A Punição pelos seus crimes

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SEMANAS DEPOIS...

Culpa?

Arrependimento?

Não sentia nada disso ao sentir minhas pernas doerem ao estremecerem diante dos olhares sombrios e nada amigáveis.

Todos cometiam erros em suas vidas, eu sabia, mas por qual motivo eu era a única a ser julgada?

Por mais que tentasse pensar sabia que não teria uma resposta para isso. Minhas mãos estavam algemadas mesmo que eu fosse pequena e ainda não tivesse completado dezoito anos. Provavelmente serviria de exemplo, como todos os jovens que eram julgados pelo carrasco juiz Maison, descobri antes do julgamento ao escutar uma conversa entre duas pessoas.

Um juiz benevolente com as vitimas e carrasco com os acusados.

Estava na guilhotina e talvez por isso sentia meu corpo estremecer. Minhas mãos estavam geladas assim como meu coração. Tentei sentir algo que eles desejavam enxergar em mim, sem sucesso.

O som da minha respiração pareceu maior do que me recordava. Aquela era a primeira vez em que eu olhava a tanto tempo para alguém como aquele homem. Todos deveriam estar me encarando, esperando arrependimento, provavelmente, mas sabia que eu não demonstrava nenhuma emoção. Não poderia.

Eu não queria demonstrar nada.

O modo como meus cabelos se mantinham presos em um coque fazia me sentir ainda mais estranha diante de tudo que acontecia ao meu redor. A roupa exageradamente formal e sem cor trazia náuseas.

— Imagino que deseja se declarar inocente – Por algum motivo escutei a voz do juiz repleta de sarcasmo. Não que eu tivesse experiência em julgamentos, mas por algum motivo ele me pareceu inapropriado. Seu olhar se manteve fixo em mim, e por alguns segundos imaginei que pudesse ler a minha mente. Se ele conseguisse, o que acharia?

Sentiria medo, Compaixão ou apenas ignoraria como todos faziam?

— Advogado, como sua cliente se declara? – Olhei de relance para o advogado que parecia ser jovem demais para estar ao meu lado. Ele se chamava Edmond, talvez, e agora procurava algum papel em meio a sua pilha. – Não estou pedindo o histórico dela, apenas inocente ou culpada.

— Sou culpada – Me declarei ocasionando um burburinho no recinto que foi cessado assim que o barulho do martelo contra a madeira foi escutado. O juiz não pareceu animado com a perspectiva do julgamento não acontecer.

—Tem noção do que disse? – Indagou como se estivesse preocupado. Não conseguia enxerga-lo com extrema facilidade, mas seus olhos negros eram marcantes assim como sua barba por fazer. Seus cabelos eram tão negros quanto a noite e mesmo assim fiquei curiosa para saber como ele seria por baixo daquela roupa preta e como seria o seu sorriso. Eu estava prestes a ser enviada para a prisão e ainda assim me pegava curiosa por algo banal.

O que tinha de errado comigo?

Eu deveria estar desesperada e implorando por piedade.

— Sim, tenho – Admiti séria, encarando-o o máximo que conseguia. Não olhei para as pessoas sentadas na plateia e muito menos para o meu advogado ou o promotor que me acusava.

— Está sendo acusada de destruir e incendiar um imóvel publico. Não sei o que leva vocês jovens a cometerem atos arbitrários e perigosos assim, mas já parei de tentar entende-los a muito tempo. Tem dezessete anos, correto? – Assenti inerte. Estava preparada para a punição – Continua se declarando culpada?

— Sim.

— Sendo assim será sentenciada a um ano no reformatório Greenhill. Em muitos casos a sua pena seria um regime aberto, mas quero que compreenda o seu erro. Quero que compreenda que poderia ter matado alguém. Vejo que seu advogado não tem nada a declarar.

O silencio mordaz do tribunal não me ajudou a permanecer calma quando sentia todo o meu nervo alterar-se. Sabia que deveria ser punido, contudo não esperava por algo assim. Olhei para o meu advogado encontrando o vazio. Ele não se importava comigo.

Tentei não me importar com o barulho do martelo contra a madeira, sem sucesso. Eu estava assustada demais para esboçar alguma reação, e essa era a verdade.

— Deveria ter ficado calada – O resmungo nada gentil do meu advogado, fez com que eu o encarasse incrédula – Crianças como você são insuportáveis. Achou que ele a deixaria escapar em troca de que? Aquele juiz é o demônio dos tribunais.

— Nada teria ajudado – Dei de ombros ao ver uma policial vir em minha direção – Na próxima não seja esse advogado de merda. Ao menos se esforce para perder ou ganhar – Deixei escapar antes de ser levada na direção oposta.

Desde o inicio sabia o que iria acontecer, porém por algum motivo me vi chorando durante todo o caminho.

A fraqueza não era uma das qualidades que admirava em mim mesma e sem perceber deixei que todos vissem a pessoa fraca que eu era.

Ergui o meu olhar ao passar por duas portas, deparando-me com o mesmo olhar de antes. O juiz não pareceu abalado ao me ver chorar, talvez estivesse acostumado ou desejasse me ver daquela forma. Desesperada.

— Chorar não vai adiantar nada – O escutei falar ao passar por mim. Sabia que não adiantaria, simplesmente não conseguia parar.

Era a única garota que chorava ao ser levada em direção ao reformatório. Em direção a minha nova vida.

CONTINUA...

MAISON [ Concluído] Where stories live. Discover now