Xeque!

37 7 0
                                    

Juciney se mostrou estupefato com a reação de Brenda.

"Não, não e não!" -, disse a moça. "Vamos tirar esse povo daqui e sair com vida!".

Ele a encarou severamente: "O que acontece aqui é muito grande. Tentar flagrá-los e revelar tudo o que tem aqui é a forma mais sensata de nos salvar e salvar mais gente, do contrário, seremos apenas fugitivos" -, tentou o rapaz.

"Acha mesmo que sairíamos com vida de uma empreitada dessas? Você é muito inocente, rapaz!" -, emitiu com agressividade a moça. "Só quero voltar para o colo de minha mãe e de meu pai. Pare de tentar salvar o mundo" -, finalizou a moça.

Juciney não conseguiu encontrar razão para não mudar o panorama da cidade. A olhava com descrédito. Na sua cabeça, o sentimento de raiva pelo egoísmo daquela moça. Mas, no âmago, sabia que ela estava certa: poderiam morrer e morreriam, com certeza!

Estava tudo errado! Contato alienígena debaixo do solo da Vila de São Sebastião não poderia ser considerado algo comum. Ainda mais com uma plataforma repleta de discos voadores. Algo que pudesse ser digno de cinema, mas não da realidade.

A dupla sai da caverna iluminada com destino ao poço. Brenda torcia para que tudo desse certo e Ney seguia em silêncio com seus pensamentos.

Eles existem! Ninguém aqui é louco! Estão monitorando e participando de tudo aqui na terra. Mas porque tudo tão escondido? E, principalmente, porque no fim de mundo que era São Sebastião? Essa perguntava deixava Ney desconfortável.

Qual era o interesse do exército agir veladamente? Se há um contato extraterrestre o ideal não seria compartilhar com a humanidade?

Alguém estava ganhando algo? Havia um contrato?

"Ney, jogue a corda!" -, disse Brenda retirando Ney dos seus pensamentos. Estava tão turvo de questionamentos que nem percebera o caminho de volta.

Desenrolou a corda em silencio e a amarrou num monte de pedras, pois estava fraco para agir sem um 'apoio'. Sabia que puxar um por um ia desgastá-lo ainda mais e o mais sensato a fazer era amarrar a corda em algum apoio e dar nós para as pessoas subirem.

Sentia-se em si o peso da responsabilidade pelas vidas lá em baixo. Tão logo ajustou a corda acendeu a lanterna para dentro do poço para ver os sobreviventes.

Tudo igual. Todos tampando o rosto para a luz não machucar os olhos.

"Acendam a outra lanterna para ajudar" -, pediu. O padre acendeu a lanterna e aos poucos os olhos das pessoas iam se ajustando à luz e só assim podiam se ver e ver tudo como ainda permanecia.

Não houve euforia. Estavam todos cansados, machucados, despenteados e repletos de olheiras. Pareciam estar entregues à sorte. O único ato de vida era ainda o choro contido e tímido de Adam nos braços de Letícia.

A moça prendia a cabeça do jovem em seus ombros a fim de evitar o contato visual com o cadáver da namorada falecida.

"Vamos logo com isso rapaz!" -, ordenou o soldado ranzinza quebrando o clima de solidão e medo que pairava naquele buraco.

"Vamos tirar um por um, tenham paciência!" -, explicou Juciney jogando a corda. "Mas, os soldados têm que garantir que não farão nada para atentar contra nós".

"Para isso eu tenho um jeito" -, sussurrou Brenda entredentes para o rapaz que a encarou com misto de surpresa e susto. Todos preso ali já estavam alterados. Tinha medo do resultado que viria.

"Demoraram para ir à caverna ao lado" -, tentou mexer com o psicológico de Ney. "Não vimos só a caverna, temos novidades para revelar".

"Shiiiuuuu" -, fez Brenda. "Está louco!" -, sussurrou.

Contratos VeladosWhere stories live. Discover now