Fuga desesperada

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--- 18 horas.

Inês abriu os olhos e percebeu uma silhueta a sua frente. A luz era precária. Era quase imperceptível a visão de alguém. Estava amarrada numa cadeira de tortura elétrica. Seus pés estavam dentro de um recipiente com água. As mãos presas por correias de couro grosso, assim como as suas pernas.

Estava sonolenta. Completamente passada e sem noção de dias e horas. Dormiu e acordou várias vezes que estivera ali, não tinha noção se era noite ou dia. Nem sabia ao exato o tempo que estava ali. Os remédios mexeram tanto com ela que nem notara que estava a um dia aprisionada.

Ouviu um cantarolar de voz grossa ecoando pelo ar e abriu os olhos novamente. Era o enfermeiro com a sua seringa. Teve dificuldades em se expressar: "Não, por favor, outra injeção não. Preciso ver meu filho".

"Tudo bem. O verá assim que terminar o tratamento. Logo, logo estará boa para ir embora" -, disse o afrodescendente com voz grossa e aveludada.

Ele foi aplicar a injeção e viu os olhos de Inês bem abertos. "Não me olhe assim. Sou pago para fazer isso. Tente compreender, esse é o meu papel, eu vivo disso, professora" -, disse o ex-aluno tentando redimir a sua culpa.

"Não preciso disso e você sabe bem" -, disse a professora em tom bem firme. O enfermeiro deu de ombros.

"Já disse que me formei para isso, infelizmente todos os pacientes que aqui chegaram pelo exército precisam de tratamento. O gás letal, quando não mata, causa transtornos mentais. A senhora vai se recuperar, tenha fé nisso" -, explicou o rapaz. "Doutor Zentchen nos deu uma palestra sobre esse gás. Sujeito inteligente!".

"Um farsante que não sabe de nada. Está tentando ocultar a verdade do mundo por motivos que ninguém sabe. Todos estão sendo usados por eles. Se me libertar posso provar que tem coisas estranhas acontecendo por aqui" -, explicou Inês.

"Tem sim" -, disse o negro sorrindo simpaticamente. "Nessa ala, só tem coisas estranhas, professora. Todas tem haver com uma tal teoria da conspiração. Desculpa-me, mas a picadinha vai doer um pouquinho só" -, finalizou o enfermeiro aplicando a injeção.

Foi efeito instantâneo. Inês sentiu-se desconectada ao findar da picada. Pode perceber a presença de outra pessoa, um pouco mais baixa que o negro. Trajava um jaleco branco.

Não estava com sono e nem dormente. A sensação era de flutuação. O homem se aproximou: "Deixe-nos a sós Brandão" -, ordenou o psiquiatra ao enfermeiro. Ele obedeceu pronta e rapidamente.

O psiquiatra andou de um lado para o outro antes de começar a perguntar as coisas: "A senhora poderia me dizer o seu nome?".

"Meu nome é Inês... Sou professora do Colégio São Sebastião e tenho um filho que precisa de ajuda" -, alegou Inês.

"Nós iremos ajuda-lo. Nesse momento já estamos procurando por ele. Sabemos que a senhora tem um grande afeto por ele e cuidaremos de tudo enquanto se trata" -, explicou Dr. Ulysses pigarreando.

Inês demorou um tempo até raciocinar: "Não quero que se aproximem dele; eu quero cuidar. Deixem o meu filho em paz. Ele precisa da minha ajuda. Acredite em mim!" -, pediu a professora. Ulysses a olhava com pena. Ela continuou: "Ele foi abduzido, está todo marcado, não consegue falar. Deixe-me cuidar dele. É um pedido de uma mãe desesperada. Se escolheu a medicina é porque é uma boa pessoa. Me ajude" -, pediu Inês no seu ritmo mais devagar.

Ulysses ignorou a apelação de Inês. "A senhora disse que ele foi abduzido. Está falando de vida extraterrestre?" -, perguntou Ulysses com obviedade. Inês não respondeu. Apenas entendeu que a história parecia absurda demais. Ele insistiu: "Está falando que em outros planetas existem vidas?".

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