45 | Franciele Ramirez

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     Conversar com o Kaike sem nenhum filtro era a coisa mais fácil no mundo todo e a mais sincera também

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     Conversar com o Kaike sem nenhum filtro era a coisa mais fácil no mundo todo e a mais sincera também.

Foi por isso que passamos horas a fio conversando sobre tudo e ao mesmo tempo nada.

— Para! Minha barriga já tá doendo! — eu falei depois de rir por dez minutos consecutivos da história que ele me contou de quando entrou uma aranha caranguejeira enorme dentro da casa dele e ninguém teve coragem para matar, então a Dona Karla chamou o corpo de bombeiros.

— Foi hilário. Você tinha que ter visto a cara do bombeiro quando chegou e soube qual era a ''emergência'' — contou, também rindo.

  A nossa sessão risada foi interrompida pelo celular do Kaike que começou a tocar descontroladamente. Sua expressão mudou da água pro vinho quando ele desligou o aparelho.

— É a France. Ela já mandou três mil mensagens. — ele disse e suspirou, curvando as costas para frente, parecendo cansado.

— Eu sinto muito que as coisas não tenham dado certo para vocês — falei sincera.

— Ela não era assim, sabe? — ele me encarou pelo canto do olho — Possessiva e neurótica. — assenti, disposta a ouvir seu desabafo porque eu sabia que ele precisava disso — Eu a conheci no ano retrasado. Estava fazendo um bico no Aquário de Honolulu, eu ficava na parte da limpeza. E, um dia, eu soube que haveria uma apresentação sobre sereias lá. E advinha quem estava com uma cauda falsa nadando dentro do aquário pra entreter crianças?

— A Franciele? — perguntei impressionada, porque isso não parecia nada com ela.

— Bingo! — ele sorriu, parecendo se lembrar — Ela fez uma apresentação tão bonita e real que até eu achei que ela respirava mesmo embaixo d'água! — sorri — Ela chamou tanta a atenção das crianças que a administração a deixou como um espetáculo fixo, porque rendia um bom lucro. O espetáculo acontecia todos os fins de semana. Durante esse tempo, foi inevitável a gente não se esbarrar ou trocar algumas palavras, sabe? Até que um dia eu encontrei ela na praia e a gente conversou pela primeira vez de verdade. Eu tinha ido surfar e ela tinha ido encontrar com as amigas, mas nesse dia a gente desmarcou tudo. Depois saímos para tomarmos sorvete e, quando eu me dei conta, já estava gostando dela.

O olhei surpresa.

Era difícil imaginar o Kaike, que eu sempre vi como uma figura debochada e sarcástica, suspirando pelos cantos pensando em alguém. Isso não era mesmo a cara dele.

— Por que ela tava trabalhando, se os pais dela são ricos? Quer dizer, com uma casa daquelas, ela precisa ter boas condições financeiras! — comentei, interessada na história.

De Sol a SolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora