Susto na escuridão

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O frio parecia continuar os perseguindo. Invés de subir para a superfície, aquele corredor parecia escarpado e descia cada vez mais. Na cabeça de André, a escassez de ar.

Seus cotovelos estavam machucados e doloridos de raspar nas pedras. Aquele túnel era mais fechado que uma tumba. Arrastava-se com dificuldade. Vez ou outra sua cabeça batia no teto. Tudo preto. Não via nada.

Só não desmaiara porque o frio e a sensação térmica o garantia íntegro na realidade: "se tem frio, tem ar no meu nariz" -, raciocinava.

Herson sentia-se enroscando ainda mais e sabia que ia sair noutra enrascada. Sabia que as descidas os levaram aos intraterrestres. Além disso, estava ressabiado com o aperto daquele túnel. Seus ombros raspavam as paredes laterais. Tinha vontade de gritar e explodir tudo àquilo para que pudesse estar livre e voltar aos dias normais de fuzileiro em campos de concentração. Preferia a linha de frente numa batalha que toda essa conspiração maligna e alienígena.

Sentia de perto o que um claustrofóbico sentia. O silêncio era a melhor forma de acabar com aquilo logo.

João seguia em silêncio e obstinado. Já passara por coisas piores nas missões que realizara no Oriente Médio. Estava acostumado com lugares apertados e pressões. Aquilo, não era nem de longe o inferno que vivera. O que lhe preocupava era dar de frente com os alienígenas. Não sabia como enfrentar algo que não fosse desse mundo. Até então, nessa missão, só cuidara do monitoramento das bases. Jamais viu um ser daqueles de verdade. Apenas em treinamentos internos do exército.

Isaías pensava em sua mulher e nos filhos. Não via a hora de retomar e abraçar as crianças. Seus olhos enchiam de lágrimas em ver que abandonou a família para salvar Daniel e Estela. Ao mesmo tempo sentia-se aliviado por cumprir a sua missão de salvar vidas. Escolhera justamente servir a Deus para ser um missionário do amor na Terra.

Talvez os alienígenas estivessem buscando nos humanos a capacidade de amar, de se comunicar e ser feliz. "Os humanos são presentes de Deus" -, pensou.

Mas, no fundo, lamentava que a raça humana se autodestruísse em detrimento da individualidade de seus interesses.

*****

Aquela "coisa" devorava mais e mais carcaças humanas. Parecia famintamente insaciável.

Adam se mexeu puxando o ar nas narinas como se investigasse o futum que chegava até as suas narinas.

Com medo de chamar a atenção da 'coisa', Ney tapou a boca do companheiro pressionando com força. "Estamos correndo risco, fique em silêncio" -, sussurrou.

Adam arregalou os olhos sem entender muita coisa. Mas, sabia que essa fala representava algo real. Nos últimos dias, o que parecia impossível acontecia, portanto, era melhor se calar.

Ficaram em silêncio e a única coisa que sobressaía era o som da mandíbula triturando a sua comida. Pelo vão dos corpos, Ney viu a 'coisa' se afastar para longe. Era hora de sair dali e fugir sorrateiro.

Achou melhor preparar o amigo. Ainda com a mão na boca dele sussurrou em seu ouvido. "Estamos num cemitério aberto. Tem mortos devorados por todos os lados. Não grite, não faça barulho se não quiser se tornar mais um desses. Tem um alienígena que come carne humana e precisamos fugir antes que ele nos descubra".

Aos poucos, os dois foram se desvencilhando dos defuntos que os cobriam. Adam estava horrorizado com os corpos. Tentava não se impressionar, mas não conseguia tirar os olhos daquelas pessoas mortas. De tudo o que via, o que mais lhe botava horror eram os olhos daqueles pobres coitados arregalados. Como se tivessem visto de frente o seu algoz.

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