Uma parte do quebra-cabeça

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Zentchen era muito perigoso para ficar livre. Assim que certificou que estava fora da mina, Ortiz disseminou a retirada das tropas das ruas e as concentrou nas entradas da mina a fim de evitar que Zentchen voltasse. Reuniu todo material de vídeo que vinha sendo guardado pelos seus infiltrados e encaminhou para nuvem das quais os assuntos de Estado deveriam ser guardados e tratados com sigilo e mais discrição do que Zentchen tinha feito até o momento.

Agora, era hora de assumir o controle da situação. O primeiro passo era agradecer o seu contato. Encaminhou até uma caverna iluminada em que Adam estava sendo alimentado após um banho. O garoto comia tranquilamente e cabisbaixo.

"Belo trabalho, Adam" -, disse Ortiz ao rapaz. "Eles não desconfiaram de nada. É difícil perder amigos e pessoas na situação que você estava, mas enfrentou tudo com muita bravura. Teremos o maior prazer em recompensá-lo".

"Eu não fiz por vocês, senhor. Fiz para que isso tudo acabe logo. Estou enlouquecendo. E, não! Não fui um bravo. Perdi amigos e um amor. Creio que isso o exército não possa me recompensar. Só acabe logo com isso e saiam de nossa cidade e nossas vidas" -, disse o rapaz com lágrimas aos olhos.

Ortiz sentiu a rejeição na pele. Sentou-se de frente com o rapaz e teve um momento de compaixão: "Qual era o nome de sua amada?".

Adam ficou em silêncio por alguns segundos para não deixar a voz de choro invadir a sala. Ortiz viu gota a gota sobre a comida e segurou a mão do rapaz como um pai faria com um filho.

"Samantha, senhor!" -, respondeu enfim.

Tinha muitas coisas para fazer, mas ingratidão não poderia ser maior que a ajuda de alguém. "Me fale sobre ela" -, pediu Ortiz com um sorriso amigável no rosto.

Adam ergueu sua cabeça e viu um homem grisalho em torno de seus cinquenta anos. Aquilo que vivenciou poderia ter acontecido com qualquer um. Samantha tinha idade para ser filha dele. Talvez aquela gentileza que ele apresentava podia ser apenas o medo incubado de ter uma filha tomada por aquelas coisas.

"Ela era linda, doce, meiga e uma boa filha. Amava a mãe dela mais que tudo e, não namorávamos de fato, era um lance, que eu tinha como algo que eu queria ter levado para frente. Sabe? Casamento! Essas coisas antigas..." -, disse o jovem ruborizando.

Ortiz se levantou. Não poderia ficar mais. "Ela teve sorte de ter tido você em sua vida, mesmo que por pouco tempo, meu rapaz. As coisas mais marcantes estão na intensidade. E, nós, tivemos a sorte de tê-lo conosco".

A sala ficou em silêncio. Dessa vez, a respiração de Adam estava mais leve. Ortiz parou na porta: "Será tratado como merece aqui, mas não poderá sair até acabarmos de vez com o que tem lá fora. Pode dormir sossegado, descansar, ler, mas, a única coisa é que não daremos acesso é à telefonemas e à internet".

Adam apenas assentiu. Olhou para o prato de comida e voltou a comer conformado.

*****

"Como o menino está?" -, foi a primeira pergunta de Vanessa à Ortiz. "Ficará bem" -, respondeu o Marechal. "E, Cohen, como está?" -, emendou Ortiz.

"Bem. Está no banho. Frio e distante. Imaginei que a primeira coisa que fizesse ao me ver seria me abraçar, dizer que estava com saudades... mas, machucada e quase careca, creio que não tenho atrativos" -, disse Vanessa chateada passando a mão sobre o cabelo recém-raspado para corrigir a tortura de Zentchen.

"Cohen é profissional demais" -, amenizou Ortiz. "Aquela cabeça maluca está arquitetando muitas coisas para ligar os pontos desses alienígenas aqui. Sabe o que isso significa para ele, não sabe?" -, perguntou com carinho.

Contratos VeladosWhere stories live. Discover now