Flerte

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Eu deveria sair daquele trabalho ou continuar tentando ignorar o juiz diabólico? Foi o que me perguntei ao entrar na cantina após sair da sala do juiz. Passei horas ignorando-o, desviando o olhar e respondendo de forma mais simples possível.

Ele era o meu chefe e eu não poderia fazer a mesma besteira.

— Problemas?- A voz agradável de Lian fez com que eu sorrisse largamente ao erguer o meu rosto. Sempre que eu o via acabava sorrindo em resposta. O juiz demoníaco poderia ser assim, se fosse tudo poderia ser mais fácil, eu acho.

— Apenas cansada – Não era uma mentira, já que eu estava cansada de tentar esconder a minha atração e ignorar os olhares do juiz. – E o trabalho como está?

— Muito bom, nessa época do ano sempre tem bastante julgamento e com isso a cantina fica cheia. Quer chocolate? – Perguntou com a voz baixa e eu assenti, talvez comer algo doce pudesse trazer alguma consciência e bom senso para minha vida. – Sente que já volto – Ele falou ao dar as costas. Antes de sentar na mesa mais próxima, o olhei se afastar. Lian tinha costas bastante largas e elegância ao andar. Eu poderia estar atraída por alguém como ele. Seria mais fácil.

E menos errado.

— Aqui está – Lian falou ao colocar uma barra de chocolate em minha frente.

— Sempre é assim tão gentil? – Perguntei ao pegar a barra e olhar para ele sorrindo. – Se for assim sempre, pode acabar falindo, sabe disso, não é?

E então ele gargalhou divertido ao sentar em minha frente. Olhei em volta percebendo estar sozinha com ele na cantina.

— Não se preocupe, a única que recebe chocolate gratuito é você.

Eu desconfiava de algo assim, mas ainda assim senti meu rosto um pouco vermelho ao sorrir. Ele estava afim de mim?

Não.

— Então obrigada pelo tratamento especial.

— É um prazer – Sorriu ao apoiar o queixo em sua mão, encarando-me. O modo como seus olhos mantinham-se fixos em mim era tentador.

Eu fiquei tentada em esquecer o juiz demoníaco.

Eu deveria fazer isso, certo?

— O que costuma fazer quando não está dando chocolate de graça? – Acabei perguntando por reflexo, eu acho, ou talvez estivesse dando em cima dele.

O que havia de errado comigo?

— Particularmente nada – Revelou pensativo – Gosto de fazer trilhas em meu tempo livre. Já experimentou? – Neguei. Eu já havia fugido de muitas pessoas, se isso contasse como trilha. – Deveria experimentar, o que acha de tentar?

— Com você?

— Sim, sou bem experiente nisso. Posso ver uma trilha para iniciantes por aqui, o que me diz?

Eu deveria negar.

Apenas negue e volte para o trabalho.

Disse a mim mesma algumas vezes até sorrir e concordar. Eu deveria esquecer o juiz demoníaco e fazer coisas novas poderia me ajudar com isso.

— Então me passe o seu número – Lian pediu ao retirar o seu celular do bolso. Mas eu não tinha um telefone – Algum problema?

— Me diga o seu e eu te ligarei – Não queria que ele soubesse a verdade sobre mim, sobre o quanto quebrada e louca eu fui no passado.

— Misteriosa, gosto disso – Sorriu ao anotar o seu numero em um guardanapo. – Não pode esquecer de me ligar.

— Não vou – Prometi ao olhar para o número dele. Aquele era o primeiro passo para a minha nova vida. Passei muito tempo esperando rever o juiz para lhe agradecer, mas estar atraída por ele representava um ciclo vicioso. Não queria ser a garota tola e carente de antes. Estava totalmente absorvida pela atmosfera que não percebi haver outra pessoa naquela cantina até sentir a mão dele em meu ombro.

— Espero não estar atrapalhando o flerte – O juiz demoníaco falou atraindo a nossa atenção. Não me virei, mas isso não impediu que o juiz sentasse ao meu lado e começasse a encarar Lian. – Sabe que ela é jovem, Não é Lian? – Perguntou com uma voz ligeiramente autoritária. – Eu ficarei realmente triste se perdesse o emprego por se envolver com ela.

— Não fale como se eu fosse uma criança – Acabei Respondendo por reflexo ao encará-lo. Encarar o juiz poderia demonstrar que eu estava pronta para desafiá-lo quando na verdade fazia aquilo por curiosidade. Eu queria ver as suas reações. – É apenas o meu chefe e não o meu pai.

— Se eu fosse o seu pai, estaria na cadeia agora – Sorriu atrevido ao olhar para os meus lábios. – Além do mais, já está na hora de trabalhar. Vamos – Se levantou e esperou que eu fizesse o mesmo. Não consegui encarar Lian ao me despedir. Eu estava com vergonha. Vergonha por ter cedido ao juiz e vergonha por sentir algo por ele. Andamos em silencio pelos corredores até entrar em sua sala, assim que passei pela porta escutei a fechadura. Ele havia nos trancado – Parece que me beijar não é suficiente. O que tanto lhe atrai nele? – Perguntou fazendo com que eu o encarasse perplexa. Não estávamos em um relacionamento para ele se comportar daquela forma, mas talvez para ele, estivéssemos.

— Você é apenas o meu chefe, velhote. Não temos nada e não preciso lhe dar satisfações da minha vida.

— Isso é verdade – Admitiu sorridente – Mas a única que fica me olhando e segurou a minha gravata foi você. – Sorriu Extremamente convencido ao andar em minha direção, e daquela vez o encarei sem hesitar. – Já beijou ele?

A incredulidade devia estar estampada na minha cara ao olhar para o sorriso irônico em sua face. Aquele juiz demoníaco estava querendo destruir a minha vida.

— Acredita que eu seja tão fácil assim?

— Falei algo sobre isso? É natural querer sentir alguém. Abraçar e beijar. Não sou tão antiquado, mas estou querendo perguntar se ele é melhor do eu.

— Isso é algum brincadeira?- Murmurei incrédula ao vê-lo parar em minha frente. – Não se atreva – O advertir assim que ele sorriu ao colocar suas mãos em minha cintura e outra em meu pescoço. – Não faça isso – Pedi ao olhar para seus lábios.

— Não farei se me der um motivo logico para isso.

— É o meu chefe.

— Sou, mas me odeia?

Não respondi. Eu não tinha como odiar o homem que havia me salvador.

— Não odeio.

— Então qual o problema? – Perguntou ao aproximar nossos rostos.

— O problema é que nada irá sair disso. Você está apenas curioso comigo. O que quer que esteja sentindo não é nada além de curiosidade.

— Sabe o que estou sentindo mais do que eu mesmo. É realmente uma pessoa interessante, garota rebelde. – Sorriu antes de me beijar e eu como uma tola, me vi correspondo aos seus beijos. Agarrei seu cabelo assim que senti suas mãos em minhas costas.

Eu estava caindo em tentação pelo demônio.

— Hoje vamos sair depois do trabalho – Disse próximo ao meu ouvido – Quero te levar a um lugar.

Eu deveria fugir dele.

Eu sabia que nada de bom sairia daquilo, mas simplesmente não consegui negar. Eu estava completamente perdida. 

CONTINUA...

MAISON [ Concluído] Where stories live. Discover now