já.

A Autora.

Filhos das RuínasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora