Descortinando os planos

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--- 02 horas e sete minutos.

Mais alguns passos e estaria fora daquele lugar. Sentia o ar mais fresco tomar conta de suas narinas. A luz do farolete estava mais fraca. Mesmo que falhasse, a liberdade estaria há poucos passos e o seu olho curado por um estranho milagre o conduziria até a saída. Assim que colocasse o pé ali fora, seria o fim de seu pesadelo.

Ao aproximar da abertura do solo notou luzes piscando coloridas. Barulhos de helicópteros rondando a área. Na sua mente veio toda a lembrança das esquisitices que vivera. Sair daquele buraco e assumir a verdade para a sociedade seria algo que lhe traria um grande regozijo e paz.

"Mas, como explicar aqueles monstros lá embaixo? " -, foi a primeira coisa que veio à mente. Se não tivesse vivido aquilo também não acreditaria. O jeito era fingir esquecimento por um tempo. Mas, poderia correr o risco de ter que fazer exames novamente e parar nas mãos de Dr. Ulysses. Talvez, a melhor saída fosse morrer dentro daquele buraco.

Edilson estava a poucos passos da subida final. Podia ver com um único olho a luz no fim do túnel. Ele preferiu apagar o farolete e se sentar. Naquele momento o melhor que tinha que fazer era relaxar e deixar que as coisas acontecessem naturalmente.

Se o destino o quisesse vivo, o socorro viria. Na sua primeira opção de desistência encontrou o seu maior ato de coragem. O único remorso era ter feito uma moça perder o seu olho para salvar o seu sem que ele pudesse sair de lá.

*****

Inês estava cansada. Encostou em Daniel e sussurrou: "Preciso parar, estou exausta! Alguns minutinhos por favor".

"Precisa de água. Sei onde tem água" -, disse Estela. A moça parecia ter fala mecânica. Isso incomodava Inês. Estela olhou para a professora com seu olho bom e deixou que uma lágrima escorresse. A moça foi em busca de água.

"Não a deixe ir filho" -, tentou Inês.

"A água está perto" -, Daniel sentou ao lado da mãe numa postura completamente ereta. Não era do seu feitio. Inês sabia que ele não seria mais o mesmo.

"Ainda sou eu, mãe. Mudanças acontecem" -, o silêncio imperou e Inês acariciou o queixo do filho como há muito não fazia. Ele acrescentou: "Peça desculpas à Estela. Nós podemos ler os pensamentos e sentir o que sentem".

Inês respirou fundo e sentiu-se perdida pois, de mãe protetora e batalhadora que chegou até ali já não sabia mais o que fazer. Pensou: "Se ao menos Cohen estivesse..."

"Ele não está, mãe. Se você gosta dele. Eu também gosto". Daniel se levantou e pegou a mãe no colo.

"Pare, Daniel, me coloque no chão. Sou pesada!" – retrucou Inês.

Daniel sabia que a melhor forma de a mãe parar com aquela cena era fingir transe. Foi assim que fez e partiu atrás de Estela.

*****

Conforme seguiam, mais o calor aumentava. Os túneis se estreitavam. Cohen percebeu que Zentchen já não andava mais com o mesmo vigor. A fadiga era inevitável.

"Não sinta pena de mim, pois quando chegarmos onde precisamos, você será descartado sem pudor algum" -, ameaçou o Chinês.

Cohen abriu um sorriso. "Aqui, você não me assusta".

"Não duvide de minhas habilidades, Cohen. Nós orientais nos destacamos pela habilidade em criar estratégias e não pela força" -, redarguiu o chinês.

"Só que estamos os dois aqui, perdidos, desarmados e mortos de cansaço. Infelizmente, não há mais o que temer. Então, esqueça sua soberba que tanto me enoja e continua andando" -, emplacou Cohen.

Contratos VeladosWhere stories live. Discover now