Grupo Inconsequente

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Muitos sempre diziam que jamais seria alguém na vida. Meus próprios pais falavam isso com extrema frequência em meio as brigas. Brigas que eu era obrigada a presenciar todas as noites, como se fosse um teatro doentio onde o sangue deles seria o sinal do sucesso. Cresci em meio a gritos, medo e desespero. O que eu poderia esperar de um mundo assim?

Eu não esperava nada.

Mas por algum motivo, acabei conhecendo as pessoas que me ajudaram e seriam a minha família, a minha mais nova família.

Não conseguia lembrar do rosto do meu pai, por algum motivo, mas sempre lembrava dos olhos entristecidos da minha mãe. Olhos que enxergava em mim mesma quando Breno saia sem mim e retornava com marcas em seu corpo. Marcas feitas por outra mulher.

Estava me tornando uma patética mulher por amar alguém e por estar apegada as pessoas a minha volta, mas ainda assim eu era feliz. Isso era um problema?

Talvez fosse.

Estar sozinha ou com eles?

Essa era uma questão que fazia a mim mesmo durante meses, talvez anos. Olhei para os garotos sorrindo diante de algo que Breno falou, e mesmo assim desviei o olhar ao ver o seu olhar em mim. Estávamos sentados, conversando, bebendo e fumando como costumávamos fazer todos os dias nos fundos de uma casa abandonada. Aquele era o nosso pequeno reino e ali éramos a realeza, e não apenas crianças odiadas por todos.

Crianças odiadas e abandonadas.

Ali éramos especiais.

Formavamos uma família.

Acabei sorrindo ao me recostar na parede fria da casa. Provavelmente por ontem ter chovido e haver umidade. Olhei para os meus sapatos vermelhos e para as minhas pernas, as quais eram exibidas com alguma confiança. Eu não era a garota mais bonita daquele grupo, mas ainda assim tinha o meu charme. Meus cabelos loiros tinham algumas mechas rosas, meus olhos eram expressivos assim como o meu sorriso.

Conseguia o que queria de Breno, o atual líder do grupo. Um grupo que muitos chamariam de arruaceiros, porém para nós éramos uma sociedade.

— Por quanto tempo vai ficar ai, Anna? – A voz amigável de Breno soou em meus ouvidos fazendo com que eu sorrisse em resposta ao caminhar em sua direção. Ele estava parado a poucos centímetros de mim. Breno era mais velho do que eu. Mais velho do que qualquer outra pessoa naquele grupo. Seus cabelos pretos pareciam ser mais sedosos do que era apesar de seus cachos serem rebeldes, seus olhos amendoados e seu corpo esbelto sempre me chamavam a atenção. Eu havia o conhecido assim que fugi de casa, pela decima vez provavelmente, e como um anjo bondoso ofereceu abrigo sem desejar nada em troca além de minha confiança e apoio. O grupo do qual ele era líder fazia alguns saques e roubos para se manter, mas nada que pudesse machucar alguém. Ele havia me prometido não machucar as pessoas. Me prometeu que o grupo não servia para isso e sim para sobrevivermos.

— Estava esperando que viesse me buscar – Sorri atrevida como sempre fazia quando estava em sua frente. Eu o amava? Talvez o admirasse, mas isso era suficiente naquele momento. Assim que senti os braços dele envolta do meu corpo, coloquei a minha cabeça em seu peito ignorando os gracejos que os outros sempre faziam quando estávamos juntos. Eles gostavam de brincar sobre sermos um casal. Um casal não convencional, onde ele poderia pegar qualquer mulher e eu permanecia esperando o seu retorno.

Eu deveria ser uma tola.

— Hoje vamos fazer algo diferente, vem também? – Apenas assenti concordando. Todas as noites um grupo saia e retornava horas depois sorridentes sempre com algum objeto que venderiam depois ou dinheiro. Não era uma tola. Sabia que eles deveriam estar roubando ou furtando, contudo eles fizeram com que eu fosse parte da família deles.

A minha havia me jogado fora e eles me quiseram.

— Para onde vamos? – Perguntei ainda feliz por poder tocá-lo e por saber que ele confiava em mim.

— Vamos para um lugar diferente – Enxerguei algo em seus olhos, optando por ignorar como uma tola.

— Quem vai?

— Marcus, Lucas, Rick, eu e você – Sorriu ainda mais ao olhar para o lado avistando um dos meninos que lhe chamara. No mesmo instante soube que havia feito uma careta. Eu era egoísta demais para aceitar dividir a sua atenção quando finalmente o tinha para mim.

CONTINUA...

Então, falta 5 capitulos para Inocência acabar e por isso optei por postar essa, mas fiquem tranquila(os) que vou continuar todas e a demora em atualizar as outras histórias não seria afetada se eu não postasse essa. O tempo seria o mesmo. 

Beijos coloridos

MAISON [ Concluído] Where stories live. Discover now