Finalmente

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Dois anos afastada do juiz.

Eu ainda não conseguia acreditar que já havia passado dois anos desde a última vez em que nos vimos, em minha pequena sala, em seu escritório. Ainda consigo me lembrar de seus olhos entristecidos e de tudo o que senti quando lhe disse a minha história.

A minha verdadeira história.

Talvez eu tenha sido ingênua, ao contar tudo para ele, esperando que ele não fosse atrás de Dourado e, simplesmente, esquecesse tudo. Ou no fundo, eu queria que ele me vingasse. Talvez eu quisesse que ele fosse atrás de Dourado para condená-lo pelos crimes, como as marcas em minhas costas, as torturas e as humilhações que eu havia passado quando estava com ele.

Acho que no fundo ainda era a tola Anna que acreditava em tudo.

Dei de ombros ao sair do pequeno apartamento que havia alugado, na pitoresca cidadezinha. Quando fui embora, levei comigo as roupas, a saudade de Julia e o meu amor por Oliver Maison, mas sabia que havia sido uma boa decisão.

Aqueles dois anos havia mudado meus pensamentos, minhas angustias e minha confiança nas pessoas, além dos meus cabelos estavam na altura do meu pescoço. Graças ao juiz, eu conseguia confiar nas pessoas a minha volta, pouco a pouco.

Como uma criança dando seus primeiros passos. Acabei sorrindo assim que desci as escadas do prédio, e ao chegar na rua, respirei fundo. Viver próxima as montanhas sempre havia sido um desejo secreto e agora consegui realizar. Meu trabalho era honesto, como uma garçonete em um restaurante familiar. A minha chefe era gentil e amorosa, meus colegas de trabalho sempre me fazia sorrir e meu lar era aconchegante. Eu finalmente estava orgulhosa de tudo o que fazia.

Andei pela rua, aproveitando o vento agradável, observando os rostos familiares dos moradores da cidade pequena, acenando para quem chamava meu nome e por fim, parei ao olhar para o restaurante a poucos metros de mim.

Viver daquela forma era o meu sonho.

Não precisava mais fugir.

Eu não precisava mais me esconder.

Só precisava parar de amar o juiz agora.

Coloquei um sorriso no rosto ao atravessar a rua, vazia naquele horário da manhã, e quando abri a porta do restaurante vi a minha chefe, sorridente como sempre. Judite Grinford conseguia ser uma mulher gentil, amável e generosa. Seus cabelos castanhos com fios brancos, seu rosto levemente arredondado e seu sorriso sempre fazia a olhar, desejando que fosse minha mãe.

― Deveria ter dormido um pouco mais – Judite disse assim que cruzei a porta – Ficou trabalhando até tarde ontem.

― Ainda tinha cliente – Sorri ao ir para os fundos do restaurante, sabendo que ela iria me seguir. Ela gostava de conversar, assim como eu.

― Mas não era cliente – Reclamou como sempre fazia – Aquele velho sabe que deveria ir para casa cedo, mas gosta de ficar perambulando – Como sempre, continuou a falar mal do Senhor Parquins. Um gentil senhor que gostava de ir ao restaurante contar sobre a sua vida quando era jovem. E sempre me dava boas gorjetas. – Ah! O encanador já foi até o apartamento? Aqueles encanamentos velhos. Eu sabia que deveria ter trocados todos anos atrás, mas sempre fui adiando – Eu assenti. Morar de aluguel em um dos apartamentos de Judite, me deixava feliz.

― Não se preocupe. Está tudo maravilhoso – A abracei antes de entrar no banheiro para me trocar. Naquela cidade, eu conseguia ser a Anna gentil que sempre sonhei. Vesti meu uniforme rápido. O vestido branco com detalhes em azuis sempre fazia com que eu sorrisse. A cor ficava bem em mim. Deixei meus cabelos soltos e sai do banheiro, aliviada. Trabalhar me deixava feliz. Fazia com que eu me sentisse útil.

MAISON [ Concluído] Where stories live. Discover now