12.

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Voltei pra casa no dia três. Dois dias antes do meu aniversário. Estava morrendo de saudades das meninas, da minha mãe, da minha madrasta e do meu pai. Tive que ir de Uber, deu quase cem reais, desci na porta de casa com a mochila nas costas. Abri o portão e sai entrando. Casa silenciosa e vazia.

Cheguei na casa do meu pai e encontrei todo mundo de bucetão pro alto na frente do ventilador e conversando.

Lorraine: Ahhhh minha gravidinha. — Ela me abraçou apertado, empurrei de leve e fiquei sendo paparicada pelas meninas. —
Vitória: Quinze aninhos bem na sexta? Hum que isso em. — A gente tava falando sobre meu aniversário. —
Camila: Vamos bailar. — Balançou minha barriga. —
Carolina: Nem vem! A gente pode ir num rodízio, que tal?
Lorraine: Comida? Bora. — Ficamos falando sobre isso e acabamos decidindo ir num rodízio mesmo. Eu não queria festa e sem condições né, já que estava em cima da hora e minha mãe ainda nem chegou de viagem. Meu pai sem chances. Só resta ir comer pizza.

O calor aqui parecia ser dez vezes mais do que na casa da minha avó. Tive que tomar um banho pra melhorar um pouco. Quando sai senti o cheiro de macarrão, sorri e fui pro meu quarto que já estava pronto. O guarda-roupa nem tinha muita roupa que me cabia, tive que por top e um short de pano largo. Prendi o cabelo em um coque e peguei meu celular. Desci indo direto pra cozinha.

Carolina: Olha eu comi antes de vim pra cá mais esse cheiro me deu uma fome.
Naiara: Ta quase pronto, Carol.
X: Macarrão na panela de pressão? Aí c malou sem querer! — Escutei sua voz e olhei pra trás, ele me encarou por alguns minutos e deu um beijo na Nai e saiu da cozinha. Desta vez eu não liguei, tomei um ranço tão grande que aquele ali não fede e nem cheira. —
Naiara: Você que é criança mais ele que é infantil.
Carolina: Pra mim não faz diferença mais! — Eu estava tão em paz que não queria me estressar. Esperei pela janta e comi, logo me aposentei em minha cama. Liguei a internet e entrei no wpp, muitas mensagens a ser respondida.

WhatsApp on:

Crush: chegou na favela e nem deu um salve em
metida
Eu: ih deixa de ser feio kkkkkkk cheguei agora a pouco
Crush: suave
ta arrumando oq aí ?
Eu: deitadinha e você ?
Crush: nada pô
Cabei de largar a pista
Aí bora da um role?
Eu: pode ser amanhã? To numa preguiça hj
Crush: pode
Quando c puder me manda uma mensagem
Eu: Jaé

WhatsApp off...

Eu ainda fiquei muito tempo só no celular esperando pelas piranhas que tinham sumido. Feias. Me abandonaram. Mais o cansaço me venceu e eu apaguei.

(...)

Quinze aninhos e quase cinco meses de gestação. Acordei a todo vapor, tava sentindo uma incomodo horrível na barriga, tive até medo. Caminhei até o quarto da minha mãe que chegou nessa madrugada.

Carolina: Mãe, to sentindo dor. — Eu respirava fundo enquanto segurava minha barriga. Ela demorou a raciocinar, mas quando fez, levantou num pulo. —
Flávia: Vou te levar no médico, ta? — Assentiei. Troquei de roupa, peguei meu documento e entrei no carro. — Parabéns. — Ela me abraçou rápido antes de chegar no hospital. Fomos o caminho todo conversando e isso me fez distrair a dor. —
Dr.: Ela está tendo princípio de aborto. — Comunicou com a enfermeira. — Prepare a sala! — Eu já chorava desesperada. — Carol eu preciso que você tenha calma, se continuar assim vai se complicar ainda mais. Olha pra mim. — Encarei ele. — Respira fundo. — Fiz. — Repete esse procedimento diversas vezes. Eu não vou deixar que nada aconteça com vocês, tá? — Assentiei e ele me indicou a cadeira de rodas, sentei e ele empurrou pra um corredor. — Houve muito esforço da parte dela nesse fim de ano?
Flávia: Não sei. Ela passou com avó. — Ele perguntava e minha mãe respondia. Deitei-me na cama após trocar minhas vestes, ele colocou a agulha em mim e aplicou um remédio na bolsa. —
Dr.: Esse sedativo vai fazer com que a tentativa de aborto pare, ok? — So assentiei. Nesse meio tempo mediu minha pressão, tirou sangue pra alguns exames, eu já me sentia cansada. — Está tomando as vitaminas direitinho?
Flávia: Ta!
Carolina: Estou com sono.
Dr.: Isso é normal, pode descansar. Sua mãe vai está aqui do seu lado te acompanhando em tudo. — Assentiei.

Eu passei os próximos dois dias em observação. Meu estado era estável, mas o médico temia por acontecer algo já que tive esse deslize. Se antes foi recomendado repouso, desta vez ele até pediu pra me amarrar na cama só pra não levantar e fazer esforço.

Fiquei triste por ter que passar meu aniversário em uma cama de hospital, mas feliz por saber que tudo está bem com minha menininha. Sim, fiz o ultrassom antes de vim embora e a sapeca estava bem com as pernas abertas, tá que nem a tia rs.

Quando as meninas souberam ficaram felizes. Meu vô Kaká nem se fala, me fez prometer usar a primeira roupinha que ela ganhou. O bom de ter descoberto o sexo é que eu passei a ganhar muitas coisas. A mãe da Ana; minha prima; me deu varias coisinhas que ela guardou durante esses seis anos. Ganhei um berço da Nai, uma cômoda do meu tio Gilson. Cada coisinha uma mais linda do que a outra.

Eu estava feliz com essa nova fase. Que seja o que Deus quiser, não é mesmo?!

Meu crush gente ficou animadinho com isso, parecia até que a menina era dele. Comprou um enxoval, acredita? Fiquei muito feliz. Só soube agradecer ele e dona Sandra. Meus anjos. Me dão tanta força.

Luísa: É muito meu iti malia. — Ela falava com minha barriga enquanto eu tomava sorvete. Vim passar essa semana na casa dela, aqui na minha antiga quebrada. — Eu odeio o Patric. Sério! Vontade de da um esparro namoral.
Carolina: Aí amiga deixa de coisa. Um dia ele se resolve com Deus. — É minha melhor, quase como irmã. Não escondo nada. —
Luísa: Eu deixo, mas você vai ver vou da uma surra naquela sonsa da Sarah.
Carolina: Vamos parar de falar do casal lixo? Vamo. — Ela riu e trocou o assunto. Conversamos sobre tantas, tantas coisas. Quando anoiteceu fomos embora pra casa dela.

- METADE DO FIM! - EM PAUSA.Where stories live. Discover now