Voltei pra casa no dia três. Dois dias antes do meu aniversário. Estava morrendo de saudades das meninas, da minha mãe, da minha madrasta e do meu pai. Tive que ir de Uber, deu quase cem reais, desci na porta de casa com a mochila nas costas. Abri o portão e sai entrando. Casa silenciosa e vazia.
Cheguei na casa do meu pai e encontrei todo mundo de bucetão pro alto na frente do ventilador e conversando.
Lorraine: Ahhhh minha gravidinha. — Ela me abraçou apertado, empurrei de leve e fiquei sendo paparicada pelas meninas. —
Vitória: Quinze aninhos bem na sexta? Hum que isso em. — A gente tava falando sobre meu aniversário. —
Camila: Vamos bailar. — Balançou minha barriga. —
Carolina: Nem vem! A gente pode ir num rodízio, que tal?
Lorraine: Comida? Bora. — Ficamos falando sobre isso e acabamos decidindo ir num rodízio mesmo. Eu não queria festa e sem condições né, já que estava em cima da hora e minha mãe ainda nem chegou de viagem. Meu pai sem chances. Só resta ir comer pizza.O calor aqui parecia ser dez vezes mais do que na casa da minha avó. Tive que tomar um banho pra melhorar um pouco. Quando sai senti o cheiro de macarrão, sorri e fui pro meu quarto que já estava pronto. O guarda-roupa nem tinha muita roupa que me cabia, tive que por top e um short de pano largo. Prendi o cabelo em um coque e peguei meu celular. Desci indo direto pra cozinha.
Carolina: Olha eu comi antes de vim pra cá mais esse cheiro me deu uma fome.
Naiara: Ta quase pronto, Carol.
X: Macarrão na panela de pressão? Aí c malou sem querer! — Escutei sua voz e olhei pra trás, ele me encarou por alguns minutos e deu um beijo na Nai e saiu da cozinha. Desta vez eu não liguei, tomei um ranço tão grande que aquele ali não fede e nem cheira. —
Naiara: Você que é criança mais ele que é infantil.
Carolina: Pra mim não faz diferença mais! — Eu estava tão em paz que não queria me estressar. Esperei pela janta e comi, logo me aposentei em minha cama. Liguei a internet e entrei no wpp, muitas mensagens a ser respondida.WhatsApp on:
Crush: chegou na favela e nem deu um salve em
metida
Eu: ih deixa de ser feio kkkkkkk cheguei agora a pouco
Crush: suave
ta arrumando oq aí ?
Eu: deitadinha e você ?
Crush: nada pô
Cabei de largar a pista
Aí bora da um role?
Eu: pode ser amanhã? To numa preguiça hj
Crush: pode
Quando c puder me manda uma mensagem
Eu: JaéWhatsApp off...
Eu ainda fiquei muito tempo só no celular esperando pelas piranhas que tinham sumido. Feias. Me abandonaram. Mais o cansaço me venceu e eu apaguei.
(...)
Quinze aninhos e quase cinco meses de gestação. Acordei a todo vapor, tava sentindo uma incomodo horrível na barriga, tive até medo. Caminhei até o quarto da minha mãe que chegou nessa madrugada.
Carolina: Mãe, to sentindo dor. — Eu respirava fundo enquanto segurava minha barriga. Ela demorou a raciocinar, mas quando fez, levantou num pulo. —
Flávia: Vou te levar no médico, ta? — Assentiei. Troquei de roupa, peguei meu documento e entrei no carro. — Parabéns. — Ela me abraçou rápido antes de chegar no hospital. Fomos o caminho todo conversando e isso me fez distrair a dor. —
Dr.: Ela está tendo princípio de aborto. — Comunicou com a enfermeira. — Prepare a sala! — Eu já chorava desesperada. — Carol eu preciso que você tenha calma, se continuar assim vai se complicar ainda mais. Olha pra mim. — Encarei ele. — Respira fundo. — Fiz. — Repete esse procedimento diversas vezes. Eu não vou deixar que nada aconteça com vocês, tá? — Assentiei e ele me indicou a cadeira de rodas, sentei e ele empurrou pra um corredor. — Houve muito esforço da parte dela nesse fim de ano?
Flávia: Não sei. Ela passou com avó. — Ele perguntava e minha mãe respondia. Deitei-me na cama após trocar minhas vestes, ele colocou a agulha em mim e aplicou um remédio na bolsa. —
Dr.: Esse sedativo vai fazer com que a tentativa de aborto pare, ok? — So assentiei. Nesse meio tempo mediu minha pressão, tirou sangue pra alguns exames, eu já me sentia cansada. — Está tomando as vitaminas direitinho?
Flávia: Ta!
Carolina: Estou com sono.
Dr.: Isso é normal, pode descansar. Sua mãe vai está aqui do seu lado te acompanhando em tudo. — Assentiei.Eu passei os próximos dois dias em observação. Meu estado era estável, mas o médico temia por acontecer algo já que tive esse deslize. Se antes foi recomendado repouso, desta vez ele até pediu pra me amarrar na cama só pra não levantar e fazer esforço.
Fiquei triste por ter que passar meu aniversário em uma cama de hospital, mas feliz por saber que tudo está bem com minha menininha. Sim, fiz o ultrassom antes de vim embora e a sapeca estava bem com as pernas abertas, tá que nem a tia rs.
Quando as meninas souberam ficaram felizes. Meu vô Kaká nem se fala, me fez prometer usar a primeira roupinha que ela ganhou. O bom de ter descoberto o sexo é que eu passei a ganhar muitas coisas. A mãe da Ana; minha prima; me deu varias coisinhas que ela guardou durante esses seis anos. Ganhei um berço da Nai, uma cômoda do meu tio Gilson. Cada coisinha uma mais linda do que a outra.
Eu estava feliz com essa nova fase. Que seja o que Deus quiser, não é mesmo?!
Meu crush gente ficou animadinho com isso, parecia até que a menina era dele. Comprou um enxoval, acredita? Fiquei muito feliz. Só soube agradecer ele e dona Sandra. Meus anjos. Me dão tanta força.
Luísa: É muito meu iti malia. — Ela falava com minha barriga enquanto eu tomava sorvete. Vim passar essa semana na casa dela, aqui na minha antiga quebrada. — Eu odeio o Patric. Sério! Vontade de da um esparro namoral.
Carolina: Aí amiga deixa de coisa. Um dia ele se resolve com Deus. — É minha melhor, quase como irmã. Não escondo nada. —
Luísa: Eu deixo, mas você vai ver vou da uma surra naquela sonsa da Sarah.
Carolina: Vamos parar de falar do casal lixo? Vamo. — Ela riu e trocou o assunto. Conversamos sobre tantas, tantas coisas. Quando anoiteceu fomos embora pra casa dela.
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- METADE DO FIM! - EM PAUSA.
General Fiction- Tudo que passamos em nossas vidas é questão de aprendizado, conhecimento, amadurecimento e superação. Passei por essas quatros etapas tanto na dor quanto no amor.