Uma parte do quebra-cabeça

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Ela fez que sim com a cabeça com os olhos cheios de lágrimas. Ortiz a abraçou e sentiu o seu cheiro de mulher e ela sentiu o seu cheiro de homem. Aquele abraço a fez lembrar de um velho encontro, quando ainda Ortiz era apenas um soldado e Cohen um mero instrutor de ufologia.

Eram três pesquisadores e sonhadores. Que as vezes se alternavam em beijos. Sentiu a respiração de Ortiz mais perto da sua.

Ortiz sentiu o abraço mais apertado. Ele entendeu o sinal e beijou Vanessa avidamente. Em resposta ela aproximou os corpos com mais força ainda e passou uma de suas pernas pela sua cintura. Ele sentiu a dor abdominal. Era fruto do tiro que levara.

Vanessa se afastou. Sabia que mesmo com o colete à prova de balas, hematomas e dores ficam na área atingida. Eles se olharam sem graça pelo beijo terminar assim. Cohen entrou na sala e sentiu um silencio constrangedor.

"Atrapalho algo?" -, ironizou.

Os dois apenas acenaram que não. Cohen pode sentir fagulhas de amor no ambiente. Não era ingênuo a ponto de acreditar a chama dos desejos antigos não possam ser reacendidas. Mas, para ele, não fazia diferença. Ele não conseguia tirar a imagem de outra mulher de sua cabeça. Se tinha uma chama de sua parte essa chama era Inês.

"Vou falar com o garoto!" -, disse Cohen saindo.

Vanessa olhou para Ortiz sem graça. "Marechal?" -, sorriu.

Ortiz entendeu a ironia de Vanessa. Mas, não podia esconder dela a verdade. Não daquela mulher que sempre admirou e amou. Só estava ali enfrentando Zentchen por ela. Não tinha autoridade para tal, mas cavou essa oportunidade, mesmo que soubesse que hora ou outra o chinês o tiraria do mapa.

"Exército também se faz de contatos" -, sorriu.

Vanessa foi bem crítica: "Todos tem o seu preço".

Ele a pegou pelos braços e a beijou novamente, só que dessa vez com mais voracidade. Ela o afastou para que pudesse respirar.

"Se estou aqui correndo risco de morte, é por você. Uma hora esses contatos vão se desfazer porque Zentchen é poderoso. Ou a gente acaba com ele, ou ele acabará comigo e com a pesquisa de vocês. Deixaremos de existir. Será o fim dos três sonhadores" -, disparou Ortiz fazendo a cabeça de Vanessa girar em turbilhão de pensamentos.

*****

"Tem certeza do que viu?" -, insistiu Cohen sussurrando.

"Tenho!"-, rebateu Adam. Continuou: "Era enorme, parecia uma parede. Quatro metros para mais de altura, mandíbula grande e dentes afiados. Os olhos pareciam machucados. Tinha unhas grandes e uma longa cauda. Parecia um réptil".

Cohen sentiu as pernas estremecerem. Estava pálido. Adam se arrepiou pelas expressões de Cohen. "Não precisa ficar com medo, os soldados atiraram nele no vale dos mortos. O bichão já era" -, disse Adam tentando acalmar o ufologista.

"Não. Você não tem ideia do que está acontecendo aqui. Você está me relatando o maior medo dos ufologistas. Essa coisa é o motivo dos alienígenas estarem aqui na Vila de Santo Antônio. E, não tem só esse que você viu. Eles andam em bandos. Devem ter outros esparramados por aqui" -, disse Cohen tentando conter o nervosismo. "Mas, precisamos ficar calmos".

"Calma aí, o ufologista aqui é o senhor, e diga-se de passagem, não está nenhum pouco calmo" -, expôs Adam. "Se quer saber, eu não faço a mínima ideia do que está acontecendo, só me lembro de minha namorada e eu termos nos machucado e tenho vaga lembrança de seres cabeçudos, cinzas e altos se aproximando de nós e eu nem sei se isso foi real" -, sentou-se Adam quase acreditando que estava ficando louco.

Contratos VeladosWhere stories live. Discover now