❝ Amélia Machado sempre foi uma garota introvertida, fechada em seu próprio mundo que podia facilmente ser resumido por suas playlists e pelo seu caderno de colagens.
O auto-isolamento foi apenas uma das consequências catastróficas do terrível acide...
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O dia ao lado de Ben foi incrível. A conversa fluiu normalmente depois do assunto "pais", o que nos deixou leves por não ficar nada constrangedor.
Estávamos sentados na ponta do píer com os pés para fora do mesmo, observando o mar sob nós. Ben me contava o motivo de ter feito o seu intercâmbio em primeiro lugar:
— Eu queria sair da minha bolha, sabe? Ter novas experiências, respirar novos ares. Queria ir pra um lugar sem ter com que me preocupar se as pessoas iriam estar prestando atenção em cada passo que eu dava, como aqui na cidade, entende? E foi uma experiência realmente incrível. Eu conheci novas pessoas, novos lugares, experimentei como é viver no frio de três graus negativos — rimos — E me fez conhecer mais de mim mesmo. Além disso, não é como se eu não amasse viver aqui. É só que o mundo é um lugar tão grande que eu sinto que devo agarrar qualquer mínima oportunidade que eu tenho de explorá-lo.
— Wow — eu disse impressionada e dei de ombros, ainda chocada com a familiaridade daquilo — Você acabou de me descrever.
— Temos mais em comum do que imaginávamos — comentou feliz.
— Não temos nada! — eu retruquei de imediato e ele gargalhou — Tô falando sério! — eu sorri e empurrei seu ombro com o meu — Você é vegetariano e eu sou uma assassina carnívora. Você ama documentários, o que eu pensei ser impossível, e já eu gosto de séries fictícias. Você prefere ouvir sons naturais enquanto eu faço playlists pra, exatamente, tudo...
— Eu acho você linda e você não me acha nem um pouco atraente — ele levou a brincadeira para outro nível, o que me calou.
O olhei de lado com o rosto em chamas e ele me encarou de volta com um sorriso despretensioso nos lábios, esperando por uma resposta.
— Eu não sou bonita — falei baixinho, totalmente sem graça.
— Tá brincando? — ele se virou de lado, ficando de frente pra mim — O seu rosto é a coisa mais harmoniosa que eu já vi em toda minha vida — começou, exagerado como só ele conseguia ser — O seu cabelo até em seus dias mais revoltados é bonito e o seu olho castanho fica ainda mais hipnotizador na luz do sol — instintivamente coloquei uma mecha atrás da orelha e acabei por sorrir envergonhada por saber que estávamos sendo tocados pelo pôr do sol — E o seu sorriso...
Ben levou seus olhos até a minha boca e por lá os deixou, o que fez meu coração bater mais rápido. Desmanchei meu sorriso, me sentindo tensa. Ele, então, decidiu tomar uma iniciativa e aproximou devagar o seu rosto do meu.
Mas, quando estava perto o suficiente pra eu sentir a sua respiração contra o meu rosto, algo em mim despertou.
— Dona Karla! — eu disse de repente, o fazendo franzir a testa e se afastar.
— Não. Ben. — ele apontou para si mesmo e eu revirei os olhos.
— Dona Karla é a mãe dos Rodges. E ela deve chegar em casa em...— eu puxei meu celular para conferir as horas — 10 minutos! — pulei, me levantando.
