36.

4K 306 5
                                    

Carolina narrando.

Acompanhei a cliente até à porta da loja e dei um sorriso me despedindo. A vendedora da loja da frente estava bem sentada num banquinho, sentei no puf da porta.

Carolina: Movimento tá fraco hoje, né?
Jessica: Sim, menina, aqui enche mesmo só quando é dia de pagamento e final de ano.
Carolina: Aí fica um caos, né? Muita gente!
Jessica: Sim. A atenção é mais do que redobrada, porque entra um tanto de muvuca e você não sabe da intenção de ninguém né?
Carolina: Verdade, eu fico é doidi... AÍ.. ain. — Dei um grito e logo após gemi de dor. Do nada senti uma dor insuportável no pé da barriga que vinha juntamente com umas fincadas bem forte, pior do que dor de cólica. —
Jessica: Que isso, Carol? — Ela veio até a mim me segurando. —
Carolina: Porra, senti uma dor aqui na barriga, menina. — Respirei fundo fazendo careta. —
Jessica: Você tá sangrando, menstruou! — Olhei minha calça e tinha bem pouco de sangue. — Vai no banheiro se limpar que eu olho a loja aqui pra você. — Levantei e senti minhas pernas fraquejarem, a dor voltou com tudo e ela me segurou. — Tá me assustando.
Carolina: Tá doendo muito. — Sentia uma pulsação na vagina. — Tá doendo muito, me ajuda! — Eu já chorava, as lojistas daquele corredor vieram ver o que estava acontecendo e uma até trouxe água, mas nem quis. —
Gisele: Eu já chamei o SAMU.
Carolina: A lo..j....a não pod..e f-i-c-a-r s..sozin..ha. — Eu não conseguia nem falar direito, estava assustada e a respiração ofegante. —
Gisele: Eu disponibilizo uma funcionária minha até sua patroa chegar. Seus documentos tão aí? — Assentiei. Ela pegou minha bolsa e o segurança me ajudou ir até a portaria, depois de quase meia hora chegou a ambulância. Me colocaram na maca e me enfiaram lá dentro. —
Enf: Oi! Eu sou o enfermeiro Lucas, preciso que você se esforce pra se manter acordada que eu preciso de tirar informações de você. — Falava enquanto media temperatura, pressão, pulsação do coração. — Seu nome?
Carolina: Carolina. — Falei fraca, senti forte dor na pélvis. — Tá doendo muito!!!
Enf: Onde? — Indiquei e ele depois de me analisar, arregalou os olhos e abriu a boca duas vezes. — A PACIENTE ESTÁ SOFRENDO UM ABORTO. — Lançou assim na minha lata, o carro de socorro começou a se movimentar mais rápido e eu chorei. — Calma!
Carolina: Eu to perdendo um filho? — Comecei a ficar nervosa, inquieta. —
Enf: Se aquieta se não vou te sedar. — Eu mal escutava o que ele dizia, só me mexia e pedia pra isso não ser verdade. —

(...)

Estava já no quarto do hospital de repouso, tinha um prato de comida bem próximo a mim, mas eu não estava nem um pouco afim de comer.

Sentia uma dor indecifrável, perdi um filho (a) que nem sabia da existência ainda. Pensava o que fiz pra provocar isso, imaginava se um aborto desse tivesse acontecido na época da Mel ou Messias eu não ia aguentar.

Flávia: Oi. — Ela chegou perto do leito com um sorriso fraco nos lábios. — Como você está? — Alisou meu cabelo. —
Carolina: Péssima!
Flávia: Olha meu amor não fica assim. — Eu comecei a chorar. —
Carolina: A culpa é minha, mãe.
Flávia: Lógico que não, filha! Deus quem quis assim, talvez você ainda não tava preparada pro terceiro filho já que o Messias nem um aninho não tem ainda. — Funguei. — Não fica assim, meu amor.
Carolina: Quando vou poder ir embora?
Flávia: Daqui a pouquinho, parece que você tem que só tomar um medicamento e tal.

(...)

Deitei ao lado dos meus dois filhos e funguei. Melissa dormia bem serena, olhando pra ela lembrei que quinta era o seu aniversário. Quatro aninhos, ufa o tempo passa muito rápido. E logo depois vinha Messias completando um ano.

É verdade o que minha mãe diz... talvez eu ainda não estivesse estrutura psicológica pra criar outro filho nessa vida que to levando, em ter que visitar homem na cadeia, tendo que trabalhar. Talvez não era pra ser! Mas não deixo de ficar triste por essa perca.

📲
Zatão: Fala aí. — Já era madrugada e eu tinha mandado mensagem no wpp dizendo que precisava conversar. — Vai ficar calada agora?
Carolina: Desculpa. — Falei quase num sussurro. —
Zatão: Da ideia.
Carolina: Eu tive um aborto espontâneo.
Zatão: QUE? — Assustei. — Como assim, Carolina? Brinca com uns trem desse não pô.
Carolina: Lógico que não, amor! Última coisa que faria era brincar com uma coisa séria dessa. — Suspirei. — Eu tava no serviço e senti muita dor na barriga e ... — Falei tudo a ele. —
Zatão: PORRA. QUE DESGRAÇA! — Ele xingava e eu chorava baixinho. — Falei que não era pra trabalhar, aí tá vendo! É o esforço que você faz pô.
Carolina: Nada a ver, Ícaro. — Suspirei cansada. — Era só um feto, nem formado não estava. O médico disse que pode ser porque meu útero ainda está sensível, aguentei duas gravidezes muito nova!
Zatão: Porra mano era um outro filho meu. — Sua voz falhou. — Mais aí, Deus sabe de todas as coisas se aconteceu foi porque Ele permitiu, né não? — Murmurei concordando. — Fica assim não, preta. Nós já tem aí dois filhos lindo, cheio de saúde pô. Se for da gente ter mais, vamo ter.
Carolina: Aham. — Falei triste. —
Zatão: Eu te amo pô, fica assim não!
Carolina: Tabom, eu também te amo!
Zatão: Vou te aguardar aqui sábado, tá?
Carolina: É pra mim ir?
Zatão: E por que não?
Carolina: Cê disse que não era pra eu ir...
Zatão: Tava de cabeça quente, pode brotar pô! Traz minha princesinha, to ligado que quinta é aniversário dela pô. Vou te da uma grana e aí cê leva ela no shopping pra divertir.
Carolina: Tabom amor!
(...)

- METADE DO FIM! - EM PAUSA.Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt