Uma luz no final do túnel

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Chorar não vai adiantar nada.

As palavras frias do juiz ainda ecoavam em minha mente mesmo após três meses no reformatório. O reformatório lembrava as prisões que eu via nos filmes quando era criança e assustadoramente acabei ficando com medo de dormir a noite. Com medo da escuridão e do silencio. Eu nunca quis ser o tipo de garota que sofria por tudo que acontecia com ela, entretanto acabei me vendo como uma delas. Como uma mocinha de um filme que vivia assustada e com medo.

Por quanto tempo vou continuar sendo fraca?

Eu realmente queria saber. Suspirei ao olhar para o uniforme que vestia, um macacão cinza. Tudo a minha volta era cinza e branco, pois para eles não havia outra cor. O mundo era sombrio e desesperador para eles, assim como deveria ser para mim.

— Por quanto tempo vai ficar assim? – A voz irritante da garota que dormia na parte de cima do beliche falou ao me ver parada segurando as barras da cela onde estávamos. Dividia a cela com três garotas. Todas possuíam um olhar tão vazio quanto o meu e não pareciam ansiosas para fazerem amizade. – Essas vadias ricas são tudo assim. Ficam achando que alguém vem salvá-las – Gargalhou juntamente com as outras duas garotas. Eu não esperava ser salva. Não tinha ninguém para me salvar. – Não vai falar nada? – A sua vou começava a aumentar gradativamente. Sempre ouvi historias de como era o reformatório e por isso tinha conhecimento que ela logo iria querer brigar comigo.

Escutei seus passos virem em minha direção. Senti ela parar atrás de mim e não me virei. Eu estava preparada para ataca-la se fosse necessário.

— Responda quando eu falar, vadia – Disse puxando o meu cabelo com força. Os poucos fios rosados que eu tinha em meio aos meus cabelos loiros caíram sob meus olhos quando ela forçou minha cabeça para baixo.

Revidar foi a única coisa que consegui pensar ao flexionar o meu braço e bater o meu cotovelo contra a barriga dela com toda a força que tinha. Escutei a sua tosse após me soltar.

— Eu não queria fazer isso – Sorri ao me virar e vê-la ligeiramente pálida – Para que saiba, não sou uma garotinha rica e mimada.

— Sua... – Grunhiu assim que avançou em minha direção, porem antes que pudesse me bater escutei a cela sendo aberta. Algum barulho que fizemos atraiu a atenção do guarda que estava de plantão. As garotas esboçaram olhares assustadores ao encarar o guarda logo atrás de mim. O homem não deveria ter menos do que quarenta anos, seus olhos tinham rugas, seus cabelos estavam brancos e sua barriga era maior do que deveria ser para aquele ramo. Por algum motivo, associei repulsa a ele.

— Veja o que temos aqui – Sua voz era igualmente repulsiva e antes que pudesse perceber tinha dado alguns passos para atrás assim que ele abriu a cela. Agia de forma instintiva ao ver o medo nos olhares das garotas que antes tentavam me bater. – Quatro garotinhas brigando. Quem começou? – Algo malicioso estava estampado sem sua face. Não precisei me virar para saber o que iria acontecer, elas iriam me acusar. – Então foi você – Não fiz nada. Continuei parado ao vê-lo se aproximar de mim e segurar em meu braço em seguida – Vai para a solitária – Decretou como se estivéssemos em alguma prisão de segurança máxima. Conversar não iria adiantar então me deixei ser puxada para fora da cela e pelo corredor antes silencioso. Todas as garotas gritavam ao me ver passando sendo levada pelo guarda. – Vamos ver se vai aprender a sua lição – Anunciou ao puxar o meu braço com mais força assim que paramos próximos a uma escada. Parei no primeiro degrau e olhei como se tentasse compreender o que iria acontecer, mas o guarda nada disse ao me empurrar. Desci os degraus sentindo ele atrás de mim e ao descer o último acabei me dando conta de que estava no inferno.

O local era escuro, úmido e silencioso. Não havia nada além de uma porta escura, a qual encontrava-se fechada. Engoli em seco ao ser empurrada novamente, mas agora em direção a porta. Senti a mão dele em minhas costas.

— Vai aprender a se comportar, não vai? – Não consegui falar nada, pois senti sua mão segurar a minha cintura com força, forçando-me a ir de encontro ao seu corpo. – Se você se comportar podemos nos divertir e você volta lá pra cima. – Eu sabia que deveria gritar, mas não conseguia. Logo as duas mãos do guarda se encontravam tateando o meu corpo. – Você é linda. Sorte a minha ter ido até a sua cela.

— Desgraçado – Murmurei ao fechar os olhos antes de tentar me soltar dele, entretanto meu braço foi agarrado pela sua mão ao ponto de sentir dor. Em um momento de lucidez, comecei a gritar desesperadamente recebendo um tapa em meu rosto como resposta para em seguida ser jogada no pequeno cubículo escuro e vazio.

— Acabou de cometer um erro. Eu poderia ter ajudado enquanto estivesse aqui, sabia? Sou bem generoso, mas escolheu sofrer.

Nada disse ao encará-lo esperando poder finalmente ficar sozinha na escuridão. Quando ele fechou a porta, finalmente percebi que não havia cama, apenas um colchão sujo no chão e um vaso sanitário. – O que é isso tudo? – Me perguntei ao sentar no chão com as costas colada na parede e chorar finalmente. Chorar pela dor que sentia em meu braço e pelo erro que havia cometido. Apoiei a minha cabeça na porta fria, enquanto rogava para que tudo fosse um pesadelo quando eu acordasse, mesmo sabendo que não seria devido a dor.

Meu corpo todo doía, assim como o meu arrependimento começava a crescer. Havia desistido de tudo por uma família que nem me visitava.

O que realmente estou fazendo com a minha vida? Se isso pode ser chamado de vida.

Fechei os olhos ignorando o odor, o frio e a dor. Adormeci sentada no chão segurando minhas pernas contra o meu peito com as lagrimas já secas em meus olhos.

Não consegui saber por quanto tempo permaneci adormecida até escutar barulhos na porta, o que me fez desencostar e seguir para o lado oposto. Mantive meus braços cruzados em frente ao meu corpo, tentando proteger a mim mesma do que poderia surgir.

— Tem visita – O mesmo guarda da noite anterior falou como se nada tivesse acontecido quando tinha a lembrança em meu braço. – Saia logo!

Continuei o olhando durante mais alguns segundos, talvez eu só quisesse enfrenta-lo ou continuei parada devido ao medo do que ele poderia fazer. Realmente não sabia. Demorei um tempo para segui-lo, subir as escadas o mais rápido que meu corpo permitiu e por fim ir para uma ala que desconhecia. Uma ala do reformatório que era reservado para as visitas. Uma grande sala com algumas mesas e cadeiras, câmeras em todos os lados e uma porta com grades que dava acesso para outra porta, a qual deveria levar para a saída daquele reformatório. Olhei para a única pessoa rogando a Deus para que tivesse algum engano. O homem sentado de forma elegante na cadeira de metal era o mesmo juiz que me condenara.

— Demorou – Ele comentou casualmente ao me olhar demoradamente.

CONTINUA...

MAISON [ Concluído] Where stories live. Discover now